quinta-feira, junho 12, 2008

Teorias conspiratórias, sobre um croquete de rodoviária

Ele estava sentado, olhando para um ponto fixo. Fazia isso para conseguir inspiração. Os momentos criativos dele surgiam assim. Batia o pincel com um ritmo linear nos joelhos, e cantava uma velha canção dos Beatles. Fazia horas que estava assim. E era sempre a mesma música.



Blackbird singing in the dead of night


Take these broken wings and learn to fly


All your life,


You were only waiting for this moment to arise


Blackbird, fly


Blackbird, fly



De repente, escuta aquele barulho tão temido, de alguém chegando perto da porta. O piso de madeira do corredor, era extremamente velho e barulhento, e ele pôde ver uma sombra surgir por debaixo da porta. Detestava ser interrompido.

Toc Toc


Abriu a porta com cautela. Deu uma olhada, e enxergou Mago. Mago era um cara extremamente rejeitado pelas pessoas. Tinha conversas que não agradavam, idéias que não agradavam, e uma careca extremamente avantajada, para um rapaz de 25 anos. Na verdade, o nome dele era Magnos, mas parece que o irmão meio débil mental dele, não sabia pronunciar um nome tão fácil, e acabou ficando esse apelido. Muitos apelidos idiotas vêm da infância, e normalmente têm uma história idiota. Danton Viegas, no fundo, achava Mago um dos caras mais interessantes que o visitavam, embora não demonstrasse muito bem:



-Puta que o pariu.



-Viegas. Que prazer orgásmico!



Mago entrou, e ficou andando pelo apartamento. Pegou um livro e começou a ler, como se estivesse em casa. Danton não se importou, e voltou à sua busca de inspiração. Magnos ficou olhando para o pincel.



-Hey Viegas. Como vão os quadros?



-Na verdade, não tenho pintado. Estava justamente buscando inspiração, até ver essa sua cara feia entrar em meu apartamento. E você. Tem usado sua criatividade para algo mais útil do que bater uma bronha?



-Ultimamente, não.



-Caralho, preciso de uma verveja.



-Eu pago, por estragar seu momento de inspiração.



-Okay!

Foram até o bar da rodoviária. Era o mais perto, e eles estavam cansados. Sentaram, e pediram uma cerveja. Danton Viegas, tomou um gole gelado, e levantou. Voltou com um guardanado engordurado, envolto num croquete de rodoviária.

- Caralho Viegas, tu tá louco?

-Como assim, Mago?

-Tu tá ligado naquela piada? De que a semelhança entre um croquete de rodoviária e a mulher do delegado, é que se voce comer, morre?

-Sinceramente, nunca ouvi.

- Mas é sério. Hoje é uma piada. Mas começou aqui. O primeiro cara que comeu um croquete daqui, morreu Viegas!

- E tu vai começar com esses papos? É por isso que as pessoas se afastam de ti! Tu sempre pega uma idéia vagabunda e transforma em verdade.

- Tô te falando, caralho.

Os dois ficaram olhando para o croquete. Para ser bem sincero, Danton Viegas ficou desconfiado. Mago, parecia ter certeza do que estava falando. Arregaçava os olhos, toda vez que Viegas ameaçava pegar o croquete.

- Olha. Pára pra pensar um pouco. Tu já viu alguém comer um croquete aqui? É o tipo de coisa que todos sabem, mas não falam. Essas merdas ficam nessa porcaria de estufa uns 3 meses, até não poderem ser comercializados. E aí eles jogam fora, e fazem outros desses croquetes assassinos.

- Porra meu, tu precisa é fazer análise.

Permaneceram ali, e o croquete estava intocável. Parecia respirar gordura, aquela coisa nojenta. Tomaram 7 cervejas e estavam bêbados. Bateu a fome. Viegas deu um suspiro, e falou:

- Vamos apostar que eu como essa porra?

- Nunca. Não tenho nada como garantia.

- AH. Eu não preciso disso também.

Danton Viegas disse isso, e deu uma bela mordida naquele bolo de carne. Mastigou com uma vontade imensa. Mordeu outra vez, e outra vez, e acabou com o croquete. Deu um belo sorriso, e arrotou.

- Tu tá fudido - falou Magnos.

Ficaram ali mesmo, conversando e dizendo bobagem. Acabaram esquecendo a história do croquete que mata. Tomaram mais 7 cervejas. Ficaram amigos do dono do bar. Danton Viegas disse que teve uma inspiração para um quadro. Mago falou que teve uma inspiração para bater uma punheta. Os dois riram, e cada um foi para seu lado.

Viegas, pisou nas tábuas daquele corredor barulhento de seu apartamento, e passo a passo, chegou em frente à sua porta. Enfiou a chave na fechadura. Empurrou a porta, e entrou. Olhou para tudo. Estava tudo em ordem. Tudo no seu devido lugar.

Serviu-se de um trago de conhaque. Tomou em um gole. Estava alcoolizado. As coisas giravam e não faziam sentido. Serviu-se mais uma vez. Tomou em um gole. Caiu.

Estava caído, e pensava. Teve uma retrospectiva de sua vida, passando como se fosse um filme. Foi criança. Jovem, rebelde e louco. Começou a ler Bukowski, Nietsche e Aldous Huxley. Perdeu a virgindade, escutou Beatles pela primeira vez. Ficou louco de novo, depois lúcido, se perdeu nas drogas. Começou a pintar, foi compreendido, e ganhou dinheiro. Que vida louca.

Conseguiu levantar-se da posição que estava. Andou em direção à cozinha e conseguiu erguer a garrafa de conhaque mais uma vez. Serviu um copo cheio dessa vez. Bebeu em um gole, de novo. Botou um pijama. Fumou um charuto. Deitou na cama. Cruzou os braços. Fechou os olhos, e morreu.

2 Comments:

Blogger Unknown said...

porra, adorei, dé!
mas acho que o lance é falar sobre hemorróidas, fica a dica.
ahaha

6/15/2008 8:41 PM  
Anonymous Anônimo said...

por essas e outras que eu num como carne.. aueiuaeiou

2/17/2009 11:42 PM  

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