Copo vazio, vida vazia
Na mão direita, ele girava um copo de scotch vazio.Na direita, segurava um cigarro queimando sozinho.Seu olhar distante, era comparável com o vazio daquele copo.Acho que assim era sua vida.Vazia.
Eu trabalhava há tempo demais neste lugar quando aquele cara começou a sentar na mesa do fundo.Faziam uns 4 anos que ele parava por ali.Tempo suficiente pra mim ficar curioso e descobrir quem diabos era ele.Danton Viegas.Era assim que ele assinava seus quadros, como um que eu tinha lá em casa.Não sabia o nome verdadeiro dele, mas sabia que ele era o pintor daquele quadro.
HÁ quatro anos, ele passou a sentar ali porque esperava por uma mulher que o deixou.Sentava e olhava nesse horizonte distante, esperando que um dia ela fosse aparecer, e dizer que a espera havia terminado.Os primeiros meses foram cafés e cigarros.Depois ele passou para as doses de whisky.Parece que antes ele fazia arquitetura.Acabou largando e começou a pintar.De alguma maneira as pessoas gostaram dos quadros.Ele vendia um a cada mês e aquilo sustentava seu aluguel,comida, cigarros e a conta do bar.Era o suficiente.
Eu ficava intrigado com aquelas cenas diárias.Eram algumas horas que pareciam ser as horas mais agoniantes e incertas que alguém podia passar.Num lugar bem distante, ele ainda tinha esperanças, mas ficava sentado lá,olhando e girando seu copo vazio.Vazio como o seu olhar.
Achei que talvez seria legal tentar falar com ele.As pessoas já estavam acostumadas com aquela mesa e aquele cara.Mas ele simplesmente pareceu virar um objeto inanimado ali.As pessoas passavam,olhavam e seguiam em frente:
- Fala cara...Olha só, eu tenho um quadro teu!Queria dizer que admiro muito a tua arte.
- Porra, legal.Paga uma dose de whisky então.Mas acho que tu não devia ter gastado tua grana com alguma coisa que eu tenha pintado.
Tirei meu avental.Olhei pro chefe e disse que estava fora."Chega de trabalhar nesse bar".Peguei uma garrafa de Jack Daniels e disse pra ele descontar dos meus direitos.Peguei um copo e me sentei com ele.
-Olha só o cara.Parece não ter muito gosto pra arte, mas aprecia um bom whisky.
Ele disse isso.Serviu uma dose,tomou, serviu meu copo e voltou a se servir.Fiquei olhando pra ele.Por trás das olheiras, da barba e do cabelo despenteado ele parecia ter uma aparência legal.Mas tinha esse olhar.Um olhar que me lembrava alguma coisa.Acho que era o quadro.O quadro tinha aquela solidão também.Uma vez eu li algo sobre Danton Viegas.Um jornalista pediu quem ou quais eram as inspirações de sua obra.Ele disse que a única coisa que lhe inspirava era sua solidão.Foi a partir dela que ele começou a pintar.Foi a partir dela que ele começou a viver de forma boêmia.
-Porque tu fica sentado aqui cara?
-Eu fico sentado aqui, pela mesma razão que tu acredita em deus ou qualquer outra merda dessas.Eu acredito em algo.E fico sentado aqui da mesma forma que tu fica sentado no banco da igreja, rezando por algo que talvez nem exista.
-É...mas pelo que eu sei, tu acredita em algo concreto, em algo que você pode fazer algo pra mudar...Uma vez eu vi essa frase em algum lugar..."a melhor maneira de realizar um sonho, é acordando".
Danton Viegas esvaziou o copo.Tornou a se servir e ficou me olhando, reflexivo.Acendeu um cigarro:
-Sabe cara...É estranho tu me falar algo assim.Eu também vi esses dias, em algum lugar, um cara que falava que as pessoas são sonambulas quando estão acordadas, e estão despertas quando estão dormindo.Talvez eu apenas esteja sonhando, só não sei se estou dormindo ou acordado.
-Pode ser...pode ser.
Ficamos ali.Olhando um para a cara do outro.Eu tentava entender mais uma vez alguma coisa nele que me era familiar.Não só o olhar,mas as idéias e as expressões.Vi uma sombra se aproximando e logo me virei.Era o dono do bar.Meu "antigo não tão antigo" chefe.Ele era um cara legal e talvez eu tenha sido impulsivo demais.Mas ele tinha uma personalidade bondosa e me olhava naquele momento com um certo carisma.Ou pena...não sei.Tirou o charuto da boca e disse:
-Ei...Acho que tu precisa ir pra casa...E pode voltar amanha.Não precisa pedir demissão só pra ficar uma tarde bebendo whisky e falando sozinho.
Olhei para a frente e fiquei um bom tempo mirando meu reflexo na parede espelhada.Danton Viegas não estava mais ali.Acendi um cigarro e na mão direita girava o copo vazio de whisky.Um vazio que me lembrou este que eu sentia naquele momento.
Não sabia mais quem eu era.Um pintor boêmio ou um garçom de bar.Talvez fosse os dois, ou nenhum deles.Uma voz sussurrou em meu ouvido:
-Ei rapaz...acorde...tá na hora de realizar seus sonhos...
Me levantei da mesa e fui em direção à porta.Olhei para trás.Danton Viegas e o garçom estavam lá, terminando a garrafa de whisky.Pensei em me juntar a eles, pois parecia o mais fácil.Mudei de idéia.Deixei os dois falando sobre sonhos não realizados, acordei e fui realizar o meu.
BY dream is destine
Eu trabalhava há tempo demais neste lugar quando aquele cara começou a sentar na mesa do fundo.Faziam uns 4 anos que ele parava por ali.Tempo suficiente pra mim ficar curioso e descobrir quem diabos era ele.Danton Viegas.Era assim que ele assinava seus quadros, como um que eu tinha lá em casa.Não sabia o nome verdadeiro dele, mas sabia que ele era o pintor daquele quadro.
HÁ quatro anos, ele passou a sentar ali porque esperava por uma mulher que o deixou.Sentava e olhava nesse horizonte distante, esperando que um dia ela fosse aparecer, e dizer que a espera havia terminado.Os primeiros meses foram cafés e cigarros.Depois ele passou para as doses de whisky.Parece que antes ele fazia arquitetura.Acabou largando e começou a pintar.De alguma maneira as pessoas gostaram dos quadros.Ele vendia um a cada mês e aquilo sustentava seu aluguel,comida, cigarros e a conta do bar.Era o suficiente.
Eu ficava intrigado com aquelas cenas diárias.Eram algumas horas que pareciam ser as horas mais agoniantes e incertas que alguém podia passar.Num lugar bem distante, ele ainda tinha esperanças, mas ficava sentado lá,olhando e girando seu copo vazio.Vazio como o seu olhar.
Achei que talvez seria legal tentar falar com ele.As pessoas já estavam acostumadas com aquela mesa e aquele cara.Mas ele simplesmente pareceu virar um objeto inanimado ali.As pessoas passavam,olhavam e seguiam em frente:
- Fala cara...Olha só, eu tenho um quadro teu!Queria dizer que admiro muito a tua arte.
- Porra, legal.Paga uma dose de whisky então.Mas acho que tu não devia ter gastado tua grana com alguma coisa que eu tenha pintado.
Tirei meu avental.Olhei pro chefe e disse que estava fora."Chega de trabalhar nesse bar".Peguei uma garrafa de Jack Daniels e disse pra ele descontar dos meus direitos.Peguei um copo e me sentei com ele.
-Olha só o cara.Parece não ter muito gosto pra arte, mas aprecia um bom whisky.
Ele disse isso.Serviu uma dose,tomou, serviu meu copo e voltou a se servir.Fiquei olhando pra ele.Por trás das olheiras, da barba e do cabelo despenteado ele parecia ter uma aparência legal.Mas tinha esse olhar.Um olhar que me lembrava alguma coisa.Acho que era o quadro.O quadro tinha aquela solidão também.Uma vez eu li algo sobre Danton Viegas.Um jornalista pediu quem ou quais eram as inspirações de sua obra.Ele disse que a única coisa que lhe inspirava era sua solidão.Foi a partir dela que ele começou a pintar.Foi a partir dela que ele começou a viver de forma boêmia.
-Porque tu fica sentado aqui cara?
-Eu fico sentado aqui, pela mesma razão que tu acredita em deus ou qualquer outra merda dessas.Eu acredito em algo.E fico sentado aqui da mesma forma que tu fica sentado no banco da igreja, rezando por algo que talvez nem exista.
-É...mas pelo que eu sei, tu acredita em algo concreto, em algo que você pode fazer algo pra mudar...Uma vez eu vi essa frase em algum lugar..."a melhor maneira de realizar um sonho, é acordando".
Danton Viegas esvaziou o copo.Tornou a se servir e ficou me olhando, reflexivo.Acendeu um cigarro:
-Sabe cara...É estranho tu me falar algo assim.Eu também vi esses dias, em algum lugar, um cara que falava que as pessoas são sonambulas quando estão acordadas, e estão despertas quando estão dormindo.Talvez eu apenas esteja sonhando, só não sei se estou dormindo ou acordado.
-Pode ser...pode ser.
Ficamos ali.Olhando um para a cara do outro.Eu tentava entender mais uma vez alguma coisa nele que me era familiar.Não só o olhar,mas as idéias e as expressões.Vi uma sombra se aproximando e logo me virei.Era o dono do bar.Meu "antigo não tão antigo" chefe.Ele era um cara legal e talvez eu tenha sido impulsivo demais.Mas ele tinha uma personalidade bondosa e me olhava naquele momento com um certo carisma.Ou pena...não sei.Tirou o charuto da boca e disse:
-Ei...Acho que tu precisa ir pra casa...E pode voltar amanha.Não precisa pedir demissão só pra ficar uma tarde bebendo whisky e falando sozinho.
Olhei para a frente e fiquei um bom tempo mirando meu reflexo na parede espelhada.Danton Viegas não estava mais ali.Acendi um cigarro e na mão direita girava o copo vazio de whisky.Um vazio que me lembrou este que eu sentia naquele momento.
Não sabia mais quem eu era.Um pintor boêmio ou um garçom de bar.Talvez fosse os dois, ou nenhum deles.Uma voz sussurrou em meu ouvido:
-Ei rapaz...acorde...tá na hora de realizar seus sonhos...
Me levantei da mesa e fui em direção à porta.Olhei para trás.Danton Viegas e o garçom estavam lá, terminando a garrafa de whisky.Pensei em me juntar a eles, pois parecia o mais fácil.Mudei de idéia.Deixei os dois falando sobre sonhos não realizados, acordei e fui realizar o meu.
BY dream is destine
2 Comments:
o loko.....do caralho em piá....mto loco
é lindo. simplismente lindo e reflexivo. diz tudo.
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