terça-feira, janeiro 22, 2008

Já passavam das 11 horas da noite. E lá estava ele, deitado no chão, pernas em cima de sua cadeira com sua velha vitrola tocando Snalth and the Spoontangs, um ritmo blues bem legítimo do norte dos EUA, com seu sotaque que não deixava errar. Volume alto, e uma bolinha de borracha jogando de uma mão para outra. Movimento repetitivos, barba por fazer, cabelo bagunçado e pensando. Era dono de uma empresa prestadora de serviços. Ele era Engenheiro com Doutorado em Israel, um dos maiores centros tecnológicos do planeta. Havia se formado não num Universidade Federeal como é o sonho de todo formando idiota de ensino médio. Tinha feito uma faculdade normal, particular e pequena. Desprovido de mulheres e grupinhos matando aula todos os dias. Quando fez o vestibular, entrou no pátio da faculdade e pensou:

- Caralho, se eu passar aqui vai se muito massa.....vô sai pra da uma volta e vai te um monte de gente matando aula, vo conhece um monte de gente, meninas, e esquece aquela.....aquela.........guria..

Entrou na sala do vestibular, em meia hora a prova estava resolvida. Esperou mais uma hora para o tempo mínimo esgotar e foi para a praia, sentou num bar e pediu uma cerveja:

- Provinha ridicula, puta que pariu....ainda tive que acorda cedo num domingo pra ii faze aquela babaquisse. Droga....

Ele era privilegiado de uma personalidade completamente diferente e uma mente brilhante. No auge de seus 45 anos, naquele escritório, seu dedo sem aliança mostrava que ele era um cara bem diferente. Morava numa kitnet no centro da cidade, ouvia um bom e velho rock 'n' roll, não tinha uma mulher carinhosa que podia chamar de esposa quando chegasse em casa, nem filhos que pulariam no seu colo quando ele abrisse a porta. Sua obsessão e a falta de coragem de desistir de alguma coisa, fizeram-o a mente mais brilhante que sua faculdade já teve. Quando entrava, fazia a diferença.

Seu modo arrogante e irônico de ser, deixavam seus sócios a beira da loucura. Odiava ser bajulado, tinha pavor de puxa sacos. Era só um louco apaixonado por descobrir o exato PORQUE das coisas. Trabalhava com pesquisa e desenvolvimento. Tá certo que era o dono da sua empresa, não tinha nada que estar fazendo trabalho braçal, mas achava idiota colocar um terno uma grava e sapatos desconfortáveis e discutir sobre planos de ações, desenvolvimento e essas besteiras. Seu negócio era descobrir porque seus projetos não funcionavam de primeira. Vasculhava linha por linha das placas, testava resistor por resitor, cada capacitor, fonte, linhas de códigos. Ele não tinha limites. Sua obsessão fazia ultrapassar qualquer coisa. Mas como um bom ser humano, sabia que as coisas não vinham assim do nada. Era preciso uma inspiração. Seguia o raciocínio que " pessoas inspiradas podem fazer a diferença". Trabalhava de bermuda, camiseta, as vezes até chinelo, isso o fazia uma pessoa melhor, não feliz, mas satisfeita. Quando não era seu dia, abria sua coleção de LP's, ecolhia um blues ou um rock, colocava em sua vitrola e ficava viajando na música, pensando, pensando, pensando, até que inconformavelmente do nada, a resposta vinha. Ele podia estar no banho, durmindo, ou no banheiro...mas ela vinha, de força esquisita, mas vinha. Saia de casa na mesma hora, ia para seu laboratório e fazia o circuito funcionar. Claro que não de primeira, porque apesar da mente brilhante, nada é tão perfeito assim. Uns ajustes aqui, outros ali....e sua equipe de idiotas chegava na manhã seguinte discutindo o projeto e quando iam testar para verificarem onde pararam, ele funcionava. E assim foram, longos 20 anos de trabalho nas bacandas de desenvolvimento. Nada de se preocupar com bolsa de valores, crise econômica estas babaquisses. Sua equipe tinha ódio dele, não inveja por sua mente brilhante, mas por sua arrogancia e ironia. Fazia perguntas absurdas, sem nexo algum. Mas no fundo, depois de tudo resolvido, os babacas da equipe entendiam o significado das perguntas.

E depois de tanto tempo, sem ninguém, aturando um bando de idiotas, já passava da meia noite e estava apenas na 5 faixa do LP de Snalth and the Spoontangs quando sentiu sua perna dormente, subiu para os braços. Sentia dificuldade de respirar. Veio o calor, seus olhos começavam a doer. Estava sufocando, ali em seu escritório, ouvindo seu melhor LP. Num lapso de uma pequena lembrança, viu lá na frente que havia deixado o problema do últinmo circuito eletrônico de sua vida, escrito no quadro do laboratório. Sentiu uma raiva interna, pois os idiotas da sua equipe, que se diziam ótimos, não seriam capaz de decifrar o que estava escrito. Eram bitolados, e ele não tinha conseguido atingir seu objetivo antes de morrer, que era conseguir fazer daqueles babacas, ótimos, quase perfeitos. Não aguentava mais, a respiração foi ficando cada vez mais fraca, o olhar se perdia no infinito, foi ficando cada vez mais escuro, seu braço não conseguiu mais segurar a bolinha.Estava completamente paralisado. Largou-o e morreu ali, sozinho, sem ninguém. Sua arrogancia o levou a isso, muito sucesso, sem familia com uma coleção invejável de LP's.

nikieseuboné

1 Comments:

Blogger escritor da zona said...

boto fé nesse guri!
hehehehehehe
abraço niki!

1/28/2008 12:22 PM  

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