Há um tempo atrás, uns 3 ou 4 mais precisamente, sua vida era uma festa! Esbanjava dinheiro, só comia em lugares caros, festas caras, drogas, pagava todo final de semana um churras para seus muitos amigos em sua cobertura no centro da cidade. Não dava valor a sua pequena cidade de origem, nunca estava lá, só ia pra lá pois sua mãe o obrigava. Não trabalhava, vivia apenas dos alugéis dos apartamentos que seu falecido pai havia deixado como fonte de renda para ele. Tinha o melhor carro, a melhor casa, as melhores roupas. Sempre sorridente, seu celular nunca parava de tocar, as vezes eram donos de boates o convidando para ser o anfitrião da festa, outras vezes seus "amigos" convidando para um agito fora da cidade, onde ele teria que levá-los e ainda abrir seu apartamento na capital para poderem dormir. Havia esquecido de seus amigos de infância, que cresceram com ele até a adolescência, antes de ele mudar-se de cidade e de escola. Quando os via na rua, apenas abria um discreto sorriso, às vezes. Pra quem o via de longe achava que ele era muito gente boa, parceiro pra tudo. Mas quem o conhecia, como o Pedro conhecia, sabia que ele podia estar com um sorriso largo, mas lá dentro dele não era a mesma coisa. Não era a mesma coisa porque deixou seus verdadeiros amigos de lado por eles não serem tão modernos quanto ele, nem terem dinheiro suficiente para frequentar os lugares que ele frequentava. Tinha vergonha deles, por eles serem simples. Por se vestirem com roupas puídas, por escutarem rock dos anos 80 e 90. Por não se importarem com o que os outros pensavam deles. Eram pessoas simples, de bem com a vida e com muita historia para contar. E também não conseguia ser uma pessoa feliz de corpo e alma pela morte de seu pai.
Ele deixava todas suas contas para um escritório de contabilidade administrar, até então tinha total confiança nos contadores, até porque seu pai também fazia sua contabilidade lá e eles tinham muito respeito por sua familia. Mas se havia uma coisa que ele sabia fazer, era investir seu dinheiro. Virava noites e noite com seu notebook analisando as bolsas e a estabilidade do mercado financeiro. Sabia exatamente a hora de investir e de tirar o dinheiro. Mesmo vivendo com muita fartura, ainda lhe sobrava dinheiro para investir. E assim foram alguns anos investindo, investindo, ganhando dinheiro, gastando, festas, bebida, mulheres. Tudo era muito passageiro na vida dele. Gostava de viver o presente, dizia que quem vivia do passado era museu e que não tinha bola de cristal para enchergar o futuro.
Os contadores sabiam que seu dinheiro cresciam de vento em polpa e junto com o dinheiro o ollho grande deles. Mais de dois meses estudaram o golpe que seria dado nele. Planejaram tudo minunciosamente para não haver vestígios. Convenceriam ele que ele deveria investir em uma ação específica, que daria um enorme prejuízo,mas na verdade não daria prejuízo algum, só um grande lucro. Tinham um contato muito quente dentro da bolsa de valores, e em troca de alguns milhares de reais, esta pessoa emitiria uma nota que exatamente a empresa da tal ação investida, fechara as portas e todos os acionistas tomariam no cu. Além disso, contratariam alguem para sabotar os prédios que ele tinha a maioria dos apartamentos que ele sobrevivia.
Era dia 11 de setembro, tudo planejado. Era hora de executar. Escolheram exatamente essta data pois no dia dos atentados nos EUA, ele estava lá, sentado dentro do Hummer que ele e seu pai haviam alugado, esperando seu pai sair de dentro da torre Sul da WTC. Exatamente quando o avião bateu, seu pai estava a mais de 50m do chão e a não ser que pulasse, não teria como escapar daquilo e ainda pulando iria morrer como um saco de merda no chão. E o pior de tudo é que seu pai morreu sem nunca escutar um " eu te amo" do seu filho, e muito pior ainda, ele faz parte dos poucos corpos que não foram reconhecidos nos destroços das torres. Não pôde ter um enterro digno de um verdadeiro Engenheiro, convidado a trabalhar na NASA e a dar aulas no ITA ( Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Morreuu ali com tantos outros desconhecidos.
11 de setembro de 2006Cinco anos que seu pai se foi. Era sempre uma data deprimente. Ele saia para dar uma volta, lembrar os poucos momentos que teve com seu pai. Colocava-se no lugar dele para enfrentar as difiiculdades. Ele era um grande homem, tinha uma mente brilhante. Seu filho sempre quis ser assim, mas tomou outro rumo, o das festas, sem estudo, mulheres, carros, drogas e dinheiro. E era sempre nesse dia que ele esquecia do mundo. Desligava o celular, ia pra um lugar que só ele e mais três pessoas conheciam. Voltava depois do pôr-do-sol um pouco mais renovado, com a cabeça no lugar e muitas idéias. Eram nessas suas escapadas que ele voltava sendo literalmente o cara. Com idéias brilhantes, cheio de vontade de ajudar os outros, completamente dinâmico. Porém, com o celular desligado não tinha como saber que seu dinheiro estaria indo por água abaixo na bolsa, nem que seu prédio estava pegando fogo...
No dia seguinte, foi até o escritório de contabilidade ver como tinha sido o dia anterior. Assim que chegou, a secretária já foi lamentando as perdas. Ele um pouco confuso sem saber de absolutamente nada ainda relutou em pedir o que havia acontecido, achando que a secretária se referia a data da morte de seu pai. Porém quando ele pediu para ver o extrato da sua conta, caiu sentado na cadeira que o rodeava. Estava simplesmente pobre. A carta do executivo chefe da bolsa, emitindo uma nota onde dizia de forma resumida...
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...com este pesar, eu informo que todos os dólares investidos entre o1/o9/2006 e 11/09/2006 foram completamente perdidos, juntamente com a perda desta grande empresa. Nós, que trabalhamos diariamente com este tipo de situação, nos vemos incapazes de ajudar, visto que nunca vimos uma mudança no quadro de ações e no mercado externo tão rápida e brusca, que veio a levar à falência esta empresa de porte mundial. A nós, diretores da BOVESPA, apenas nos resta lamentar já que nos vemos com as mãos literalmente amarradas para tentar qualquer ajuda aos investidores que tiveram seus milhares de dólares perdidos.
Para qualquer dúvida, a bolsa se encontra em total disposição"
Para ele era como uma facada no rim direito. Já que o esquerdo havia doado ao seu pai. Por alguns instantes tudo parou, não conspeguiu nem notar o sorriso no canto dos lábios dos donos do escritório. Pensou como pagaria suas contas, da onde tiraria dinheiro, como seria sua vida a partir daquele momento.
Um pouco depois de conseguir se recompor, quis saber de seus apartamentos. Estava desesperado, não sabia para que lado correr. Precisava urgentemente do dinheiro dos aluguéis para pagar seu cartão, fazer um novo investimento. Não conseguia pensar direito, estava tudo um pouco nebuloso em sua mente. Inclinou-se na cadeira, bebeu da água que a secretária havia lhe dado. Assim que conseguiu se recompor, a secretária lhe avisou que o prédio que ele tinha a maioria dos apartamentos e os mais caros, havia pego fogo. Arregalou os olhos, apertou o copo de vidro até quebrá-lo, e logo depois emendou um belo soco na mesa, que tinha uma pela lâmina de vidro por cima que desmanchou-se quando ele a encostou. Estava muito nervoso. Levantou e saiu atordoado pela porta. Entrou no carro e saiu sem direção, enquanto que os donos do escritório comemoravam o plano perfeito.
Ao sair, percebeu que Pedro o observava enconstado no muro, em baixo da sombra de uma árvore e fumando seu cigarro. Ficou um pouco assustado com a forma que seu amigo saiu de dentro do escritório. Percebeu que as coisas não estavam nada bem e que como seu amigo de infância e um dos poucos a conhecê-lo bem, deveria ajudar. Conhecia ele ao ponto de saber exatamente onde ele ia nas horas de desespero. Pegou sua barra circular e foi ao lugar. Chegando lá, viu sua camionete estacionada de qualquer jeito na beira da rua sem saída. Porta aberta tocando música eletrônica, puxando para o chill out. Quando reconheceu a música ele se deu conta que as coisas realmente não estavam nada bem. Desde adolescente, ele só escutava este tipo de música quando estava muuuuito na merda. E provavelmente agora a situação era muito pior. Escorou sua bicicleta numa árvore e foi chegando aos poucos perto dele. Ainda tropeçou em uma pedra o quê acusou sua presença. Ele olhou para trás e levou um susto:
- Porra, que que tu qué aqui? Como sabia onde eu tava?
- Té parece que eu não te conheço...té parece que não foi aqui que tu vinha chora toda vez que a Amanda te dava um fora, té parece que não foi aqui que a gente fumo nosso primeiro beck juntos. Burro!!!
- Caralho meu, tô muito na merda. Perdi tudo cara...absolutamente tudo...tô podre meu...não sei o que eu faço!!! fodeu tudo.....
- Cara, primeiro que tu não perdeu nada....Eu o Júlio e o Márcio tamo contigo pra qualquer coisa, mesmo tu nos desprezando e tendo vergonha do nosso estilo, nós somos amigos. Té parece que não foi aqui que na viarada de ano de 9 anos atrás a gente não fez um pacto de amizade, antes de tu se muda.
- Té parece o caralho meu....que que eu vo faze agora? não tenho mais dinheiro!!!!
- Tá e dinheiro resolve tudo?Porra meu, aprende a vive cara...seja mais humilde, tu não precisa de dinheiro pra se feliz, caralho! Valoriza as pequenas coisas, olha quantos amigos tu tem aqui na cidade meu, mas os amigos de verdade...como nós quatro somos. Não esses que só queriam sabe do teu dinheiro. Mas isso é bom, foi bom tu perde toda tua grana....
- Como assim meu, pirô?
- Não. Agora tu vai vê quem são teus verdadeiros amigos. Os que gostam de ti pela pessoa que tu é e não pelo dinheiro que tu tem. Me diz o nome de três, só três pessoas que falaram contigo ontem...quando a morte do teu pai fez cinco anos...só três meu.....
Ele baixou a cabeça...
- Pedro, Júlio e Márcio.......
Eles ficaram em silêncio um tempo, acenderam um cigarro...Pedro sentou do seu lado e falou.
- Cara, volta pra nossa cidade, vem mora aqui com a tua mãe, vem faze festa com nós cara, tu não precisa daquele monte de baba ovo pra se feliz, bixo....Pensa nisso...E ó....se tu precisa e quisé, o pai precisa de gente lá na imobiliária pra acompanha os clientes nas casas e apartamentos e eu sei que tu é o cara pra isso...
Pedro virou-se e foi embora. Antes de chegar à sua bicicleta sentiu uma mão em seu ombro e abriu um pequeno sorriso no canto da boca..
Ficaram se encarando por um tempo...ele não sabia o que falar pro Pedro, não conseguia expressar toda sua gratidão. Apenas olharam-se até que ele falou:
- Da aqui um abraço, porra!!!Bora cara, começa essa vida do zero do jeito que tinha que te sido a nove anos atrás..
E deu-lhe um forte abraço....
- Agora coloca essa bike ai em cima da camionete e vamo pro centro, preciso toma uma cerveja...
nikieseuboné.