segunda-feira, outubro 22, 2007

Adeus, Albergue

- É estranho!





Eu disse pro Matias ontem, enquanto estávamos sentados na mesa da cozinha.Eu olhava tudo, tentando gravar mentalmente cada detalhe, para poder lembrar um dia, daquele ambiente que foi palco de algumas histórias da galera.Eram 2 horas da manhã e o resto do pessoal tinha ido embora.





Uma lágrima corre pelo rosto do Matias.Os homens já tem essa mania de não chorar.Chorar na frente de um amigo então, pior.Mas eu e o Matias já choramos juntos, e acho que ele não ficou constrangido com aquela lágrima:





-Eu não sei Dé...As festas,loucuras e pessoas que passaram por aqui...Não é tudo sabe...Existe mais por trás.





Eu sabia em parte, sim.Sabia por que sentia algo parecido.Toda a baderna que nós fizemos no albergue,era apenas uma parte.Penso assim porque, quando olho pra trás, são os pequenos momentos que me marcaram.As conversas, as risadas, os almoços de sequela num domingo de sol.Filmes,música, violão entre amigos.





O albergue, pra quem não sabe, é a casa do Matias onde sempre nos encontramos no final de semana.Muita gente já passou por lá, só pra tomar uma cerveja.Outros foram muitas vezes.Outros, estavam sempre lá.Eu sou um deles.





Ontem, sentado com ele, tomando a última cerveja, foi um desses momentos que marcam.Legal que ele tenha acontecido.Legal porque era, provavelmente uma despedida.Algumas horas antes, o velho do Matias, ligou dizendo que conseguiu vender a casa.Venderam o albergue pessoal.Que pena.





Eu e o Matias ficamos por ali mesmo.Perdi a noção do tempo.Ficamos apenas lembrando e comentando sobre tudo que conseguíamos recordar.Era bastante coisa e eu não tinha me dado conta.O albergue viu muitas coisas.





Eu sei que não foi a última noite.Teremos alguns finais de semana a acabaremos indo lá.Mas não será tão real.Acendi um cigarro:



-Matias...tu te ligou que agente ja conversou pra caralho aqui.Nós dois.trocando idéia sobre a vida...e tamo aqui de novo.Provavelmente pela última vez.





Silêncio.Tempo suficiente pra mim terminar o cigarro.Nenhuma palavra.Acho que nós dois estávamos pensando sobre isso.Lembrando, imaginando, não sei.Olhei mais uma vez e decidi ir embora.Levantei da mesa e o Matias me acompanhou até o portão.



-Falow Mati.É isso aí cabeça.fica firme!

-Falow meu bruxo....nos falamos...



Botei as mãos no bolso e fui.O Matias puxou a gaita e começou a tocar.Que viagem.Parecia o final de um filme,com trilha sonora e um fim melancólico.Uns 50 metros depois,eu ainda podia ouvir a gaita.Me virei.Vi o Mati escorado na parede, tocando.Olhei pro albergue.Espero que as pessoas que compraram façam daquele lugar também um palco de boas histórias.Que eles consolidem amizades, se divirtam e aproveitem a vida como a galera fez.





Ergui o braço em direção ao Matias.Dei um sorriso, ele sorriu e continuou tocando.Que sensação.É difícil descrever.Uma paz interior.Eu estava triste com tudo mas parecia não importar.Temos amizades muito fodas que nasceram ou fortaleceram lá.Usaremos outro lugar de palco para fazer nossa história.Dei meia volta.Uma lágrima caiu dessa vez pelo meu rosto também.Enxuguei ela e sussurrei:

















-Adeus, Albergue

2 Comments:

Blogger nikieseuboné. said...

a mesma lágrima que correu no Dé e no Mati, provavelmente foi a mesma que ocorreu em mim agora, nesse exato instante, 11:30 da manhã em plena terça-feira, ainda mais no trabalho. Sorte ninguém estar aqui no Laboratório para ver a lágrima, eles com certeza nao iriam entender o porque disso tudo. ninguém pode entender o que o albergue já passou, o que nós passamos junto dele. é foda ter uma noticia assim sem aviso prévio no meio da semana. Tudo que aquelas paredes já viram ouviram e sentiram, daria um livro com certeza. é como se toda a Borracharia perdesse um patrimônio quase que histórico desde que essa galera está junta. Mas é a vida, os pais do mati com certeza sabem o que fazem e vão dessa pra uma melhor. E pra nós só resta aguardar a "votação" de um próximo albergue para podermos reviver todos os momentos que se passaram nesse que foi a referencia de todos históricos acontecimentos da BORRACHARIA.

10/23/2007 11:41 AM  
Anonymous Anônimo said...

¨Quando não podemos voltar atras, temos que imaginar o melhor jeito de seguir em frente...¨
MM

10/28/2007 1:52 AM  

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