quarta-feira, maio 20, 2009

Um sonho que tive

A mão estava apoiada na parede suja do banheiro, enquanto ele mijava. Sentiu um cheiro estranho.



- Existe a possibilidade desse cheiro nem existir. Ele pode estar sendo criado pelo seu cérebro. Alterações bioquímicas. Neurotransmissores. Alucinação.



A frase ficou ecoando dentro de sua mente, até um ponto em que ele não sabia diferenciar se estava dizendo aquilo em voz alta, ou era se era apenas um pensamento que parecia ter voz.



Você já teve a impressão de estar enlouquecendo? Quando fica difícil diferenciar o real, do imaginário? Ou o sonho, da vida desperta?



A paranóia parece tomar conta de todos. Em todo lugar existe conspiração! CONSPIRAÇÃO é a onda do momento. Na religião, nas instituições, no governo.



Medo+paranóia+loucura:



São 3 coisas que definem as pessoas de hoje. Ou você é doido, ou precavido e cauteloso (por ter medo), ou as duas coisas.



Depois de achar que estava enlouquecendo no banheiro, André lavou as mãos e tentou esquecer aquilo tudo. No apartamento onde estava, os amigos encontravam-se espalhados pelos cômodos, enlouquecendo em suas loucuras. Decidiu que não era hora de conversar com nenhum deles, e foi fumar um cigarro na janela.



Naquela rua silenciosa de Porto Alegre, poucos passavam àquela hora da manhã. Apenas bêbados e ratos. Ratos e bêbados.



O tempo não passava, os cigarros não acabavam, e durante toda a noite era possível enxergar um movimento constante na rua, mesmo que diminuído. Os poucos que André observava, estavam rindo, chorando ou gritando. Quantas dessas pessoas são reais?



Levantou e sentou no parapeito da janela. Olhou para baixo, enxergando o all-star verde pendurado no ar, 10 metros longe do chão. Deixou cair o resto de seu último cigarro, e ficou observando ele queimar aos poucos, até apagar por completo, sozinho na esquina daquela rua.



Apoiou-se nas bases da janela e conseguiu ficar em pé. Equilibrava-se para manter a posição, até que resolveu desistir.



Foi caindo.



Caindo.



E caindo.



Acordou e estava sentado na sua cama, no seu quarto, na sua casa. Foi apenas um sonho. Ou não foi?



terça-feira, maio 19, 2009

5 anos depois

Abril de 2004:

Campeonato Brasileiro de Downhill em São Vendelino, RS:

Pela primeira vez, eu estava indo treinar uma semana antes da corrida. Fato raro qnd toda a família é contra o esporte. Neste ano foi também que eu ganhei meu primeiro freio a disco hidráulico, presente do meu pai, o que era o "menos contra" a pratica do esporte. Pela primeira vez, tudo estava a favor, meu pai tinha uma camionete, que facilitava o transporte das bikes, a minha bike estava boa, e eu estava numa sequencia legal de provas. A corrente continuava caindo e eu ainda não tinha pneus para chuva, mas o resto ia de vento em polpa.

Chegando em São Vendel, eu e o Ximino "morfamos". Colocamos os equipamentos e roupas que nos faziam parecer os power rangers. Naquela época, um pegava coisa emprestada do amigo, vizinho, parente. Calça de uma cor, camiseta em cor berrante, cotoveleiras por cima da camisa, para que elas não escorregassem com a trepidação da descida, já que nosso biotipo não era dos mais avantajados, estavamos mais pra um chassi de grilo com aids, e olha lá. Ficava realmente uma coisa esquisita, camisa por baixo da cotoveleira, calça meio justa, kichute nos pés capacete e a bicicleta, mais colorida ainda que o próprio piloto.

Primeira descida, a que era para ser devagariiiinho, de reconhecimento da trilha, afinal, nós nunca tinhamos corrido lá, e se tratando de um campeonato brasileiro, ela deveria ser difícil para um piá de 14 15 anos.

Último na fila, pra não atrapalhar quem já conhecia a pista, la vamos nós....

Primeira parte um estradão, entrando no mato, fazendo a curva, entrando no mato de novo....passando as valetas, e aquele pessoal cada vez mais longe, não querendo deixar eles se afastarem muito, pedalei, uma pedra se atravessou na minha frente, a roda virou e eu também. Resultado: Cotovelo esquerdo quebrado.... revolta e bike vendida....

Maio de 2009

Campeonato Catarinense de Downhill em Nova Trento:

Pela primeira vez minha bicicleta tinha uma marca de nome, daquelas que a marca vale 70% do valor do produto. Pela primeira vez, eu tenho uma bicicleta que não é exatamente específica para a prática de downhill. Pela primeira vez eu vou participar de uma etapa oficial depois de ter quebrado o braço em São Vendelino.

Não fui daqueles atletas mais esforçados, que treinava todo o dia. Andava de vez em quando nos finais de semana na pista que nós temos aqui em Floripa, no Rio Vermelho. Eu ia mais pela diversão, pq realmente me faz bem andar de bike, posso ser o maaaais cu de arrasto sobre duas rodas, mas em cima da bike, eu so feliz e esqueço dos "pobrema". Todos de Floripa iam, o gordinho e o colombuxo também, o que era um bom motivo para não ficar com cãimbra um dia antes e desistir.

Sábado de madrugada, 6 da manhã, muito, mas muito frio. Minha bicicleta, duas mochilas, equipamentos e minha bicicleta. Teoricamente tudo o que eu precisaria pra ter um final de semana divertido e engraçado.

Duas horas depois, estava em Nova Trento, no Morro da Cruz, morfado e pronto para o reconhecimento da pista quilométrica. Primeira descida tranquila, logo no ínicio, por força da natureza, uma pedra caiu no caminho da trilha com as enchentes do ano passado, e como toda boa trilha, em vez de tirar a pedra de lá, use-a como obstáculo.

Tentando explicar o local, era uma pequena descida, chamada de DROP, seguida de uma curva leva para a esquerda e a tal da pedra. Teoricamente, teria que se pular a pedra, de aproximadamente um metro de altura, e fazer a curva no ar para continuar a descida. Como era a primeira vez, fui pelo by pass que tinha ao lado e continuei. Descia uma parte e como sabia que não tinha resgate lá em baixo ainda, voltava a pé um pedaço, descia de novo, esperava, via como os outros passavam, e via a melhor rota para a bicicleta. Chegando lá em baixo, bicicletas dentro do caminhão, e lá vamos nós 7,5km morro a cima dentro de um baú indo de um laaado para o oooutro.

Novamente lá em cima, começo uma nova descida, penso em pular o duplo do início, mas por recomendações desvio dele. Sigo em frente até chegar ao Drop antes da pedra.

Paro a bike, analiso....

Espero os outros descerem...

Passam 3 bicicletas no mesmo estilo da minha, sem suspensão atrás, e pulam a pedra...

Eu analiso novamente de longe...Todos passavam relativamente devagar ali, apenas davam uma puxada na bike, caiam na descida e continuavam...

Emoção já começa a subir e é então que vem a grande idéia "VOU PULAR TAMBÉM".

Enchi o pulmão, respirei fundo, dei duas pedaladas, quando cheguei perto de onde deveria puxar o guidão, vi uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma pedra. Era fato que a roda da frente cairia em cima da pedra, jogo o corpo para trás, mas não adianta, a bicicleta imbica novamente e como a recepção era em descida, eu cai uns 2 metros pra frente, em cima do ombro. Escutei apenas o barulho de osso quebrando. Levantei, coloquei a mão na clavícula esquerda e senti um degrau. Ela estava quebrada. Pedi para alguém pega a bicicleta, subi o morro, pois estava perto da largada ainda.

Chegando na barraca, com o braço direito segurando o pulso esquerdo sem muita dor, apenas um turbilhão de idéias passando pela cabeça.

Então começam as frases "É, teu negócio é computador mesmo"

"Quebro?"

"Cade a bike?"

"Vamo pro hospital?"

Vamo sim....

Raio-x tirado, clavicula bem quebrada, fim do sábado as 11 horas da manhã pra alguém que só queria se divertir, nem estava em seus planos um pódium, muito menos uma fratura. Mas quanto a fratura tudo bem, a Unimed paga. E quanto a vontade, tudo bem, só mais 3 meses parado. Pra quem ficou 3 anos, isso é dois palito.

Mas o importante é que eu continuo sendo feliz em cima da bicicleta, seja andando bem, em trilhas, ou indo na padaria. Se alguém não entende essa parte, que vá toma no cu.....