terça-feira, janeiro 29, 2008

Surpresa

A vida é cheia de surpresas.Assim terminei meu último post, assim começo este novo.Agora porém, sinto a realidade e a grandeza desta afirmação.Sinto, porque uma surpresa me bateu forte na cara.

Ironicamente, naquele dia que saí para beber sozinho, saí sozinho porque não achei a galera.O mais provável companheiro para uma noite no bar, seria o Arthur.Mas ele não estava se sentindo bem.No momento em que eu escrevia, ele estava deitado na cama de um hospital.Tomando um soro, sabem como é.

Na madrugada de quinta feira, eu escrevia uma breve despedida.Na madrugada de quinta feira, o destino escrevia sua dura realidade.Neste dia também, os médicos suspeitaram que o Arthur estivesse com apendicite.Ficamos pensativos e avisamos o Matias.A possibilidade de não ir, bateu à porta.

Sexta-feira, fui para o hospital com o Arthur, fazer uma segunda ecografia.Este exame iria confirmar o diagnóstico.Se fosse apêndice, ele seria operado.Se ele fosse operado, nós não iríamos.

Não vou esquecer tão cedo,a expressão que o Bicudo tinha, quando saiu da sala, e parou diante de mim.O olhar dele tinha tristeza e medo, parecia até envergonhado.Talvez, porque isso tenha "estragado" nossa viagem.Sei que isto é uma bobagem e eu discordo totalmente duma coisa dessas, mas aposto que foi o que ele sentiu .Eu também sentiria.

A verdade, é que essa merda de apendicite, pode acontecer a qualquer hora.Um dia você acorda, e esse saco de merda está inflamando.E se você percebe tarde demais, ele estora e espalha merda por todo lugar.Na verdade, eu nem sei direito pra que serve um apêndice, e acho que poucos sabem.Mas não é algo muito importante, pois as pessoas vivem tranquilamente sem.O do Arthur estava inflamado, e seria retirado, sem maiores riscos.

É por isso que superestimo, essa idéia do destino agora.Porra, isso aconteceu 4 dias antes de viajarmos?Podia dar merda das grandes, se o apêndice estorasse no meio da puta que o pariu.Definitivamente, não era a hora.Não podia ser a hora, e alguma coisa maior nos mostrou isso.

Parece que estou feliz.Na verdade me sinto agradecido.Claro que não curto a idéia, de ver o Bicudo se arrastando por aí, com os bucho de fora.Mas ainda bem que tenha sido neste momento.

Agora poderemos ajeitar as coisas.Resolver o que faltava.Talvez teremos mais dinheiro também.Teremos mais apoio e compreensão por parte dos velhos, teremos mais juízo, quem sabe...

Me sinto um pouco envergonhado, porque além de você criar muita expectativa para si, cria também para os outros.Até acho que é um pouco de preocupação com a imagem, que merda de vergonha.Sinto desprezo por estar sentindo-a.

Mas é isso aí.Estou aqui, escrevendo em minha casa, pensando no que farei até essa viagem sair.Pois ela ainda rola.Estou curioso, para ver o que estarei pensando, e se ainda terei as mesmas preocupações que tenho hoje, e que foram ditas no Adios, Amigos. Com certeza, a vida reservará algumas surpresas ainda até lá.Tomara que da próxima vez, sejam boas surpresas.Se não forem, bem, esperaremos.

ESCRITOR DA ZONA

terça-feira, janeiro 22, 2008

Já passavam das 11 horas da noite. E lá estava ele, deitado no chão, pernas em cima de sua cadeira com sua velha vitrola tocando Snalth and the Spoontangs, um ritmo blues bem legítimo do norte dos EUA, com seu sotaque que não deixava errar. Volume alto, e uma bolinha de borracha jogando de uma mão para outra. Movimento repetitivos, barba por fazer, cabelo bagunçado e pensando. Era dono de uma empresa prestadora de serviços. Ele era Engenheiro com Doutorado em Israel, um dos maiores centros tecnológicos do planeta. Havia se formado não num Universidade Federeal como é o sonho de todo formando idiota de ensino médio. Tinha feito uma faculdade normal, particular e pequena. Desprovido de mulheres e grupinhos matando aula todos os dias. Quando fez o vestibular, entrou no pátio da faculdade e pensou:

- Caralho, se eu passar aqui vai se muito massa.....vô sai pra da uma volta e vai te um monte de gente matando aula, vo conhece um monte de gente, meninas, e esquece aquela.....aquela.........guria..

Entrou na sala do vestibular, em meia hora a prova estava resolvida. Esperou mais uma hora para o tempo mínimo esgotar e foi para a praia, sentou num bar e pediu uma cerveja:

- Provinha ridicula, puta que pariu....ainda tive que acorda cedo num domingo pra ii faze aquela babaquisse. Droga....

Ele era privilegiado de uma personalidade completamente diferente e uma mente brilhante. No auge de seus 45 anos, naquele escritório, seu dedo sem aliança mostrava que ele era um cara bem diferente. Morava numa kitnet no centro da cidade, ouvia um bom e velho rock 'n' roll, não tinha uma mulher carinhosa que podia chamar de esposa quando chegasse em casa, nem filhos que pulariam no seu colo quando ele abrisse a porta. Sua obsessão e a falta de coragem de desistir de alguma coisa, fizeram-o a mente mais brilhante que sua faculdade já teve. Quando entrava, fazia a diferença.

Seu modo arrogante e irônico de ser, deixavam seus sócios a beira da loucura. Odiava ser bajulado, tinha pavor de puxa sacos. Era só um louco apaixonado por descobrir o exato PORQUE das coisas. Trabalhava com pesquisa e desenvolvimento. Tá certo que era o dono da sua empresa, não tinha nada que estar fazendo trabalho braçal, mas achava idiota colocar um terno uma grava e sapatos desconfortáveis e discutir sobre planos de ações, desenvolvimento e essas besteiras. Seu negócio era descobrir porque seus projetos não funcionavam de primeira. Vasculhava linha por linha das placas, testava resistor por resitor, cada capacitor, fonte, linhas de códigos. Ele não tinha limites. Sua obsessão fazia ultrapassar qualquer coisa. Mas como um bom ser humano, sabia que as coisas não vinham assim do nada. Era preciso uma inspiração. Seguia o raciocínio que " pessoas inspiradas podem fazer a diferença". Trabalhava de bermuda, camiseta, as vezes até chinelo, isso o fazia uma pessoa melhor, não feliz, mas satisfeita. Quando não era seu dia, abria sua coleção de LP's, ecolhia um blues ou um rock, colocava em sua vitrola e ficava viajando na música, pensando, pensando, pensando, até que inconformavelmente do nada, a resposta vinha. Ele podia estar no banho, durmindo, ou no banheiro...mas ela vinha, de força esquisita, mas vinha. Saia de casa na mesma hora, ia para seu laboratório e fazia o circuito funcionar. Claro que não de primeira, porque apesar da mente brilhante, nada é tão perfeito assim. Uns ajustes aqui, outros ali....e sua equipe de idiotas chegava na manhã seguinte discutindo o projeto e quando iam testar para verificarem onde pararam, ele funcionava. E assim foram, longos 20 anos de trabalho nas bacandas de desenvolvimento. Nada de se preocupar com bolsa de valores, crise econômica estas babaquisses. Sua equipe tinha ódio dele, não inveja por sua mente brilhante, mas por sua arrogancia e ironia. Fazia perguntas absurdas, sem nexo algum. Mas no fundo, depois de tudo resolvido, os babacas da equipe entendiam o significado das perguntas.

E depois de tanto tempo, sem ninguém, aturando um bando de idiotas, já passava da meia noite e estava apenas na 5 faixa do LP de Snalth and the Spoontangs quando sentiu sua perna dormente, subiu para os braços. Sentia dificuldade de respirar. Veio o calor, seus olhos começavam a doer. Estava sufocando, ali em seu escritório, ouvindo seu melhor LP. Num lapso de uma pequena lembrança, viu lá na frente que havia deixado o problema do últinmo circuito eletrônico de sua vida, escrito no quadro do laboratório. Sentiu uma raiva interna, pois os idiotas da sua equipe, que se diziam ótimos, não seriam capaz de decifrar o que estava escrito. Eram bitolados, e ele não tinha conseguido atingir seu objetivo antes de morrer, que era conseguir fazer daqueles babacas, ótimos, quase perfeitos. Não aguentava mais, a respiração foi ficando cada vez mais fraca, o olhar se perdia no infinito, foi ficando cada vez mais escuro, seu braço não conseguiu mais segurar a bolinha.Estava completamente paralisado. Largou-o e morreu ali, sozinho, sem ninguém. Sua arrogancia o levou a isso, muito sucesso, sem familia com uma coleção invejável de LP's.

nikieseuboné

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Adios, Amigos

Terminei o copo de cerveja. É estranho, e ao mesmo tempo, agradável beber sozinho num bar. A cerveja demora mais para terminar, mas as pessoas te olham de uma maneira interessante. Acho que pensam milhares de coisas.Eu posso estar esperando alguém que me deu o cano.Como posso ser um bêbado escorado no balcão.Posso ser um cara com grandes planos.Também posso ser apenas um cara que saiu para beber uma cerveja.

Pensando bem, hoje acho que eu era muitas coisas.Secretamente, eu esperava alguém.Secretamente, eu era um bêbado escorado no balcão.Sinceramente, eu havia apenas saído para beber uma cerveja.E eu tinha um plano.

Acendi um cigarro e olhei para as pessoas.Num canto, 6 mulheres atraentes bebiam cerveja.Provavelmente conversavam sobre homens, trabalho e festas.Provavelmente conversavam sobre os caras que magoaram, e sobre os caras que as magoaram.O amor é assim, é difícil e raro. Quando encontramos alguém, ela provavelmente não nos encontrou.Quando alguém nos encontra, provavelmente só queremos sexo, e alguém acaba mal nessa história toda.

3 amigos e uma mulher jogava sinuca e riam. Bebiam cerveja e acredito que estavam bêbados.Cada um, tinha uma espécie de tática, para tentar levar aquela mulher para a cama.Era óbvio que os 3 tentavam, e mais óbvio ainda que um deles iria se dar bem.Uma questão de tempo e sorte.

Do meu lado, um casal comia uma tábua de frios. A mulher era particularmente muito atraente.Digo particularmente, porque acredito que ela tinha uma beleza rara.Uma beleza que me lembrava algo.Ah! já sei o que.Me lembrava a pessoa que eu amo e não consigo esquecer.Olhei para ela até, que começou a ficar estranho.Ela pareceu retribuir o olhar, mas provavelmente eu só achei isso porque estava ficando bêbado.

As vezes fazemos coisas estranhas.Perambulamos por aí, procurando coisas que provavelmente não vamos encontrar.Eu tenho feito muito disso.Digamos, que nos últimos 5 meses, esperei por algo impossível.Escrevi contos, com alguns personagens particularmente angustiados.Leio e releio alguns que os amigos disseram que são os melhores.Cada vez mais, percebo que esses personagens, são mais realidade do que ficção.Digo isso, porque as angústias deles, são minhas angústias.Todos eles, acrescentando algumas coisas e tirando outras, são nada mais do que eu.

Pedi mais uma Polar e fui ao banheiro.Passei pela mesa de sinuca e pelas 6 mulheres.Mijei e filosofei sobre alguma outra coisa.Admiro o momento da mijada.O cara sempre acaba bolando alguma coisa.Não lembro o que pensei naquela hora, mas provavelmente foi alguma coisa legal.

Voltei para o balcão.A cerveja gelada e cheia já estava lá, me esperando.Gosto de tomar cerveja sentado no balcão.O lugar mais receptivo do bar.A fumaça do cigarro não incomoda ninguém.O garçom está sempre perto.E parece ser o lugar menos estranho para tomar cerveja sozinho.

Olhei em volta, e dessa vez me senti mal.Todos estavam com seus amigos, com seus ficantes, com seus amores.E lá estava eu, sentado e quase bêbado no balcão de um bar, tomando cerveja.Sozinho.

Senti, de repente, uma mão tocar em meu ombro esquerdo.Era uma mulher.Loira, um belo corpo e um olhar profundo.Acho que, no fundo, ela sentia pena de mim:

-Que tu tá fazendo aqui?
-Hmmm...bebendo! porque?
-Não sei, tu parece tão sozinho aí...Bebendo cerveja e olhando para o nada!
-Da próxima vez eu pego uma revista ou um jornal então.Não vai parecer tão estranho.

Ela fez uma cara amarga e virou-se.Eu fui estúpido e grosso com a coitada.Ela foi extremamente cordial comigo.Exagerei.Puxei-a pelo braço:

-Espere garota, desculpe-me a grosseria.Sou assim as vezes.É um complexo anti-social que sinto uma vez ou outra.
-Tudo bem, eu que tenho mania de ser educada demais.

Dizendo isso ela foi embora.Eu a ofendi.Não fiz questão de insistir.Posso ter perdido a chance de conhecer alguém legal, mas acho que ainda não estou pronto.Sinto infelizmente, que vou demorar tempo demais para estar pronto.É um dos motivos, pelo qual estarei ausente por um bom tempo aqui no blog.Na verdade tenho muitos motivos.Pensei sobre isso, quando mijava pela segunda vez.Olha aí! Mais uma filosofia mijando...

Mas é sério.Viajar é algo que sempre sonhei.Ainda mais pegando carona.Sem falar, que estarei com 2 grandes amigos.Mas em parte, fico feliz também em que darei um tempo da cidade, e ficarei mais tempo ainda sem vê-la.Talvez, nesse meio tempo, eu consiga deixar de vez esse sentimento suicida, que apenas me destrói, e não traz mais nada de bom, me impedindo de seguir a vida normalmente.

Paguei a conta e vim para casa.No caminho acendi um cigarro.Vim pensando."A merda está feita".Pedi demissão segunda-feira e a carona para Goiás está praticamente confirmada.Melhor se for para Mato Grosso.Não tem mais volta.Se eu não for, aí sim que me arrependerei.Viajaremos, e sabe lá deus o que vai acontecer.Podemos voltar em 5 dias,ou em 25, ou podemos não voltar.

É por isso que estou escrevendo.Uma espécie de despedida.Essa viagem que tanto falo, será feita por mim, Matias e Arthur(bicudo).Temos destino e tempo como fatores indeterminados.Primeiramente, peço desculpas aos meus pais.Pela irresponsabilidade e pela falta de conversa que tive com eles a respeito disso.Informei-lhes pouco sobre a viagem, e acredito que eles nem imaginavam que eu iria.Mãe e pai, eu vou sim.E agora, uns dias antes, vocês ficaram cientes disso.

Aos meus amigos.O niki, meu sócio e colega de blog, do qual eu nem me despedi.Cara, tu sabe que é meu irmão, e vou sentir tua falta e sempre lembrar de ti.Ao renan e zeca.Lembrarei de vocês toda vez que pegar o violão, e lembrarei da boa música e da boa companhia que vocês nos proporcionaram até então.Nado, Matheus, Luis,Gio, me lembrarei de vocês quando alguém sumir com minha mochila!(essa só vocês vão entender, pena que não lêem o blog)

Ao edo, querido buffante mestre, e sempre presente nas maiores loucuras.Seja com o banjo, o violão ou o baixo, sempre curtindo nosso som.Um abraço pra guria também, grande guria.

Adolfo, sinto falta de nossas coca roots, e vou sentir mais ainda nessa viagem.Até olhar um filme louco vai me fazer falta.Lezinha, mulher do adolfo, coitada que sempre me aguenta durante a semana.Que toma cerveja comigo nas sextas feiras e deixa eu deixar os cascos por lá mesmo.

Jean, mila e bruninha, sentirei falta de vocês.
Mixi, Mônica e CIA, vai fazer falta o jogo de sinuca.
Cá, sem comentários...
Sammy, seu viado..ehuehehehueuhehueuhe

Abri a chave da minha porta, e liguei o computador.Tinha uma cerveja na geladeira, resolvi abrir, a saideira.Comecei a escrever uma merda qualquer e acabei escrevendo minha despedida do blog.Mas eu pretendo voltar a escrever normalmente.Talvez tenha muitas histórias para contar ou nenhuma.Fazer o que.A vida é cheia de surpresas...

Adios, Amigos...

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Coisas pequenas, pequenas coisas

Há um tempo atrás, uns 3 ou 4 mais precisamente, sua vida era uma festa! Esbanjava dinheiro, só comia em lugares caros, festas caras, drogas, pagava todo final de semana um churras para seus muitos amigos em sua cobertura no centro da cidade. Não dava valor a sua pequena cidade de origem, nunca estava lá, só ia pra lá pois sua mãe o obrigava. Não trabalhava, vivia apenas dos alugéis dos apartamentos que seu falecido pai havia deixado como fonte de renda para ele. Tinha o melhor carro, a melhor casa, as melhores roupas. Sempre sorridente, seu celular nunca parava de tocar, as vezes eram donos de boates o convidando para ser o anfitrião da festa, outras vezes seus "amigos" convidando para um agito fora da cidade, onde ele teria que levá-los e ainda abrir seu apartamento na capital para poderem dormir. Havia esquecido de seus amigos de infância, que cresceram com ele até a adolescência, antes de ele mudar-se de cidade e de escola. Quando os via na rua, apenas abria um discreto sorriso, às vezes. Pra quem o via de longe achava que ele era muito gente boa, parceiro pra tudo. Mas quem o conhecia, como o Pedro conhecia, sabia que ele podia estar com um sorriso largo, mas lá dentro dele não era a mesma coisa. Não era a mesma coisa porque deixou seus verdadeiros amigos de lado por eles não serem tão modernos quanto ele, nem terem dinheiro suficiente para frequentar os lugares que ele frequentava. Tinha vergonha deles, por eles serem simples. Por se vestirem com roupas puídas, por escutarem rock dos anos 80 e 90. Por não se importarem com o que os outros pensavam deles. Eram pessoas simples, de bem com a vida e com muita historia para contar. E também não conseguia ser uma pessoa feliz de corpo e alma pela morte de seu pai.









Ele deixava todas suas contas para um escritório de contabilidade administrar, até então tinha total confiança nos contadores, até porque seu pai também fazia sua contabilidade lá e eles tinham muito respeito por sua familia. Mas se havia uma coisa que ele sabia fazer, era investir seu dinheiro. Virava noites e noite com seu notebook analisando as bolsas e a estabilidade do mercado financeiro. Sabia exatamente a hora de investir e de tirar o dinheiro. Mesmo vivendo com muita fartura, ainda lhe sobrava dinheiro para investir. E assim foram alguns anos investindo, investindo, ganhando dinheiro, gastando, festas, bebida, mulheres. Tudo era muito passageiro na vida dele. Gostava de viver o presente, dizia que quem vivia do passado era museu e que não tinha bola de cristal para enchergar o futuro.









Os contadores sabiam que seu dinheiro cresciam de vento em polpa e junto com o dinheiro o ollho grande deles. Mais de dois meses estudaram o golpe que seria dado nele. Planejaram tudo minunciosamente para não haver vestígios. Convenceriam ele que ele deveria investir em uma ação específica, que daria um enorme prejuízo,mas na verdade não daria prejuízo algum, só um grande lucro. Tinham um contato muito quente dentro da bolsa de valores, e em troca de alguns milhares de reais, esta pessoa emitiria uma nota que exatamente a empresa da tal ação investida, fechara as portas e todos os acionistas tomariam no cu. Além disso, contratariam alguem para sabotar os prédios que ele tinha a maioria dos apartamentos que ele sobrevivia.











Era dia 11 de setembro, tudo planejado. Era hora de executar. Escolheram exatamente essta data pois no dia dos atentados nos EUA, ele estava lá, sentado dentro do Hummer que ele e seu pai haviam alugado, esperando seu pai sair de dentro da torre Sul da WTC. Exatamente quando o avião bateu, seu pai estava a mais de 50m do chão e a não ser que pulasse, não teria como escapar daquilo e ainda pulando iria morrer como um saco de merda no chão. E o pior de tudo é que seu pai morreu sem nunca escutar um " eu te amo" do seu filho, e muito pior ainda, ele faz parte dos poucos corpos que não foram reconhecidos nos destroços das torres. Não pôde ter um enterro digno de um verdadeiro Engenheiro, convidado a trabalhar na NASA e a dar aulas no ITA ( Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Morreuu ali com tantos outros desconhecidos.











11 de setembro de 2006







Cinco anos que seu pai se foi. Era sempre uma data deprimente. Ele saia para dar uma volta, lembrar os poucos momentos que teve com seu pai. Colocava-se no lugar dele para enfrentar as difiiculdades. Ele era um grande homem, tinha uma mente brilhante. Seu filho sempre quis ser assim, mas tomou outro rumo, o das festas, sem estudo, mulheres, carros, drogas e dinheiro. E era sempre nesse dia que ele esquecia do mundo. Desligava o celular, ia pra um lugar que só ele e mais três pessoas conheciam. Voltava depois do pôr-do-sol um pouco mais renovado, com a cabeça no lugar e muitas idéias. Eram nessas suas escapadas que ele voltava sendo literalmente o cara. Com idéias brilhantes, cheio de vontade de ajudar os outros, completamente dinâmico. Porém, com o celular desligado não tinha como saber que seu dinheiro estaria indo por água abaixo na bolsa, nem que seu prédio estava pegando fogo...







No dia seguinte, foi até o escritório de contabilidade ver como tinha sido o dia anterior. Assim que chegou, a secretária já foi lamentando as perdas. Ele um pouco confuso sem saber de absolutamente nada ainda relutou em pedir o que havia acontecido, achando que a secretária se referia a data da morte de seu pai. Porém quando ele pediu para ver o extrato da sua conta, caiu sentado na cadeira que o rodeava. Estava simplesmente pobre. A carta do executivo chefe da bolsa, emitindo uma nota onde dizia de forma resumida...



"...com este pesar, eu informo que todos os dólares investidos entre o1/o9/2006 e 11/09/2006 foram completamente perdidos, juntamente com a perda desta grande empresa. Nós, que trabalhamos diariamente com este tipo de situação, nos vemos incapazes de ajudar, visto que nunca vimos uma mudança no quadro de ações e no mercado externo tão rápida e brusca, que veio a levar à falência esta empresa de porte mundial. A nós, diretores da BOVESPA, apenas nos resta lamentar já que nos vemos com as mãos literalmente amarradas para tentar qualquer ajuda aos investidores que tiveram seus milhares de dólares perdidos.


Para qualquer dúvida, a bolsa se encontra em total disposição"



Para ele era como uma facada no rim direito. Já que o esquerdo havia doado ao seu pai. Por alguns instantes tudo parou, não conspeguiu nem notar o sorriso no canto dos lábios dos donos do escritório. Pensou como pagaria suas contas, da onde tiraria dinheiro, como seria sua vida a partir daquele momento.



Um pouco depois de conseguir se recompor, quis saber de seus apartamentos. Estava desesperado, não sabia para que lado correr. Precisava urgentemente do dinheiro dos aluguéis para pagar seu cartão, fazer um novo investimento. Não conseguia pensar direito, estava tudo um pouco nebuloso em sua mente. Inclinou-se na cadeira, bebeu da água que a secretária havia lhe dado. Assim que conseguiu se recompor, a secretária lhe avisou que o prédio que ele tinha a maioria dos apartamentos e os mais caros, havia pego fogo. Arregalou os olhos, apertou o copo de vidro até quebrá-lo, e logo depois emendou um belo soco na mesa, que tinha uma pela lâmina de vidro por cima que desmanchou-se quando ele a encostou. Estava muito nervoso. Levantou e saiu atordoado pela porta. Entrou no carro e saiu sem direção, enquanto que os donos do escritório comemoravam o plano perfeito.

Ao sair, percebeu que Pedro o observava enconstado no muro, em baixo da sombra de uma árvore e fumando seu cigarro. Ficou um pouco assustado com a forma que seu amigo saiu de dentro do escritório. Percebeu que as coisas não estavam nada bem e que como seu amigo de infância e um dos poucos a conhecê-lo bem, deveria ajudar. Conhecia ele ao ponto de saber exatamente onde ele ia nas horas de desespero. Pegou sua barra circular e foi ao lugar. Chegando lá, viu sua camionete estacionada de qualquer jeito na beira da rua sem saída. Porta aberta tocando música eletrônica, puxando para o chill out. Quando reconheceu a música ele se deu conta que as coisas realmente não estavam nada bem. Desde adolescente, ele só escutava este tipo de música quando estava muuuuito na merda. E provavelmente agora a situação era muito pior. Escorou sua bicicleta numa árvore e foi chegando aos poucos perto dele. Ainda tropeçou em uma pedra o quê acusou sua presença. Ele olhou para trás e levou um susto:

- Porra, que que tu qué aqui? Como sabia onde eu tava?

- Té parece que eu não te conheço...té parece que não foi aqui que tu vinha chora toda vez que a Amanda te dava um fora, té parece que não foi aqui que a gente fumo nosso primeiro beck juntos. Burro!!!

- Caralho meu, tô muito na merda. Perdi tudo cara...absolutamente tudo...tô podre meu...não sei o que eu faço!!! fodeu tudo.....

- Cara, primeiro que tu não perdeu nada....Eu o Júlio e o Márcio tamo contigo pra qualquer coisa, mesmo tu nos desprezando e tendo vergonha do nosso estilo, nós somos amigos. Té parece que não foi aqui que na viarada de ano de 9 anos atrás a gente não fez um pacto de amizade, antes de tu se muda.

- Té parece o caralho meu....que que eu vo faze agora? não tenho mais dinheiro!!!!

- Tá e dinheiro resolve tudo?Porra meu, aprende a vive cara...seja mais humilde, tu não precisa de dinheiro pra se feliz, caralho! Valoriza as pequenas coisas, olha quantos amigos tu tem aqui na cidade meu, mas os amigos de verdade...como nós quatro somos. Não esses que só queriam sabe do teu dinheiro. Mas isso é bom, foi bom tu perde toda tua grana....

- Como assim meu, pirô?

- Não. Agora tu vai vê quem são teus verdadeiros amigos. Os que gostam de ti pela pessoa que tu é e não pelo dinheiro que tu tem. Me diz o nome de três, só três pessoas que falaram contigo ontem...quando a morte do teu pai fez cinco anos...só três meu.....

Ele baixou a cabeça...

- Pedro, Júlio e Márcio.......

Eles ficaram em silêncio um tempo, acenderam um cigarro...Pedro sentou do seu lado e falou.

- Cara, volta pra nossa cidade, vem mora aqui com a tua mãe, vem faze festa com nós cara, tu não precisa daquele monte de baba ovo pra se feliz, bixo....Pensa nisso...E ó....se tu precisa e quisé, o pai precisa de gente lá na imobiliária pra acompanha os clientes nas casas e apartamentos e eu sei que tu é o cara pra isso...

Pedro virou-se e foi embora. Antes de chegar à sua bicicleta sentiu uma mão em seu ombro e abriu um pequeno sorriso no canto da boca..

Ficaram se encarando por um tempo...ele não sabia o que falar pro Pedro, não conseguia expressar toda sua gratidão. Apenas olharam-se até que ele falou:

- Da aqui um abraço, porra!!!Bora cara, começa essa vida do zero do jeito que tinha que te sido a nove anos atrás..

E deu-lhe um forte abraço....

- Agora coloca essa bike ai em cima da camionete e vamo pro centro, preciso toma uma cerveja...

nikieseuboné.