Noite fria
Silêncio. Ele podia ouvir apenas a respiração dela. O mundo havia parado, e nada mais existia além deles, deitados no quarto barato de hotel. Ela era dona do sorriso mais lindo e da voz mais bela. E ele queria dizer isso, para o resto de suas vidas. Ela levantou. Pegou o dinheiro que estava em cima da cômoda, sussurrou algumas palavras, e saiu.
Ficou deitado algum tempo, observando o mundo voltar ao normal, escutando novamente o som dos carros e das pessoas. Sua mente estava completamente distante, absorta nos mais profundos pensamentos.Levantou e acendeu um cigarro. Da janela, viu ela debruçada na janela de um carro qualquer, entrando em seguida e partindo mais uma vez.
Calmamente, vestiu-se. Peça por peça, deve ter demorado uma hora. Pegou a arma que estava debaixo de seu travesseiro, o sobretudo que estava pendurado na porta, e saiu.
Havia um bar ao lado, onde ele comprou uma garrafa de Gim. Fazia muito frio e perguntou para ele mesmo porque não havia colocado mais um par de meias. Detestava ter os pés gelados nas noites de inverno. Tomou um gole generoso da garrafa, e saiu noite adentro, no velho Chevette 83.
Rodou a cidade inteira, procurando algo que nem ele sabia o que era.Ou, achava que não sabia.
O frio fez a bebida descer bem. Tudo estava melhor agora, tirando os pés gelados. As noites frias de inverno, são admiravelmente belas. O céu limpo e as estrelas brilhando, centenas de pontos distantes que talvez nem existam mais. Saiu do carro e tentou contá-las. Não parecia notar o vento cortante que batia em seu rosto. Ficou apenas contando, 1,2,3...
Entrou num bar, e negociou uma garrafa de whisky importado, por um preço razoável. Entrou no carro e parecia feliz, mas na verdade, era indiferente a tudo que estava acontecendo. Bebeu meia garrafa na frente do bar, dentro de seu Chevette, e muita coisa aconteceu nesse meio tempo. Um casal feliz passou por ali fazendo promessas e sonhando. Um mendigo se arrastava de tanto frio, e blasfemava dizendo "deus isso e deus aquilo". Um cachorro mijou no poste e seguiu seu caminho. O céu limpo deu lugar a nuvens carregadas. E ele terminou o whisky, ligou o carro, e partiu.
Todos pareciam inquietos naquela noite, como se algo grandioso estivesse para acontecer. Ele não tinha noção de horas, mas já era bastante tarde. Mesmo assim, as pessoas continuavam pelas ruas. Andando, bebendo e esperando o que quer que fosse. Ele já estava bêbado o suficiente.
Parou na frente de um prédio velho. Uma espécie de hipnose tomou conta de seu corpo. Como naquele momento em que se vestiu no quarto de hotel. Fazia cada coisa, passo a passo. Como se o tempo não importasse. Tinha um objetivo mas não tinha consciência dele. Saiu do carro e não parecia mais estar bêbado. Nem sequer cambaleou. Abriu a porta daquele prédio. Contou 46 degraus. Parou na frente da porta do apartamento 38.
Entrou. Ela estava dormindo e não havia mais ninguém. Ele sentou numa cadeira e a observou.
"Você tem o mais belo sorriso, e a mais bela voz" , ele disse baixinho, uma dezena de vezes. Pegou o revolver, levantou e mirou na cabeça dela.
Naquele mesmo momento, muita coisa aconteceu. O casal feliz decidiu se divorciar. O mendigo morreu no relento. O cachorro achou um pedaço de carne no lixo. E a chuva desabou sobre a cidade inteira, lavando a alma de tudo e de todos.
Silêncio, o mundo parou mais uma vez. E agora deitado, ele ouvia apenas o coração dela, parando aos poucos. Nada mais existia, apenas o TUM TUM, TUM TUM, TUM , TUM ,TUM..........
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Escritor da Zona
Ficou deitado algum tempo, observando o mundo voltar ao normal, escutando novamente o som dos carros e das pessoas. Sua mente estava completamente distante, absorta nos mais profundos pensamentos.Levantou e acendeu um cigarro. Da janela, viu ela debruçada na janela de um carro qualquer, entrando em seguida e partindo mais uma vez.
Calmamente, vestiu-se. Peça por peça, deve ter demorado uma hora. Pegou a arma que estava debaixo de seu travesseiro, o sobretudo que estava pendurado na porta, e saiu.
Havia um bar ao lado, onde ele comprou uma garrafa de Gim. Fazia muito frio e perguntou para ele mesmo porque não havia colocado mais um par de meias. Detestava ter os pés gelados nas noites de inverno. Tomou um gole generoso da garrafa, e saiu noite adentro, no velho Chevette 83.
Rodou a cidade inteira, procurando algo que nem ele sabia o que era.Ou, achava que não sabia.
O frio fez a bebida descer bem. Tudo estava melhor agora, tirando os pés gelados. As noites frias de inverno, são admiravelmente belas. O céu limpo e as estrelas brilhando, centenas de pontos distantes que talvez nem existam mais. Saiu do carro e tentou contá-las. Não parecia notar o vento cortante que batia em seu rosto. Ficou apenas contando, 1,2,3...
Entrou num bar, e negociou uma garrafa de whisky importado, por um preço razoável. Entrou no carro e parecia feliz, mas na verdade, era indiferente a tudo que estava acontecendo. Bebeu meia garrafa na frente do bar, dentro de seu Chevette, e muita coisa aconteceu nesse meio tempo. Um casal feliz passou por ali fazendo promessas e sonhando. Um mendigo se arrastava de tanto frio, e blasfemava dizendo "deus isso e deus aquilo". Um cachorro mijou no poste e seguiu seu caminho. O céu limpo deu lugar a nuvens carregadas. E ele terminou o whisky, ligou o carro, e partiu.
Todos pareciam inquietos naquela noite, como se algo grandioso estivesse para acontecer. Ele não tinha noção de horas, mas já era bastante tarde. Mesmo assim, as pessoas continuavam pelas ruas. Andando, bebendo e esperando o que quer que fosse. Ele já estava bêbado o suficiente.
Parou na frente de um prédio velho. Uma espécie de hipnose tomou conta de seu corpo. Como naquele momento em que se vestiu no quarto de hotel. Fazia cada coisa, passo a passo. Como se o tempo não importasse. Tinha um objetivo mas não tinha consciência dele. Saiu do carro e não parecia mais estar bêbado. Nem sequer cambaleou. Abriu a porta daquele prédio. Contou 46 degraus. Parou na frente da porta do apartamento 38.
Entrou. Ela estava dormindo e não havia mais ninguém. Ele sentou numa cadeira e a observou.
"Você tem o mais belo sorriso, e a mais bela voz" , ele disse baixinho, uma dezena de vezes. Pegou o revolver, levantou e mirou na cabeça dela.
Naquele mesmo momento, muita coisa aconteceu. O casal feliz decidiu se divorciar. O mendigo morreu no relento. O cachorro achou um pedaço de carne no lixo. E a chuva desabou sobre a cidade inteira, lavando a alma de tudo e de todos.
Silêncio, o mundo parou mais uma vez. E agora deitado, ele ouvia apenas o coração dela, parando aos poucos. Nada mais existia, apenas o TUM TUM, TUM TUM, TUM , TUM ,TUM..........
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Escritor da Zona
4 Comments:
boh
q massa
Definitivamente um belo texto!
me surpreendes.
adoro.
bó. capta muito a atenção esse texto, mais que os outros, é envolvente. muuuuito bom.
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