sexta-feira, maio 30, 2008

Minhocas e guaraná com gelo

Era um pouco estranho a maneira de como ele se divertia. Dividia sua semana planejada não em horas, manhã tarde e noite, momentos ou coisa parecida. Dividia ela em alguma coisa completamente diferente. Era uma mistura de tempo e espaço que ele não conseguia explicar. Fazia questão de não explicar. Achava legal essa diferença do modo de viver dele e das demais pessoas. Um dia da semana, ele pegava uma formiga de seu viveiro e seccionava ela em várias partes, documentando tudo em seu rádio gravador.



- Agora, dia 30 de fevereiro ( na divisão dele de tempo e espaço, fevereiro tinha 31 dias, ele estava no ano de 2123, seus dias eram de 30 horas, sendo 20 delas, no escuro e com 10 refeições por dia) estamos com uma formiga saúva, estou usando um alicate de corte da marca piergiacomnni de 5" e nesse exato momento 10% da formiga esta sendo cortada.



E então ele cortava uma das patas do inseto.



Com sua lupa e uma luz de led's apontada para sua "bancada experimental" ele separa a primeira pata do bicho e completa.



- Agora, podemos seguir em frente. 25% da formiga esta dilacerada. Retirando agora todos seus membros.



Passam - se 5 minutos....



- Neste instante, cortarei a cabeça da formiga e colocarei no formol para testes experimentais futuros utilizando minhocas com guaraná, ou whisky, não sei direito ainda. OK, 80% da formiga inutilizável...



- Momentos finais do seccionamento da formiga, finalmente a hora tão esperada. Com este bisturi que tirei do lixo tóxico do hospital da cidade, faremos um corte na sua bunda e veremos o que faz dela a maior bunda de todas as formigas e aparentemente sem utilidade alguma....



E assim que ele faz a circuncisão na bunda da formiga, um jato de gosma amarela é disparada contra seu rosto e um ser um pouco esquisito e cabeçudo sai de dentro daquela bunda. Ele usava uma aparelhagem tecnológica muito além da nanotecnologia. Algo parecido com aquele ETzinho que sai de dentro de uma pessoa no filme MIB, do cinturão de órion e tal...



- Aaaah seu viado filho de uma égua. Só tu mesmo pra desconfia do tamanho da bunda de uma formiga e quere investiga sobre isso, seu retardado. Toda minha comunidade estava muito bem nas suas respectivas bundas até tu começar a ter essa obcessão por bundas de formigas. Porra...Ta e ai, que que tu vai quere agora? nos come? tira fotos? sai por ai falando que tem um marciano dentro das bundas das saúvas?? Se liga né mané....tu já é todo errado, só falta pensa que alguém vai acredita se tu fala uma barbaridade dessas neh....mongolão - disse ele arregassando as mangas do seu moleton da oakley tamanho nanoscópico.



Ele com seu bisturi roubados ficaram imóveis escutando o sermão do etzinho....colocou o gravador mais perto afim de gravar a voz do verdinho..mas num golpe ao melhor estilo ciclope, dos x-men, o et baixa seu óculos de sol, também da oakley e sai um raio vermelho de seus olhos, explodindo o gravador.



O mané do bisturi nessa hora coloca a mão na testa de uma forma muito " fofa" e desmaia.

Alguns instantes depois, quando o et joga o rádio gravador na cabeça dele e ele se recompões, ele fala:

- T-T-T-tá, mas.....como q tu tem esse moleton da oakley e esse monster dog ai no rosto?

- Ah, pára né, a oakley patrocina toda nossa comunidade, ela tem um laboratório secreto dentro do nosso formigueiro e desenvolve produtos especiais para o nosso exército - disse o ser etênico.

- Meeeeu deeeuus...isso vai muito além de todas minhas expectativas..a oakley, minha querida oakley que eu sempre paguei pau, financiando pesquisas extra-terrestres, utilizando da mais alata tencologia nanotúbica pra desenvolver roupas pra esses vermes? Deve ser por isso que eles cobram R$100,00 num cinto, e R$900,00 num casaco de inverno, dai eles tiram os fundos pra essas pesquisas malucas!!!!QUE MASSA!!! Tá tá, mas o coisinha linda que o boi cago, qual a vantagem de fica na bunda de uma formiga? sei lá, tem tanto lugar melhor pra fica....magina que massa ia se fica na cabeça de um pássaro, ou um animal um pouco mais significativo que uma...formiga...

- Aaaaah, mas tu é muito idiota mesmo...se eu quisesse aparece, pendurava uma melancia no pescoço e subia no poste né o retardado...

- Hum...minha mãe fala a mesma coisa quando eu peço dinheiro pra compra minhas roupas xadrez e listradas...interessante....acho que deve te algum relação entre minha mãe e esses vermes...

- Claro, eu como ela quase todo dia, seu burro! E quem diria em....altas gostosa - disse ele esfregando as unhas no seu moleton para se gabar...

- Aaaah seu corno filho duma putaa... - disse ele avançando com o bisturi para cima do etzinho...até que....

- Hahahaha idiota, tu ainda não se deu conta? Quem tu acha que faz os efeitos especiais do ciclope do x-men e do carinha de fogo do quarteto fantástico? - disse ele depois de ter derretido o bisturi do maluco...

- Meeeu Braaasilll......

- Que que tu disse? BRASIL? ah não acredito que to nessa merda de país....sério?? pqp..tanto lugar bom pra mora e tinha que se justo aqui....

- É, pois é...mas dá um desconto, tamo em brasília, a capital do país.

- Brasil? Brasília, capital? É pelo menos o nome faz sentido.... ooo meu, é aqui o país daquele barbudo lá que só fez até quinta série, não tem um dedo e é presidente?

- É, esse mesmo...

- Hahahahahahaha...não é pra menos que tu é tão retardado assim então...

- Ele é meu pai.....

o et fez uma cara de surpresa daquelas tipo assim 0_o...

- hahahaha, mais explicado ainda então porque tu tá usando a camiseta virada, mongolão

- aaaah seu et viado do caralho, eu te mato...

- Não não amigo, ao contrário.....eu te mato...

Abaixou seu oakley e acertou em cheio na testa do rapaz que caiu para trás, morto, sem conseguir fazer seu experimento da cabeça da formiga mergulhado junto com minhocas e guaraná.
Durante a conversa com o ET ele até tinha decidido usar guaraná em vez de whisky. A guaraná é natural, já o whisky.....vai que a Johhny Walker também patrocina projetos ultrasecretos fornecendo bebidas tipo a poção gummy pra outros seres que se escondem dentro de animais, ou pessoas, ou sei lá o quê.


nikieseuboné.

A mesma merda de sempre

- Hey, escute o que eu estou falando. Enquanto eu acho que assim está certo, assim será feito, e pronto. Quando eu achar que tua cabeça infeliz possa fazer algo melhor, você fará.

Baixou a cabeça e foi para sua mesa. João Antunes, o cara da seção de cobranças, trabalhador infeliz, filho da puta.

Sentou e estudou alguns balanços, contas. Porque as coisas têm que funcionar assim? Ele estava sentado naquele escritório idiota, numa cadeira idiota, sendo comandado por um perfeito idiota, desempenhando papel de idiota.

Teve vontade de mandar a merda. Resolveu esfriar a cabeça. Nada que um bom café não resolva. Pegou sua xícara, encardida com várias manchas de café, que escorriam pelos lados, e foi para o refeitório. Uma mulher do setor de marketing, estava sentada lendo O Segredo. Ficou puto da cara, com esses livros que as pessoas andam lendo. Pessoas perdidas, tentando encontrar os diversos "caminhos". Pra que porra ele tinha que ter um caminho a ser seguido? Uma figura para idolatrar?

Ele tinha as mãos trêmulas, e a mulher da seção de marketing, observou a difícil tarefa que ele tinha para tomar um gole do café. Ela ficou assustada, quando a cara dele ficou vermelha de raiva, e saiu correndo, rezando para Bussunda ou Bunda, não lembro o nome que ela repetia.

Acalmou aos poucos. Era um dia difícil. Percebeu como estava fudido.Três meses de aluguel atrasados;R$330,oo numa loja de bebidas da R. Getúlio Vargas; R$100,00 no boteco do lado de casa."Nunca abram conta no boteco do lado de casa", ele sempre dizia."A pior merda que tem, é chegar em casa, puto da cara, e encontrar um barrigudo de bigode dono de boteco, cobrando a conta e estragando o prazer que é chegar em casa, depois de um dia de merda."

Saiu do trabalho, fumando um cigarro, e sentou na sua bicicleta amarela. Pedalou pela cidade, e viu as coisas de sempre. Nada de mais, nada de diferente, nenhum velho barbudo filosofando na praça, nenhuma pessoa inteligente.

Deu uma freada brusca, quando se deparou com um bêco. Ele nunca tinha percebido aquela ruela, estranha e solitária.Entrou ali. Agora andava, empurrando a bicicleta. Parou na frente de um prédio branco. Leu com atenção, um letreiro de neon, que piscava continuamente.

FILIAL Nº 137 DO INFERNO - DCA - Departamento de comercialização de almas.

Estacionou sua bicicleta naquelas coisas que se usam para estacionar bicicletas(me fugiu o nome,e estou com preguiça de pesquisar :http://www.google.com/). Por incrível que pareça tinha uma dessas coisas por lá.Entrou. Belo lugar. Aconchegante, climatizado, bem decorado. Viu algumas fotos emolduradas na parede. Riu quando viu uma foto da Xuxa e o seu Jaiminho, abraçados em frente à sede do Correio de Tangamandápio. Ele sempre soube que a Xuxa tinha vendido a sua alma, mas Jaiminho, o carteiro? Porquê?

- Hey, como funciona esse negócio?

-Boa tarde senhor. Que tipo de negócio o senhor está se referindo?

-Essa coisa de almas, cacete.

-Calma senhor, não precisa ficar assim, todo exaltado. Só não me pareceu clara, a sua pergunta.

Ele ficou puto. Serviu-se de um café, num daqueles copinhos minúsculos que só servem para dar VONTADE de tomar café, e ficou calmo. Deu um sorriso para a atendente, e fez um sinal para que ela proseguisse, explicando como funcionava todo aquele negócio.

-O senhor gostaria de vender sua alma, pagar para ter ela de volta(caso o senhor já tenha vendido em uma outra de nossas filiais), ou emprestar ela, e ganhar alguma grana de volta?

-Porra.Sei lá. To todo fudido. Acho que a opção é vender.

-Ok, preencha esse formulário, e aguarde.

Preencheu aqueles campos idiotas, e entregou.
- Aguarde um minutinho, senhor.

Aquela história de que um minuto no inferno, vale uma eternidade, deve ser válida em suas filiais também. Acho que esperou umas 5 horas. No meio disso, uma mulher de lingerie desfilou por uns 15 minutos na recepção. Parou quando um velho teve um ataque cardíaco. Os funcionários aplaudiram e um placar eletrônico anunciou de 501, para 502 mortos por "impaciência demasiada para esperar um atendimento". "Se isso matasse, os nossos postos de saúde seriam locais de genocídio", pensou.

-João Antunes?

-Presente!

-Entre, por favor.

Cumprimentou o cara que parecia ser médico, e entrou numa sala. Sentou-se. Respondeu milhares de perguntas. Quase dormiu. Peidou, arrotou, teve a entrevista mais longa de todos os tempos. Ficou PUTO.

Saiu de lá e foi em direção à atendente.

-Pode esperar, senhor. O resultado sairá em breve.

-Que porra de resultado?

-Nossa, o senhor é muito grosso.

55 copinhos minúsculos de café depois...

-Tá, desculpa. Eu estou esperando que espécie de resultado?

-Sua personalidade está sendo avaliada. Através de vários testes e perguntas, sustentados em teorias psicológicas. Veremos quanto vale sua alma. Quão ela é valiosa. Se você é um cara muito legal, bastante legal, ou só legal.

Estava abestalhado com a burocracia daquela merda toda. "Caralho, isso não é diferente de nada.É a mesma merda de sempre", pensou

Sentou e aguardou.Não aguentava mais ver aquela mulher falando. Dessa vez, não esperou muito. A mesma moça que o atendeu, gritou:

- João Antunes?

- Presente!

Parou na frente da moça. Ela o olhava com uma expressão indescritível. Decepção, vergonha, pena, eu não saberia dizer. Ele ia começar a gritar, quando ela continuou:

-Lamento muito informar senhor, mas a sua alma não tem valor nenhum para nós.

-Como não?

- Bem. O senhor já cometeu todos os pecados capitais. Desrespeitou 6 dos 10 mandamentos da igreja cristã. Desrespeitou uma série de princípios islâmicos. Come carne de vaca todo dia, e isso emputece os indianos. Nós não irritamos ninguém, efetuando a compra de sua alma.Nenhuma dessas pessoinhas que ficam no céu, querem que você vá para lá. Nas palavras do médico que o avaliou, "o Senhor João Antunes, o cara da seção de cobranças, trabalhador infeliz e filho da puta, deveria pagar para que não levássemos sua alma. E isso seria caro.Muito caro. ASSINADO: DR EVIL".

João baixou a cabeça. Estava cansado de ficar puto. Era difícil, pois, do jeito que estava, tudo era extremamente irritante.

-Mas, o senhor tem uma saída.Uma possibilidade.

-Diga, eu pareço mal na foto mesmo.

-Se tem uma coisa que Eles detestam, é uma alma perdida se salvar, e depois se perder de novo.

-E onde eu entro na história, dona moça?

-Nós lhe damos um empréstimo. Você corrige seus erros. Consegue um emprego decente. Faz essa barba feia. Dá um jeito na vida, sabe, essas coisas.

Ao mesmo tempo que falava, a moça foi colocando várias notas de 50 no balcão.

-O senhor aceita?

- Claro!

Assinou um contrato, um termo de responsabilidade, umas outras 15 folhas, e saiu com R$1500 reais para ajeitar sua vida e se tornar uma "alma comercializável". Entrou num bar novo que tinha inaugurado, bem perto de sua casa. Pegou R$1500 reais, e levou todo o estoque de whisky dos caras. Ele estava fudido. Fudido mesmo. Para que se importar, então?

Ninguém mais viu João Antunes no dia seguinte. Mas, eu posso garantir, que ele tomou um porre memorável no último dia de sua vida. Antes de virar pó. Pó de merda. A mesma merda de sempre.

By escritor da zona

quinta-feira, maio 29, 2008

Taffarel

-Alô.Alô. Renan?

-OOO cabeça. que que tá acontecendo? Que horas são?

-Cara. Seguinte.Liga pro Matias, e pede se é o Taffarel que tá falando.

-Que?

-Meu. É uma história que o cabeça tem de atucanação. Quando ele morava em POA. Volta e meia alguém ligava e pedia se era o Taffarel. E isso sempre acontecia. E agora, nós queremo pega ele. Ligae ae.Vai meu.

O Arthur desligou o celular e eu dei um sorriso."Acho que só eu escutei a conversa", pensei. Uma música do Falcão tocava no fundo. PROMETO NÃO EJACULAR NA SUA BOCA! O resto da música nada tinha a ver com o título. Mas Falcão é o cara.

Percebi a estranheza do meu ser. Porque alguém realmente gosta de escutar Falcão? Eu não sei.

O celular do Matias tocou. Pude imaginar a primeira coisa que seria dita. "Alô. Por um acaso, quem fala é o Taffarel?"

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-Taffarel? Que diabos porra. Quem é que é o MERDA que sempre me liga pedindo se é o Taffarel?

- TU TU TU TU TU TU

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Dei risada e me deitei. Estava numa cama entre o Matias e a Lê. O Adolfo fazia a trilha sonora, sentado no banquinho do PC. Agora tocava um funky. Tocava Too hot to Stop, do the bar keys. O Arthur, sentado na cadeira, descascava uma laranja.

E o resto, não lembro.

By escritor da zona

domingo, maio 18, 2008

Café, cigarro e introspecção

Eu estava sentado, na frente do computador, fazendo algumas coisas. Ontem, foi dia de tomar bomba, e tudo funcionava de uma maneira estranha. Para quem não sabe, bomba é uma mistura louca de cerveja escura,clara, coca-cola e conhaque. Uma bomba explodindo em sua cabeça, quase que literalmente falando.

Tive a habitual vontade de tomar café depois do almoço. Botei água para esquentar, duas colheres de café e duas de açúcar, numa dessas xícaras em que você sempre usa para tomar café. As vezes, quando você não acha a tal xícara, chega a ficar irritado. Costumes estranhos que temos, mas não quero falar sobre isso.

Para mim, é um ritual bastante frequente. Café, cigarro e introspecção.

Tomei um gole do café quente, e automaticamente acendi um cigarro. Comecei a pensar. Logo, avistei o Arthur, vindo de longe com aquela cara de quem estava junto tomando bomba. Usava uma botina preta, e uma camisa polo listrada. Pensei em falar " hey, estou na minha instrospecção!", mas ele não entenderia e eu falei a segunda coisa que veio na minha mente:

-E essa camiseta de playboy?

-Playboy? Não sei, as vezes uso pra trabalhar.

Nos cumprimentamos e falamos qualquer coisa. Combinamos de dar uma volta por aí. Troquei de roupa, peguei 3 garrafas de água, e seguimos adiante. Por sorte, o Renan ligou a tempo, e pegou a carona e a terceira garrafa de água.

Dentro do carro, eu estava pensativo. A humanidade, transformou o mundo numa coisa complexa, a ponto de não fazer mais sentido. Fazemos coisas que não precisamos, lemos coisas que não queremos, somos quem não queremos ser. Eu percebia a simplicidade de certas coisas, dentro daquele carro.

A estrada, cheia de curvas, tinha um visual maravilhoso. Dezenas de Plátanos acompanhavam o nosso caminho.As folhas do plátano no outono são lindas. Avermelhadas, frágeis e simples. Tudo aquilo sempre esteve ali, e eu apenas não tinha percebido. Fechei os olhos, e parecia escutar as folhas caindo.

Visitamos a galeria de um cara, chamado Flávio Scholles. Ele tinha centenas de quadros, espalhados por uma casa antiga. Era simples, e falava com orgulho de cada quadro. Tinha uma camiseta branca, com manchas de tinta, e um cavanhaque interessante. Parecia um clichê saído de um filme qualquer. Nos falou sobre os nomes,as histórias, os significados. Pendurado na parede, estava o quadro que ele orgulhosamente denominava "o quadro que fala".

-Essa é a forma de linguagem universal. A língua escrita e falada se restringe cada vez mais. Os vários idiomas,sotaques e gírias, vão limitando nossa comunicação. Se um outro povo, de outro mundo, viesse parar aqui,é assim que teríamos que falar com eles...

Ficamos os 3, olhando para aquele quadro. Foi uma bela definição. Admirei por duradouros segundos, aquele quadro que falava. Era uma moça, loira, sentada de uma maneira estranha, com uma cuia de chimarrão. "olá quadro que fala" "olá rapaz louco que fala com quadros"...

Seguimos adiante, numa estrada que tinha um estilo familiarmente europeu. Olhei para os vales, as casas e as pessoas. Reparei num casal de velhos, sentados na varanda de casa. Tomando um chimarrão, eles tinham um olhar profundo e melancólico. Lembravam do tempo em que as pessoas acreditavam em coisas reais. Sentados naquela varanda. Parecia que sempre estiveram ali, e permaneceriam até o fim da humanidade.

Chegamos numa represa. Descendo alguns barrancos e umas escadas, nos encontramos num paredão estreito, e à nossa frente, surgiu uma impressionante queda d'água. Um vale imenso completava o fundo. Era extremamente alto, e eu gravei aquela imagem única dentro de minha cabeça. Nenhuma foto poderia refletir isso. Os amigos e a sensação que aquele lugar me trouxe. Em silêncio, escutávamos a natureza. O cair da água, o vento. A fumaça do meu cigarro se dispersou, e minha mente a acompanhou. Espalhando-se pelo ar, flutuando.

Fomos embora, e fiquei quieto o restante do caminho. Tomamos uma cerveja em Gramado e continuamos. Cheguei em casa. "oi mãe, oi pai". Tomei um banho, comi nuggets com bisnagas, e fui fazer um café. Tomei um gole do café quente e automaticamente acendi um cigarro. Fechei os olhos, e me vi andando numa estrada, cheia de plátanos. Com suas flores avermelhadas de outono, tão frágeis e simples, como a vida deveria ser.



By escritor da zona

PS: se quiserem conhecer o cara do quadro que fala,é só ir até Santa Maria do Herval, ou visitem o site www.fscholles.com.br

sexta-feira, maio 09, 2008

Noite fria

Silêncio. Ele podia ouvir apenas a respiração dela. O mundo havia parado, e nada mais existia além deles, deitados no quarto barato de hotel. Ela era dona do sorriso mais lindo e da voz mais bela. E ele queria dizer isso, para o resto de suas vidas. Ela levantou. Pegou o dinheiro que estava em cima da cômoda, sussurrou algumas palavras, e saiu.

Ficou deitado algum tempo, observando o mundo voltar ao normal, escutando novamente o som dos carros e das pessoas. Sua mente estava completamente distante, absorta nos mais profundos pensamentos.Levantou e acendeu um cigarro. Da janela, viu ela debruçada na janela de um carro qualquer, entrando em seguida e partindo mais uma vez.

Calmamente, vestiu-se. Peça por peça, deve ter demorado uma hora. Pegou a arma que estava debaixo de seu travesseiro, o sobretudo que estava pendurado na porta, e saiu.

Havia um bar ao lado, onde ele comprou uma garrafa de Gim. Fazia muito frio e perguntou para ele mesmo porque não havia colocado mais um par de meias. Detestava ter os pés gelados nas noites de inverno. Tomou um gole generoso da garrafa, e saiu noite adentro, no velho Chevette 83.

Rodou a cidade inteira, procurando algo que nem ele sabia o que era.Ou, achava que não sabia.

O frio fez a bebida descer bem. Tudo estava melhor agora, tirando os pés gelados. As noites frias de inverno, são admiravelmente belas. O céu limpo e as estrelas brilhando, centenas de pontos distantes que talvez nem existam mais. Saiu do carro e tentou contá-las. Não parecia notar o vento cortante que batia em seu rosto. Ficou apenas contando, 1,2,3...

Entrou num bar, e negociou uma garrafa de whisky importado, por um preço razoável. Entrou no carro e parecia feliz, mas na verdade, era indiferente a tudo que estava acontecendo. Bebeu meia garrafa na frente do bar, dentro de seu Chevette, e muita coisa aconteceu nesse meio tempo. Um casal feliz passou por ali fazendo promessas e sonhando. Um mendigo se arrastava de tanto frio, e blasfemava dizendo "deus isso e deus aquilo". Um cachorro mijou no poste e seguiu seu caminho. O céu limpo deu lugar a nuvens carregadas. E ele terminou o whisky, ligou o carro, e partiu.

Todos pareciam inquietos naquela noite, como se algo grandioso estivesse para acontecer. Ele não tinha noção de horas, mas já era bastante tarde. Mesmo assim, as pessoas continuavam pelas ruas. Andando, bebendo e esperando o que quer que fosse. Ele já estava bêbado o suficiente.

Parou na frente de um prédio velho. Uma espécie de hipnose tomou conta de seu corpo. Como naquele momento em que se vestiu no quarto de hotel. Fazia cada coisa, passo a passo. Como se o tempo não importasse. Tinha um objetivo mas não tinha consciência dele. Saiu do carro e não parecia mais estar bêbado. Nem sequer cambaleou. Abriu a porta daquele prédio. Contou 46 degraus. Parou na frente da porta do apartamento 38.

Entrou. Ela estava dormindo e não havia mais ninguém. Ele sentou numa cadeira e a observou.

"Você tem o mais belo sorriso, e a mais bela voz" , ele disse baixinho, uma dezena de vezes. Pegou o revolver, levantou e mirou na cabeça dela.

Naquele mesmo momento, muita coisa aconteceu. O casal feliz decidiu se divorciar. O mendigo morreu no relento. O cachorro achou um pedaço de carne no lixo. E a chuva desabou sobre a cidade inteira, lavando a alma de tudo e de todos.

Silêncio, o mundo parou mais uma vez. E agora deitado, ele ouvia apenas o coração dela, parando aos poucos. Nada mais existia, apenas o TUM TUM, TUM TUM, TUM , TUM ,TUM..........
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Escritor da Zona

domingo, maio 04, 2008

Teoria do Fracasso

"Quem não cola não sai da escola. Quem usa coca também não. Mas pior é você, que já se formou, não tem vícios e vive endividado."


Simples mas profundo....





nikieseuboné.