quarta-feira, abril 11, 2007

A PVT de um homem só.

Bastou apenas uma frase:
- Depois que eu voltar da praia a gente conversa, “amor”!* – E ele percebeu que além de não estar falando nem um pouco de brincadeira, naquele “amor”, muito irônico, já tinha percebido o veredicto final:
ELE NÃO TINHA MAIS NAMORADA. Ela tinha dito pra conversar depois dá praia só como pretexto para deixá-lo ainda mais agoniado, pois ela sabia que ele odiava isso.

Da parte dele nem tinha muito que falar também. Apesar de morarem um perto do outro, toda a cidade sabia que um era mais chifrudo que o outro, mas mesmo assim eles ainda se gostavam. Pelo menos era o que um dizia para o outro. Ele já sabia que mais cedo ou mais tarde iria perdê-la, mas não fazia um esforço se quer para melhorar o namoro ou algo do gênero. De uns quatro meses para frente, estava com o modo foda-se, ligado. Não dava mais satisfação de onde ia com quem ia que horas voltava e todas essas coisas que namorados falam um para o outro. Ele achava que não a perderia, porque se juravam amor eterno, essas coisas que são mais normais que procurar primeiro o bombom sensação na caixa da nestlé. Até que o tal dia chegou. O namoro acabou, ela foi e ele ficou. Estava feliz, mas ao mesmo tempo triste. Precisava urgentemente de algo para fazer. Mas o quê? Eis que ele olhando pela sacada da sua casa, no alto do morro, de frente para o mar, com um pátio imenso, cheio de arvores, podendo ver o nascer do sol com a paisagem mais perfeita que uma praia pode lhe oferecer, ele decide.

- Hoje a PVT é aqui em casa! – disse ele pensando em voz alta.

Estava sozinho em casa, vizinhos não existiam. Porém, nenhuns de seus amigos estavam por perto. Feriado de páscoa, todos foram viajar, menos ele, que sentia um grande desgosto por ter que passar um dia sem comer carne e ainda prometer a sua mãe que iria a missa, que demorava horas e horas a passar. Era um grande amante da música eletrônica e nada melhor que uma festa com somente ele para curtir, pensar na vida e ver o que iria fazer. Mas uma de suas qualidades, ou defeitos, era o perfeccionismo. Não conseguia ver algo feito pela metade. Seguia o estilo de que se era para fazer, preferia fazer bem feito e demorar mais do que fazer nas coxas e ter que fazer duas vezes. E essa filosofia ele seguiu para começar a festa. Caixa de som boas aliadas e um cabo auxiliar para conectar o computador já estava resolvido e a música garantida. Sua casa era grande e moderna. Sabia que sua mãe não iria sentir falta de alguns lençóis brancos. Pegou-os e fez desenhos psicodélicos com tintas que reagem com luz negra, estendeu o s lençóis pelo jardim, fez umas gambiarras para que as luzes chegassem até o pátio, estendeu uma rede em duas arvores que estava bem na ponta do pátio, bem onde o terreno acabava e ele tinha vista para todo o mar.

Já eram quase três da tarde, ele precisava comprar alguns apetrechos que faria a festa muito mais interessante. Bebidas, comidas e “outras cositas más”.

Seis horas da tarde, o sol já começava a se por no horizonte. Hora da festa começar. Músicas era algo que realmente não faltava. Um winamp com mais de 3000 músicas fariam sua alegria naquela noite. Luzes ligadas, lençóis refletindo a luz negra, música a todo o volume. Tudo calibrado para o inicio da noite.

Começou a curtir sua própria festa com sua própria presença. Cervejas e mais cervejas, muita música e um cenário completamente psicodélico. Tudo que ele precisava para colocar as idéias em ordem. Fazia perguntas a si mesmo que nem ele sabia a resposta e nem porque estava pensando naquilo. Valia mesmo a pena sofrer tanto por uma garota que ele não estava mais nem ai? Pensou nas coisas boas que passaram juntos, nas coisas ruins também, nas brigas e tudo que fez com que seu namoro chegasse aquele ponto. Pensava em tudo isso ao mesmo tempo em que bebia e dançava. Isso fazia muito bem para ele. Não pelo fato de estar ficando bêbado por conta própria, mas por poder estar sozinho, pensando na sua vida e podendo pensar em qual decisão tomar sem a interferência de ninguém. Pensou no seu relacionamento, sua vida na faculdade, no esporte, tudo que nos últimos anos o incomodou, ele deu um fim naquela noite.

Decisões tomadas, ficou mais aliviado. Deitou na rede e dormiu....

Pouco tempo depois, ele acorda com um farol de carro em sua cara

- Ah, mas que porra é essa? So que faltava se a policia ainda, ai me enforco num galho de alface.

Fechou os olhos para conseguir tentar reconhecer o carro. Nunca o tinha visto antes. Saíram quatro pessoas de dentro dele. Apavorados com a decoração, o som e o lugar. Antes que pudessem falar qualquer coisa, mais uma camionete e outro carro encostaram atrás e desceram mais umas 8 pessoas. Todas muito fascinadas com tudo aquilo.

-Pooooorrraaa meeeu. Nós vimos essas paradas muito locas lá da estrada e não agüentamos, viemos até aqui ver o que que tava rolando. Muito irado o lugar e a decor. Parabéns....ah, e prazer, Vitor! – disse um deles estendendo a mão e se apresentando.

- Valeu ai – disse ele um pouco sem jeito e assustado com a invasão

- Poo brother, mas tu ta sozinho ai? Cadê todo mundo?

- Sim, sim...to sozinho, meus coroas foram viajar e não tem ninguém da galera por ai.

- hmmmm....mas muito massa. Nós também curtimo e-music.- disse ele referindo-se ao mundo de gente atrás dele.

Só então que ele se ligou que aquilo era uma indireta do tipo “podemos ficar por ai também?”

- Bah galera, foi mal..nem me liguei...fiquem a vontade ai...to ainda um pouco assustado..hehehe

- hehehe, nós que pedimo desculpa cara, mas lá de baixo o visu ta muito massa, não tinha como não vim aqui conferir o que que era.

-Da nada, ali na geladeira tem cerveja e em cima da mesa, bom..dêem uma olhada lá – disse ele apontado para a mesa, o esmurrugador, o isqueiro....

E ali foram, até a hora do almoço do dia seguinte quando os “visitantes” decidiram pagaram um churrasco, já que tinham bebido toda noite de graça. Dali pode ter nascido uma grande amizade, graças ao bom senso de um e a boa vontade do outro.

PSYTRANCE: CONNECTING PEOPLE
*= créditos da frase à Rafaela da Silva =]