Fazia um bom tempo que eu não conversava com o Fernando (aquele cara do livro roubado). Nessa semana, nos encontramos por acaso, e conseguimos bater um papo.
Todos que assim como eu, gostam de ler Bukowski, mantêm comigo uma relação que gosto de definir como peculiar. O Fernando é um desses caras.
Nossos papos nunca duraram muito, em meio a correria dos corredores da Unisinos e da vida, mas sempre sai uma boa conversa. Falamos sobre a vida, sobre escrever, sobre ler Bukowski, Fante, essas coisas. O papo termina num consenso de que qualquer hora dessas devemos marcar uma cerveja por aí. E assim, cada um segue seu rumo.
Eu estava dizendo para ele, que faz um bom tempo que não leio livros que não são da psicologia (bem, não como antigamente), e tenho me dedicado mais aos estudos. Mas isso me traz uma limitação criativa.
O fato é que minha vida anda bastante diferente, e eu não escrevo mais sobre isso. Há dois ou três meses atrás, não imaginava que estaria vivendo como estou agora. Morando sozinho em São Leopoldo, cortei a barba, o cabelo, comprei um tênis de marca, larguei alguns vícios e adquiri outros. São coisas que me fizeram pensar.
Eu estava na fila enorme de uma lotérica para pagar parte do aluguel. Comecei a observar as pessoas. Naquele dia, a pálpebra do meu olho direito estava com algum problema, pois ficava tremendo e aquilo me deixava extremamente irritado. Eu me sentia desconfortável e inquieto. As pessoas também estavam assim.
A maneira que os funcionários desses locais falam, as placas, os avisos, me lembram uma linguagem informatizada. Tudo é dito de uma maneira extremamente objetiva e clara, como um comando de computador que não pode ter erros ou informações desnecessárias. Uma linguagem binária.
dinheiro ou cheque?
a vista ou a prazo?
sim ou não?
Caixa destinado a gestantes e idosos
Caixa exclusivo para JOGOS
- Senhor. Pode passar.
Chegou a hora de ser atendido. A funcionária nem me olhou no rosto e por um instante, vacilei. Por trás daquele vidro, ela estava sentada, fazendo seu trabalho, "vivendo sua vida". Que espécie de vida ela tinha? Era casada, solteira, lésbica, santa? Quais os seus sentimentos, seus desejos, suas perspectivas?
- Senhor, a fila está andando.
- Desculpe. Gostaria de efetuar um pagamento.
-...
-...
- São R$ 94, 47.
- Sim.
- O senhor não terias R$ 0, 50?
- Não.
- Muito obrigada e uma boa tarde.
- Obrigado. Bom trabalho.
Voltei para casa e me senti vazio. Acho que isso tem um pouco a ver com a mudança. Ou com outros sentimentos. Ou com a funcionária da lotérica. Ela tinha olhos bonitos. Será que ela lia Bukowski?
Todos que assim como eu, gostam de ler Bukowski, mantêm comigo uma relação que gosto de definir como peculiar. O Fernando é um desses caras.
Nossos papos nunca duraram muito, em meio a correria dos corredores da Unisinos e da vida, mas sempre sai uma boa conversa. Falamos sobre a vida, sobre escrever, sobre ler Bukowski, Fante, essas coisas. O papo termina num consenso de que qualquer hora dessas devemos marcar uma cerveja por aí. E assim, cada um segue seu rumo.
Eu estava dizendo para ele, que faz um bom tempo que não leio livros que não são da psicologia (bem, não como antigamente), e tenho me dedicado mais aos estudos. Mas isso me traz uma limitação criativa.
O fato é que minha vida anda bastante diferente, e eu não escrevo mais sobre isso. Há dois ou três meses atrás, não imaginava que estaria vivendo como estou agora. Morando sozinho em São Leopoldo, cortei a barba, o cabelo, comprei um tênis de marca, larguei alguns vícios e adquiri outros. São coisas que me fizeram pensar.
Eu estava na fila enorme de uma lotérica para pagar parte do aluguel. Comecei a observar as pessoas. Naquele dia, a pálpebra do meu olho direito estava com algum problema, pois ficava tremendo e aquilo me deixava extremamente irritado. Eu me sentia desconfortável e inquieto. As pessoas também estavam assim.
A maneira que os funcionários desses locais falam, as placas, os avisos, me lembram uma linguagem informatizada. Tudo é dito de uma maneira extremamente objetiva e clara, como um comando de computador que não pode ter erros ou informações desnecessárias. Uma linguagem binária.
dinheiro ou cheque?
a vista ou a prazo?
sim ou não?
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- Senhor. Pode passar.
Chegou a hora de ser atendido. A funcionária nem me olhou no rosto e por um instante, vacilei. Por trás daquele vidro, ela estava sentada, fazendo seu trabalho, "vivendo sua vida". Que espécie de vida ela tinha? Era casada, solteira, lésbica, santa? Quais os seus sentimentos, seus desejos, suas perspectivas?
- Senhor, a fila está andando.
- Desculpe. Gostaria de efetuar um pagamento.
-...
-...
- São R$ 94, 47.
- Sim.
- O senhor não terias R$ 0, 50?
- Não.
- Muito obrigada e uma boa tarde.
- Obrigado. Bom trabalho.
Voltei para casa e me senti vazio. Acho que isso tem um pouco a ver com a mudança. Ou com outros sentimentos. Ou com a funcionária da lotérica. Ela tinha olhos bonitos. Será que ela lia Bukowski?
2 Comments:
o cara...to com saudade meu! bom saber que tu ja se mudo! cria vergonha nessa cara limpa agora e entra no msn uma hora dessas....daqui um tempo vo pra nova...vamo combina!abraço cara
às vezes vale a pena perguntar ;)
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