quarta-feira, agosto 20, 2008

O que nos faz HUMANOS?

Estou feliz, pois a minha indignação demonstrada no último post que escrevi, não parece ser só minha. Recentemente, tive conversas e digamos, quase discussões sobre esse mundo e essa sociedade cada vez mais sem sentido. O Renan(o cara sem nome, citado em vários posts desse blog), é um dos que me faz sentir mais tranqüilo, pois percebo que não estou sozinho. Recebi um texto que ele escreveu, e estou tendo a perspicácia de postá-lo no blog, junto com um toque pessoal, pois muitas coisas vieram à minha cabeça quando li esse texto. Antes de qualquer coisa, peço perdão ao cara sem nome, pois estou fazendo isso sem o seu consentimento. Porém, acredito que ele vá entender.Vamos ao texto:

AS IMPECÁVEIS E INCONVENIENTES VERDADES CIENTÍFICAS



“Um macho vê uma fêmea, suas glândulas endócrinas reagem, seu cérebro recebe sinais, que provocam uma sucessão de gestos; o encadeamento de causa e efeito leva à cópula. O cérebro humano interrompe o processo, fazendo intervir um emaranhado de causalidades que impedem a concretização do ato. O jogo dos órgãos sexuais tão bem aperfeiçoados pela natureza sofre alterações; outros órgãos vêm juntar-se ao processo, principalmente, o cérebro, que fornece sua carga de lembranças, emoções, proibições, projetos, imaginação. A cópula deixa de ser central, não passa de um detalhe, ou até um pretexto, para desencadear uma torrente que alguns chamam de “amor”.

Trecho do livro: Filosofia para não filósofos de Albert Jacquard.



“A perfeita igualdade entre os indivíduos que compõem as tribos da Terra do Fogo deverá retardar-lhes, por muito tempo, a civilização. (...) Atualmente, o simples pedaço de tecido que se dá a um índio é rasgado em mil pedaços para contentar a todos, nenhum ficando mais rico que o outro.”

Trecho do diário de Charles Darwin, escrito a bordo do Beagle, durante a expedição à América do Sul.



Creio que não exista nenhuma arma mais mordaz para golpear nossos sentimentos, emoções e expectativas do que a razão e a ciência. Um mundo mágico é tão facilmente explicado e destruído... Os clássicos de Shakespeare podem tranqüilamente ser analisado por uma óptica psicológica e os devaneios e dúvidas imortais do príncipe Hamlet tornam-se frias e banais.
Durante o curso da história a ciência vem magistralmente solucionando as mais sombrias e inatingíveis dúvidas desta trajetória. A cada descoberta nos encontramos um passo mais perto da verdade, cada avanço esclarece tantas dúvidas que estavam ainda obscuras. Essa razão, tão impiedosa e inquestionável, brilhantemente nos dá a verdade e é capaz de acabar com uma expectativa, sonho, ou fantasia num piscar de olhos.
Aristóteles afirmava, por volta de 300a.c. que a alma se alojava nos espaços vazios do coração. A expressão “saber de cor” é justamente proveniente desta “descoberta”. Significaria que o indivíduo soubesse “de coração” o conhecimento. Herófilus de Alexandria, seu contemporâneo, sustentava que o verdadeiro domicílio da alma estava nas cavidades do cérebro. Tão brilhante, tão impecável, o inglês Thomas willis, no século XVII propõem que existem três funções principais no cérebro (sentidos, razão e memória), e que dependem da parte cavernosa da massa cinzenta. O conceito de alma já é expulsa para a área da metafísica.
Durante a antigüidade os gregos deram nomes às sensações que misteriosamente provinham da alma humana: ódio, amor, inveja, ciúme, compaixão, etc...Tanto que, ao contrário do cristianismo, seus deuses são moldados à imagem do próprio homem e possuem características baseados nesses sentimentos. As tragédias gregas (Édipo Rei, Electra, etc...) eram peças de teatro manifestadas em plena praça das cidades e eram todas essas misteriosas emoções personificadas nesses eventos.
Hoje temos, como no trecho do livro de Jacquard, explicações científicas e racionais para todos sentimentos. A “torrente chamada de amor” seria apenas um estágio anterior à cópula. A paixão somente seria então uma expectativa por vivenciar as emoções requisitadas por nosso instinto com o parceiro sexual. Nesta área, o fundador da psicanálise Sigmund Freud, é capaz de explicar as neuroses e os comportamentos humanos facilmente pelas influências psico-sexuais retidas no inconsciente. Brilhante! Ou seja, parece que somos animais um pouco mais desenvolvidos que os demais e pelo jeito só queremos satisfazer nossos instintos, que por sua vez, são mascarados pelo que nós mesmos chamamos de sentimentos.
Mas a verdade mais inconveniente é com certeza a de Darwin. A sua teoria da seleção natural faz os anseios humanos murcharem. Os seres mais adaptados sobrevivem, os fracos perecem e com isso a espécie vai se fortalecendo. No trecho de seu diário escrito acima pode ver-se claramente como a cientificidade é perigosa. Uma coisa é explicar nosso comportamento, outra é basear nossos comportamentos através disso. Uma comunidade fraterna pode facilmente dissolver-se para almejar chegar a dita “civilização” proposta por Darwin. De acordo com esta teoria a espécie humana está enfraquecendo e regredindo, porque estamos fazendo uso da medicina e da ciência para beneficiar o homem. O homem não esta sendo alvo da seleção natural como seus antepassados, ele esta burlando, pois a medicina está salvando os seres mais fracos e assim não permitindo uma seleção totalmente natural. Assim, ironicamente o lado mais humano da ciência, a medicina e o gesto de salvar vidas através dela, encontra uma contestação na própria razão científica.
É engraçado como em nossos dias as pessoas tentam cavoucar qualquer vestígio de explicação além do saber científico. Hipóteses sobrenaturais, parapsicológicas, intervenções alienígenas, e até mesmo planos de novas ordens mundiais para dominar o mundo. Tudo isso para quebrar essa frieza, a monotonia e o pré-determinismo da ciência, pois acreditar em todas essas descobertas tira a expectativa da maioria das pessoas. A verdade de que nascemos de uma explosão, moramos na periferia da via-láctea, não temos notícia de outros seres vivos e somos descendentes de macacos é de tirar o sono. É dura e fria.
Mas a ciência é a verdade e devemos nos entregar à seus dados. Ou não? Gostaria de ter certeza de que não somos somente animais, que temos alma e que não somos só comida de minhoca. Existem ainda pequenas dúvidas para a humanidade timidamente cavoucar e elaborar algumas hipóteses fantasiosas. Bons tempos aqueles em que o Sol girava em torno da Terra...


Renan

Cara, terminei de ler isso, e fui direto para meu quarto, procurar um texto que eu tinha lido no primeiro semestre da faculdade. Matt Ridley - O que nos faz humanos.

Esse texto(tirado de um capítulo do livro de Ridley), tinha me deixado um tanto incomodado, mas na época eu era um pouco mais tímido na faculdade, e infelizmente, fiquei quieto.Parafraseando um tal de Tom Insel, tentarei dizer aonde quero chegar:

"Uma hipótese viável é que a ocitocina liberada durante o acasalamento ative os locais límbicos ricos em receptores de ocitocina, conferindo um valor de reforço duradouro e seletivo ao casal"

O que é a ocitocina? Bem, ela é um hormônio. Tentarei explicar, uma explicação vinda de um leigo no assunto, portanto, não me aporrinhem o saco se estiver simples demais.Este hormônio, tem como principal função(junto com outro hormônio, chamado vasopressina), regular a quantidade de água e sal no nosso corpo. Porém, ele exerce também, funções na fisiologia reprodutiva.Contração muscular no útero durante o parto, secreção de leite dos dutos mamários, essas coisas. Onde quero chegar com isso? Esperem mais um pouco.

Matt Ridley, conta que fizeram alguns experimentos com ratos. A injeção intracerebral de vasopressina e ocitocina no cérebro dos coitados, provocou um comportamento de acasalamento. E mais tarde, fizeram o mesmo, com uma espécie de roedores, os arganazes-do-campo. Esses ratos, têm uma característica rara entre os mamíferos. Tanto a fêmea como o macho, cuidam dos filhotes por várias semanas.

Uma outra diferença, é que seus receptores moleculares de ocitocina, estão em maior número que nos demais roedores, então o hormônio em questão, estimularia muito mais os neurônios receptores.

Após esse experimento, observaram um comportamento com características monogâmicas, com preferência por um parceiro e agressividade em relação a outros ratos.OK, estou quase chegando lá.

A ocitocina, é produzida num número muito maior, durante o ato sexual e o orgasmo. E ainda, está associada com memória social, e conseqüentemente(na conclusão desses "inteligentes" cientistas), à paixão e o amor. Portanto, como somos mamíferos e possuímos a ocitocina e a vasopressina, estamos inclusos nesse contexto.

Então, no mundo científico(claro que existem mais experiências e alegações, mas estou tentando ser direto), a ocitocina é conhecida hoje, como o hormônio do amor. Lindo. Já temos o hormônio da felicidade(serotonina) e todas as soluções para a tristeza, as famosas pílulas anti-depressivas.

Não é triste? Os sentimentos mais puros e complexos serem resumidos à química cerebral? Daqui a pouco, poderemos amar, rir, chorar,sorrir ou gritar de alegria a qualquer hora. É só pedir uma receita ao médico!

Sem falar que experimentos com ratos, não me dizem nada! Somos humanos! Seres sociais, culturais e raciais! Onde está a subjetividade, a racionalidade e a alma?

É por isso que me familiarizei com o texto escrito pelo Renan. A ciência, anda fazendo milagres e descobrindo curas. Mas está acabando com nossa esperança. Estamos sendo resumidos a meros animais, sem alma e sem sentimentos. Tentam PROVAR a existência de deus(ou seria melhor, a inexistência dele?), para que não tenhamos mais nada em que acreditar!

E o título do livro de Ridley, "O que nos faz Humanos". Humanos? Essa ciência está é nos transformando em robôs. Já temos que nos submeter a 8 horas de trabalho sem sentido, fazendo coisas que enriquecem apenas alguns, e agora o resto de nosso tempo "livre", é movido por questões meramente orgânicas. Ora, caiam na real! Essa evolução, está mais para regressão. Estamos ficando loucos,alienados,frios, por causa desse sistema sustentado pela ciência e pelo dinheiro.

Renan, acho que devíamos ir para a praça, filosofar e perguntar para as pessoas sobre o sentido da vida. Do jeito que andam as coisas, eu confesso que estou confuso.

4 Comments:

Blogger Renan Müller said...

que consentimento cara!
usa e abusa!
me sinto muito ótimo pela consideração de ter postado o texto no teu blog!
valeu mesmo

8/20/2008 4:58 PM  
Blogger M. said...

MASSA PRA CARALHO!
Tanto o texto do Renan quanto o teu post, Dé! =)

8/20/2008 5:10 PM  
Blogger nikieseuboné. said...

MASSA PRA CARALHO! [2]

meus amigos são os caras!

8/20/2008 11:47 PM  
Blogger Unknown said...

mas hein, vomitando crítica científica e português refinado!
cês tão-que-tão, gurizes.

8/21/2008 12:17 AM  

Postar um comentário

<< Home