terça-feira, outubro 28, 2008

Pequenas historias curtas

(pessoal.desculpem eventuais erros. estou num pc sem alguns acentos e cedilia)

Ele estava deitado em sua cama, apesar de ser bastante cedo. Apenas esperando o sono chegar, pois não havia mais nada à fazer.Embora quisesse pensar diferente, sabia que provavelmente amanhã seria mais um daqueles dias. Um dia como qualquer outro. Sem amor, sem paixão, sem vida, sem porra nenhuma.

Mais um dia empacotando congelados de senhoras donas de casa, no mercado onde trabalhava. Nesse mercado tinha um cara chamado Gilnei, que fazia o mesmo trabalho que ele e era tão inteligente quanto uma barata.Mas era o querido de todos. E Matias tinha inveja disso.

Não era inveja por todos gostarem dele. Mas queria fazer aquele trabalho sorrindo e cantando, sem ter a consciência de que aquilo tudo era uma merda. Nao valia coisa nenhuma, não acrescentava absolutamente nada.

Tinha tambem o chefe, um careca de 1,60m que achava que sabia das coisas. As vezes Matias tinha que organizar os produtos nas prateleiras. E o careca chegava, baguncava tudo e ia embora. "bando de loucos".

Agora na cama, ele abria os olhos algumas vezes, e observava uma pequena aranha no teto. Imaginou como seria sua vida se fosse uma aranha. Um mundo tão maior e belo.

Era dificil dormir com aquela claridade. Havia um poste de luz bem na frente da janela, e as cortinas tinham estragado ha alguns meses. Mas ele não arrumou vontade para consertar, e perdia algumas horas de sono com aquilo tudo.

Resolveu levantar e fazer algo interessante. Abriu uma garrafa de vinho e acendeu um cigarro. O vinho não era la essas coisas, mas dava pra tomar. Tomou as duas ultimas garrafas de vinho num silêncio incomum.

Ao inves de ficar com sono, o vinho lhe trouxe à tona a gritante e assombrosa realidade. Não havia dinheiro nem amigos, espaco ou felicidade. Havia apenas ele e suas noites, em companhia apenas de alguns livros e musica.

Precisava andar. Vestiu um casaco, e saiu para comprar mais vinho. Dessa vez um vinho bom. Podia deixar de almocar por uns dias, mas dessa vez beberia um vinho bom. Entrou na rua dos andradas, e caminhou ate achar um bar para comprar cigarros. Não havia vinho, então continuou.

No Big tinha alguns vinhos chilenos em promocão. Comprou 5 garrafas por 40 reais, e ganhou um abridor de brinde. Depois de sair, sentou num banco para observar o movimento.

Eram mais ou menos 8 da noite, e passavam muitas pessoas por ali. Ele contou umas 100 por minuto. Foi ficando cada vez mais bêbado, e o numero de pessoas foi diminuindo. Caiu para metade, e foi ficando vazio.

Agora ja não passava mais ninguem. Alguns ratos andavam pelo lugar e uns mendigos dormiam, mas nada mais alem disso. A solidão o encontrou mais uma vez. Ela era seu doce e irreparavel destino.

Voltou para o seu apartamento com 3 garrafas de vinho, e a aranha continuava por la. Tinha construido uma teia no canto da parede, e provavelmente estava esperando alguma presa. Matias percebeu o quanto aquela pequena aranha era solitaria. Sentou e abriu mais uma garrafa. Brindou à sua companhia. "um brinde à você, dona aranha".

Ele queria ser que nem ela. Ela provavelmente não queria ser ele.

terça-feira, outubro 21, 2008

os dois lados

Muitas vezes (na maioria delas) ficamos por aí, fazendo nossas coisas e vivendo nossas vidas, anestesiados à tudo que acontece em nossa volta. Faz parte. É o que nos mantêm vivos.

Mas em alguns momentos, você vê e sente coisas, que te lembram algo: "hey, acorde. isso aqui está uma merda!".

E esses momentos (se voce souber aproveitá-los), são ótimos. Pelo menos pra mim. A indignação traz criatividade, e a criatividade me faz escrever, e essas coisas.

Tudo comeca, quando você tem que acompanhar essa história de política por mêses inteiros. Politicos dali, politicos daqui. Um monte de caras querendo uma cadeira no legislativo, pra mamar nas nossas tetas por 4 anos.

Mas o que mais me irrita mesmo, são os DOIS lados. Sempre existem DOIS lados.

Na política, eles tentam disfarçar. PMDB, PT, PSDB, PC do B... siglas diferentes, que terminam na mesma coisa: o lado esquerdo, e o lado direito. Nunca entendi porque ninguém consegue admitir que a coisa toda termina em apenas dois lados distintos. Um puxa saco dos operários, professores, funcionários públicos e jovens sonhadores da classe média por um mundo melhor. O outro, dos donos de pequenas e grandes empresas, ou pessoas que participam diretamente dessa coisa bonita que é o capitalismo(provavelmente, os pais dos jovens sonhadores de classe média por um mundo melhor).

Tudo bem, na prática da política não resolveria nada(e existe algo a ser feito para acabar com essa roubalheira?), mas pelo menos seríamos poupados dessa ladainha toda que temos que ficar vendo nas campanhas.

DOIS LADOS. DOIS LADOS. DOIS LADOS.

Ah, claro. Existem também os salvadores da humanidade. Aquelas pessoas que levantam de suas camas, depois de um sonho, peidam e descobrem uma solução pro planeta terra. Viram profetas, deuses, demônios. "devemos viver em paz, em harmonia, BLA BLA BLA".

BLA BLA BLA.

Isso não irrita vocês? Me irrita porque eles dizem coisas óbvias! Em todas as religiões, existem coisas semelhantes, como "agir com o próximo, da maneira que gostaríamos que agissem com nós mesmos". Não sei vocês, mas eu SEI disso. Temos noção do que é o certo, do que é o errado. As vezes cometemos erros, mas bem, a vida é isso.

Aí entram os dois lados. A ciência, diz: "existe um Deus?" "existe alguma comprovação empírica de que se você agir com os outros, como gostaria que agissem contigo, voce se dará bem?" "você já ouviu falar em teoria da Evolução?, os melhores sobrevivem, os maiores comem os menores?"

É a lógica ilógica que essa ciência criou para o nosso mundo. A ciência gerou toda essa coisaA lei da selva, devorem uns aos outros. Sem piedade, sem deuses, budas, ou qualquer outra coisa.

E o outro lado? Sempre tem o outro lado. A Instituição Igreja, seus fiéis e seguidores. Não consigo entender como é possível haver tanta hipocrisia por parte das pessoas que defendem a Igreja. Pessoas que estão dispostas a matar, querem que eu acredite que levam a sério essa coisa de amor ao próximo? Não falo só da Igreja católica. Vejam esses evangélicos malucos! Comprando jornais, estações de rádio e TV! ... e as igrejas são donas das grandes universidades. Pelo menos aqui no sul. Unisinos, Ulbra, PUC, UCS. Vocês repararam o quão fudido é isso? Os acadêmicos, os ouvintes de rádios, telespectadores da TV, submetidos à isso? Que maravilha. Provavelmente ficam rindo da nossa cara, brincando de deuses e bebendo vinho com o nosso dinheiro.

Eu não quero acreditar nesse tipo de gente. Não quero acreditar nesses falsos profetas que aparecem todo dia por aí. Uns vestindo ternos, outros trapos. Que se fodam! Eles e os dois lados. A direita e a esquerda. A ciência e a Igreja. Seja o lado que escolhemos, estamos fritos. Nas palavras de George Carlin, esse mundo já foi vendido, comprado e pago já faz bastante tempo. Nem deus, nem partido político nenhum mudará isso. Enquanto as pessoas não souberem que não existe algo maior além de suas mentes, suas consciências, e seus atos, bem amigos, lamento informá-los: estamos no mesmo barco. E esse barco está afundando num lodo imundo e cheio de merda, cada vez mais e mais.

OS DOIS LADOS.DOIS LADOS.DOIS LADOS.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Nada mal, para um tremendo filho da puta

Já passavam das nove horas da noite, no momento em que entramos na estação de trem do Mercado, em Porto Alegre. Eu me sentia embriagado. Não havia bebido nem nada. Acho que era aquele ar. Um ar de poluição misturado com aquele ritmo frenético das ruas de POA.

Eu estava cansado, e tinha milhões de idéias passando em minha cabeça. Sabem aqueles momentos que você tem tantas idéias, que não consegue chegar a conclusão alguma? Era mais ou menos assim. Me escorei numa das paredes do trem, e esperei ele partir.

Aquele dia havia começado estranho.

Tem dias que você acorda num humor engraçado. Tem dias que você acorda, achando tudo bonito e maravilhoso.

Nesse dia, eu acordei me sentindo um tremendo filho da puta. Não sei. Acordei, me olhei no espelho, e senti isso. O desemprego, as tardes inúteis, a falta de grana, provavelmente foram fatores que contribuíram pra que eu acordasse me sentindo assim. Você olha pro lado, pra frente, pras pessoas, e está tudo errado. Nada dá certo, nada está certo, e foda-se o planeta.

Tomei um banho, fiz a barba, comi um sanduíche e tomei um café. Entrei no carro do meu velho. Ele iria pra Porto Alegre, e eu estava aproveitando a carona, pra procurar um emprego por lá. A viagem, foi em completo silêncio. Nunca tive muito diálogo com meu pai. E não acho que seja algo que possa ser resolvido agora. Foi uma relação que criamos ao longo de minha vida, em quase completo silêncio.Só é dito o necessário.

Claro que recentemente, essa relação está ficando mais pesada. Você começa a desenvolver seus ideais, SUA maneira de viver. E os velhos estão cansados de ver você com a bunda gorda no sofá deles, comendo porcarias. Acho que é isso que está acontecendo por aqui. Acho que é isso que acontece em muitos lugares.

Eu trabalho desde os 16 anos. Já trabalhei em restaurantes, hotel, praia, e meu último emprego foi num hospital. Mas sempre tem aquela história. Não é o suficiente, nem pra mim, nem pra eles. Faculdade, comida, cerveja,cigarros. Sempre teve alguma coisa que eu não consegui pagar, e aí você fica com o cú na mão, sendo sustentado de alguma maneira pelos coroas. Me irrita, e provavelmente irrita eles.

Chegamos em Porto Alegre. Eu e meu pai nos despedimos, depois seguimos caminhos diferentes. Conforme o combinado, encontrei o Matias no Mercado Público.

O Matias alugou um quarto numa pensão. Ele me contou no caminho, que era difícil dormir naquele lugar sem ter um livro, e sem estar bêbado. Quando entramos, pude compreender.

O corredor era estreito e as paredes extremamente altas. Tinha um chão velho de madeira, que reproduzia todo tipo de som enquanto você caminhava. NHÉC.CROC.NHUUUU. Alguns bêbados vagando nos corredores e outra pessoas morrendo naqueles quartos. Tossindo, guspindo, morrendo aos poucos.

Entramos no quarto, e fumamos um cigarro, dividindo em silêncio, um espaço de 2 metros por 1, e uns 3 metros de altura. Só cabíamos eu, o Matias, a cama e um bidê. Haviam 2 garrafas de vinho, das duas noites em que ele dormira ali. Compreensível. Totalmente compreensível.

Hora de procurar um emprego. Pegamos nossas coisas, e saímos pela rua dos Andradas, entrando em algumas lojas, largando alguns currículos. Estava quente, nublado, movimentado. Nada agradável, pra quem tinha acordado se achando um filho da puta.

Tentei uma agência. Entrei discretamente, e sentei. Um velho, gordo e mal humorado, levantou de trás da sua mesa:

- hey. tu pegou uma ficha?

Olhei em volta, e não havia ninguém.

- não, senhor. já pego.

Ajeitei minha mochila, tirei um currículo da pasta, e peguei a tal ficha. Olhei pra ela. Número 14.

- número 13!

O velho gordo disse, e ficou sentado. Olhei em volta. Ainda não havia ninguém. Meio tímido, eu disse:

- senhor. o meu número é 14.

-então passa!

Até melhorei meu humor. Quando vejo pessoas mal-humoradas desse jeito, você vê como é um porre ser um cara de mal com a vida. Sentei-me em frente ao velho gordo. Sorri, me apresentei, e fui entregando o currículo.

- hmmmm. sim. hmmmm. é. tem algumas coisas erradas nesse teu currículo. eu não faria dessa maneira. trabalhou num hospital, sim?

- sim.

- na recepção, sim?

- sim.

- e porque não colocou que tem experiência em preenchimento de guias de convênios?

- bem. é algo muito específico. esse currículo é também para áreas de venda, lojas, qualquer coisa do tipo. preencher guias de convênios não é muito útil em qualquer lugar. não estou procurando emprego diretamente em hospitais, só porque tenho experiência nisso.

- sim. mas você tem experiência nisso, então?

- é. eu tinha que fazer isso no hospital.

- então devia ter colocado.

O cara tava me irritando. Porra, me coloquem no lugar desse cara, eu devo fazer melhor o trabalho que ele, e tenho ainda um pouco de educação com as pessoas. Continuei sendo bastante calmo com ele:

- o senhor está dizendo, que eu devo mudar meu currículo, e trazer aqui de novo?

- hmm. é. não. na verdade estou dando umas dicas. pro futuro, saca?

- sim.

- e eu tenho uma vaga. numa clínica. eles precisam de alguém que saiba preencher guias de convênios.

Foi rápido. Eu não esperava. O cara me pegou de surpresa com aquele lance de "tenho uma vaga". E logo pra alguém que "preencha guias de convênios".Eu tinha uma chance. E precisava responder rápido. Das 15 às 23 horas. Salário legal. Vale transporte e alimentação . Tem que pegar o ônibus tal. Era muita coisa.

- eu preciso responder agora?

- sim. e por favor. eu não quero perder o meu tempo marcando uma entrevista em vão.

- tá ok. pode marcar.

- ok. preencha esses papéis, e volte aqui na sexta-feira.

Preenchi e fui embora. Meio confuso e surpreso. Fiquei assim, até aquela hora em que eu e o Matias, entramos no trem. A viagem até a Unisinos foi mais longa do que o normal. A viagem da unisinos à Nova Petrópolis também. Milhões de idéias, nenhuma conclusão.

Chegamos, e tomamos uma cerveja. Duas cada um, na verdade. E ali ficamos, terminando aquele dia cansativo e inesperado.As vezes as coisas não dão certo. Às vezes, dão. Meu dia não havia sido tão ruim como eu esperava. Nada mal, prum tremendo filho da puta.



escritor da zona