sexta-feira, junho 27, 2008

1'36"

Última prova, últimos momentos antes de tudo aquilo começar a se desmanchar e aqueles três pavilhões da Oktoberfest voltarem a estar vazios.

Sábado, uma hora da tarde, 10 equipes, caras cansadas, estressadas, angustiadas e nervosas. Assim estavas os 20 competidores de mecatrônica no último dia daquele que foi a maior, melhor e mais massa.

A prova, como era de se esperar, fácil na quarta - feira quando começou e dificultando conforme os dias iam passando. Mas ninguém esperava que ficaria tão difícil no sábado. Enfim, na última prova, diferentemente das outras, ao invés de ser montada apenas uma estação, foram montadas duas. Várias páginas de prova depois, o boa sorte clássico entre os competidores, todos fora de suas áreas de trabalho, mãos levantadas e é apertado o botão da buzina a gás. E é dada a largada para a prova.

Tempo máximo para finalizar a prova eram 3 horas. Enquanto eu programava, meu colega montava as estações. Montagem demorada, com vários detalhes. Programação demorada também, com várias condições, dentre elas, distinguir um tipo de peça de outro, com um sensor analógico de altura. Sem mais detalhes também porque vocês já não devem tá entendendo porra nenhuma. Mas tudo bem.

Com 2h58min, nossa prova estava teoricamente pronta, pensamos ainda se parávamos o tempo ou deixávamos ele estourar. Concordamos em pará-lo, já que apenas a equipe do RS e de SP haviam terminado, nós seriamos os terceiros a serem avaliados.

Acho que a pior hora na vida de um competidor é a hora da avaliação, coisas bizarras acontecem durante ela, algumas até sem explicação técnica, fazendo começar a acreditar em fantasmas.

Avaliadores apostos, hora de apertar os botões e funcionar.

Apertamos a sequencia de botoes pedida na prova, as lâmpadas de sinalização funcionaram conforme o que pedia. Quando apertei o botão de start o robô pegou uma peça, colocou em cima da esteira de transporte, ela levou a peça até o final para ser medida. Quando ela deveria voltar e o robô pegá-la novamente, tudo pára. A esteira não se mexe, nem o robô.

O avaliador líder olha com uma cara de surpresa, pois ainda havia muuuuita coisa pra avaliar, estava apenas no inicio do ciclo. Como já era sábado e passado das 4 da tarde, apenas a mecatrônica ainda fazia provas (isso é normal, mecatrônica é sempre a primeira a começar e a última a terminar) os caras da manutenção já tinham desligado alguns refletores e como nós estávamos trabalhando com um sensor óptico analógico que devia ser programado, poderia acontecer da luz ambiente interferir nos parâmetros.

Pensei com meus botões para lembrar do programa e saber em que linha ele havia parado. Lembrei que tinha feito uma última alteração no código antes de fazer o download pro equipamento e não tinha testado depois disso. Foi então que falei pro meu colega:

- Velho, eu sei onde tá o erro!!!

- Como assim? Não é por causa da luz?

- Não, não é!!

Pedi para o avaliador quanto tempo nós tínhamos ainda já que nós chamamos com 2h58 minutos. E ele falou:

- Bom, de acordo com as regras, como vocês chamaram antes do tempo máximo mas não funcionou, são descontados 20% do tempo restante. Então, 20% de 2 minutos, restam 1min e 36s.

Nesse tempo, eu tinha que trocar duas palavras no programa, fazer o download para o CLP (controlador lógico programável, que fazia a coisa toda funcionar) e ainda resetar o mesmo para o programa começar do início. Tudo isso, naquele tempo.... Virei para o nosso treinador e falei:

- E ai...é tudo ou nada....se não funciona o que eu vo faze, ele vai para no mesmo lugar e a nossa pontuação vai se baixa igual...e se funciona, garantimo o terceiro lugar!!! E ai vamo??

- Vamo?!
- Vamo?
- Então vamo!!!
- Foi então!!

Contando que só pra resetar o CLP levava uns 20 segundos, mais a alteração no programa em um minuto dava pra fazer!! Ainda sobravam 10 segundo para fazer história.

Falamos ao avaliador que íamos usar o tempo restante pra arrumar o programa e ele fez aquela cara de 0_o e perguntou:

- Vocês têm certeza???

E eu falei:

- Claro....não tão avaliando nossa tomada de decisão também? Pois é, essa é a decisão do ano!!! ou é isso ou fodeu!

- Tudo bem.....preparados??

- A um ano e meio já to me preparando - falei...

- Gaúcho(apelido do nosso treinador), fica falando o tempo pra nós de 10 em 10 segundo pra nós te noção!! - eu completei

- Beleza!! bora lá gurizada...é tudo ou nada...ou dá ou desce, 8 ou 80....

- Preparados?

- Aham

- Aham

- VALENDO!!!!!

Pulei ao computador, abri o programa e logo achei a dita cuja que deveria estar com sinal invertido! Enquanto isso nossa área de competição já estavam rodeada por muita gente conferindo o momento mais louco de toda olimpíada.

- 1'30"

Troquei a primeira palavra

- 1'20"

- 1'10", 1'10" ...vamo gurizada..

Troquei a segunda palavra....e vi mais um erro

- 1'00" ...vamoooooo - nosso treinador falava

Consertei também..

- 0'50"

Salvei o program, compilei e fiz o download....

apertei OK...OK de novo... no software de programação e falei:

- RESETA, RESETA....JÀ BAIXOU!!!!

- 0'40" gauchadaaaa

Mãos tremendo, todos os 10 avaliadores em nossa volta assistindo ao momento mais Chuck Norris das nossas vidas. Os últimos segundos até o CLP estar em modo RUN e acabar o tempo

- 0'20"

E nada do CLP se normalizar....

- 0'15"

É sempre assim, quando tu precisa, não funciona.....

- 0'10"

- 0'09"

- PARA O TEMPO....FECHO FECHO!!!!!

Saímos da área meio se amassando entre todos os outros que estavam ali...Um com mais cara de agonia que o outro....todos os outros avaliadores, principalmente da Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo - que eram nossos concorrentes diretos para o terceiro lugar - com caras de bestas e fazendo olho grande pra que não funcionasse....

- Muito bem, vamos ver o que aconteceu aqui depois dessa loucura que vocês fizeram - disse o avaliador.

- Vamo lá....

Apertada a sequencia de botões, eu com as mãos juntas, perto da boca,tremendo feito vara verde, rezando pra que funcionasse, meu colega um pouco mais calmo como sempre o centrado da dupla era ele, o louco era eu, ele só olhava de canto e apertando os botões do inicio da sequencia...eu fiquei de uma forma que conseguia ver todos os sensores e saídas se acionavam ou não..... E a partir do acionamento deles eu já sabia se ia funcionar ou não

Apertou o botão de start e o ciclo começou. O robô pegou uma peça, colocou na esteira, a esteira foi para tras medir a peça, no mesmo lugar que antes havia parado tudo, momentos de tensão................e a esteira liga de novo levando a peça para o robô pegar. O primeiro sorriso aparece em meu rosto e as coisas começavam a dar certo. O robô pega a peça e coloca na outra estação, lá ela é verificada quanto a sua cor, era preta, e foi descartada na primeira rampa, como pedia a prova. E assim foram todas as peças, cada uma em seu lugar, diferenciando um tipo de peça da outra, armazenando nos lugares corretos, sem colisões com todas práticas profissionais em ordem e trazendo a primeira medalha na categoria de mecatrônica para o estado de SC.

quarta-feira, junho 25, 2008

O pênis da namorada de um amigo meu

-Cara! acho que minha namorada é um homem!

Essa, é uma coisa que você normalmente não está preparado para ouvir. Naquelas circunstâncias ainda, foi mais difícil raciocinar. Eu estava dormindo há duas horas, depois de ter tomado um porre de tequila com um mexicano louco. A ressaca nem sequer tinha chegado . E um velho amigo, chega as 9 horas da manhã, e diz que acha que a namorada é um homem.


-João, sinceramente, eu quase não tenho palavras sobre algo assim.


O João Augusto, na verdade, sempre se meteu em furada com mulheres. Arranjava uns tipos questionáveis. A última namorada dele que conheci, era uma francesa radicalista com pêlos no suvaco. Ela veio para o Brasil, querendo montar um grupo revolucionário ou algo terrorista. Acabou encontrando uma porção de brasileiros que preferem ficar de boca calada, e voltou para a França, levando aquele chumaço de pêlos nas axilas, e um colombiano da FARC. E o pobre João, ficou arrasado daquela vez.


-É o seguinte. Eu conheci essa mulher na internet. Falava há um ano com ela. Semana passada, resolvemos nos encontrar. Ela é linda, e só de conversar com ela, me apaixonei. Beijei ela e já falamos sobre namoro. Passamos a noite inteira, sentados num bar e conversando. Foi lindo!


-Tá, e onde está a possibilidade de ela ter um bilau?


-Deixa eu continuar...Ela disse que tinha que pensar, mas aceitou namorar, dois dias depois. Saímos, jantamos, essas coisas. Não falamos sobre sexo. Ontem a noite, eu fui na casa dela. E fui mijar. Sabe, eu sempre acho, que quando você está na casa de uma mulher, e vai mijar, deve abaixar a tampa do vaso. Não sei, é uma questão de educação,sabe.


-Sei...


-E abaixei. Nós estávamos tomando cerveja, e você sabe, cerveja é foda.


-Falando nisso, preciso mijar.


-Caralho, deixa eu terminar!


-Vai a merda, tô de ressaca!



Mijei, e pensei na possibilidade de sumir com um cara desses da minha casa. É muita informação para o estado em que eu me encontrava, e eu não estava com saco pra aturar aquela história.Voltei.


-Tá, e aí?


-Aí, que eu fui mijar pela segunda vez. Mas antes, ela tinha ido no banheiro. E sabe o quê? Cheguei, e a tampa do vaso estava levantada.Entendeu? Exatamente pronta para um homem mijar.Ou como se um homem tivesse mijado ali, antes!


-Pode ser que ela seja tão idiota quanto você, que ela levanta a tampa do vaso quando está com um homem, só para que ele não precise levantar quando for mijar.


-Meu Deus. Nunca conheci uma mulher que fizesse isso!


-E eu, nunca conheci um homem que baixasse a tampa do vaso na casa de uma mulher, apenas por educação.


-Mas é estranho, entende? Não transei com ela ainda. Ela nem comentou no assunto. Imagina se um dia ela cria coragem, e no meio da noite, me mostra uma piça de 20 centímetros?


-Seria engraçado. Sua namorada teria um pau maior que o seu!


Tive que rir. Ri muito. Na verdade, não conseguia parar de rir, imaginando o João Augusto namorando uma mulher bem dotada. Ele me empurrou e entrou porta adentro. Serviu-se de um trago de whisky, e virou goela abaixo.


-É sério. Eu não sei o que fazer. E se ela for um homem?


-Olha, cara. Não tem outro jeito de descobrir, a não ser olhando. Você vai ter que esperar, até dizer que não aguenta mais ficar sem sexo, e aí você vai ver.


-Mas e se isso demorar? E se eu estiver namorando um homem todo esse tempo?


-Aí não sei.


-Tá. Mas é por isso que vim. Somos amigos há muito tempo, cara.


Puta que o pariu. Normalmente, quando essa frase é utilizada, pode se preparar que o resto é pepino. Não que eu não goste de ajudar meus amigos, mas eu precisava ficar sóbrio, dormir, e ele nem era tão amigo assim. Talvez me escolheu porque moramos no mesmo bairro. Caralho, eu não conseguia nem ter uma reação. Deixei que ele continuasse.


-Eu disse pra ela, que tinha uma janta, num amigo meu. E era pra ela vir. Dei teu endereço.


-Caralho, velho! Fez tudo isso sem me consultar? Que porra é essa?


-Foi a primeira pessoa que me veio a cabeça. Desculpa, mas preciso dessa ajuda.


-E que merda eu faço? Arranco as roupas dela? Tu só pode ser louco.


-Não. Diz que eu liguei, e que vou me atrasar. E ela pode esperar. E aí, não sei, tu tenta conseguir alguma coisa.E eu chego 1 hora depois do horário combinado com ela.


-Seguinte, João. Se manda da minha casa. Preciso dormir. E trata de resolver essa história de janta, que eu quero paz hoje à noite!



Fechei a porta na cara dele, e chutei o sofá. Como sempre, quando a gente descarrega a raiva em algo, dá errado. A perna do sofá soltou, e ele despencou. Fiquei mais puto ainda. Que sequela de merda. Fui dormir.



Acordei com alguém batendo na porta. Olhei para o relógio, e eram sete horas da noite. Fiquei em dúvida, se tudo que aconteceu havia sido um sonho. Vou até a porta, abro, e dou de cara com uma morena gostosa.



Exato, uma morena gostosa, na porta de meu apartamento.Eu disse um "oi" meio mudo, e fiquei olhando com cara de abestalhado.Ela também aparentava estar surpresa, e começou a falar meio tímida:



-Oi! Por um acaso tu és o André? Sou a namorada do João Augusto, ele disse que estaria aqui e pediu para eu vir.



-Hm. Sim, mas ele ligou e disse que houve um imprevisto. Pediu para você esperar.



Deixei ela entrar, mas tudo aconteceu, sem que eu conseguisse pensar.Minha resposta foi automática.O filho da puta do João, realmente veio até a minha casa, e não fôra um sonho.Um tremendo filho da puta, aquele João.



-Acho que seu sofá está com problemas...



"Que mente brilhante você tem". Detesto pessoas que me acordam, entram em minha casa, e dizem coisas óbvias. Quando soube que era a namorada do João, ela(ou ele,sei lá) deixou de ser gostosa. Reparei nos ombros largos, um andar meio masculinizado. Servi uma dose de whisky para mim, e ofereci algo para ela.



-Você tem uma cerveja?



É homem mesmo. Ela poderia ter pedido um whisky,um martini, qualquer merda, mas cerveja? Comecei a ficar com medo, e fui pegar a cerveja dela. Virei o copo de whisky e já peguei uma cerveja pra mim também. Conversamos sobre coisas idiotas. Sobre o João(aquele filho da puta), sobre nossas profissões(o emprego de merda que eu tenho), e sobre animais de estimação(salvem as baleias).



Acabei dizendo, que cerveja dava uma vontade tremenda de mijar, para ver se ela passava no teste da tampa do vaso. Mijei, baixei a tampa, e voltei. Mas ela não se mexeu. Peguei mais duas cervejas, e não sabia mais o que fazer. Decidi não ajudar o João Augusto. Ficaria bebendo com ela, até que ele chegasse.E ponto final.



Apesar de tudo, fiquei o tempo todo analisando ela. Seus traços, gestos, palavras. Ela(ou ele, sei lá) parecia gostosa de novo. Se fosse um homem, eu realmente tirava o chapéu. Fizeram um belo trabalho. Mas também, temos que analisar que toda mulher tem traços masculinos. Comecei a ficar inquieto. E ela percebeu. Pediu se eu estava bem. Decidi melar tudo. Ela nunca mais me encontraria, e queria ferrar com o João, mesmo.O máximo que poderia rolar, seria um tapa.



-Tá. Chega de enrolação. Tira essa roupa.



-Como assim?



-Tu pensa que eu não sei?



Ela ficou me olhando. Levantou. E disse:



-O João vai demorar?



E começou a tirar a blusa. Fiquei incrédulo. Não era nesse ponto que eu queria chegar. Ela iria fazer um strip. Tirou a blusa. "Peitos". Isso não quer dizer nada, com a tecnologia de hoje.Mas eram belos peitos. Me deu um tapa, e me chamou de safado. Comecei a ficar aterrorizado. " E se for um homem?".



Começou a abrir o jeans.


E o grande mistério. Foi um momento alucinante. Passava como se estivesse em câmera lenta. O mundo parou para descobrir a verdade, sobre a namorada do João, aquele filho da puta. Ela tirou a calça lentamente, de uma maneira sexy. Tirou a calcinha, e pimba. Viva às mulheres. Viva às criaturas mais belas da face da terra. Viva o cara que inventou a vagina. Era linda, e não tinha nada de homem. Puramente feminina. Eureka.

Foda-se o João Augusto. Comi a namorada dele, que não tinha pênis nenhum.

sábado, junho 21, 2008

OC 2008

O maior evento de educação profissional das américas. Dividido em três estados, 15 modalidades em cada estado e uma média de 180 competidores por etapa. Em blumenau, mais precisamente, 183 competidores e 15 modalidades e uma semana pra entrar na história das vidas de cada um que participou.

É meio complicado explicar, porque na etapa estadual, cada cidade vai representada por alguns alunos em algumas ocupações, não tem toda aquela intimidade com pessoas de outros lugares do estado. O máximo que ocorre é almoçar e jantar com seus adversários de modalidade, que até o fim do evento já viraram seus amigos. Mas na etapa nacional é muito diferente. Todos esquecem sua cidade, e viram a Delegação do seu estado, indo representá-lo perante mais 20 e tanto estados participantes. Um de cada canto de SC, sem se conhecer, apenas se lembrando de ter um visto ao outro na etapa estadual. Isso tudo apenas no primeiro dia. Dali em diante é algo realmente difícil de explicar. As amizades que são feitas, as pessoas de outros estados, as culturas e costumes vindas de vários cantos do Brasil, os Baianos de touca e luva enquanto os gaúchos e catarinenses andam de camiseta de manda curta, sotaques, gírias. Todos ali, com o mesmo objetivo....conseguir uma vaga para o Mundial em Calgary, no Canadá.

No primeiro dia de provas, eu tinha adversários do RS, SP, BA, ES, PE, GO, PR, AM, MG...ao longo dos 4 dias de provas e 5 dias do evento, demos risadas juntos, contamos histórias, quase apanhamos do segurança, tamanho era nosso entrosamento, pude ver que de adversários, passei a ter amigos de todos os cantos do país.. Tento achar umas palavras pra mostrar como que foi essa semana, mas é difícil. Se fosse para resumir em uma frase, com certeza seria:

FOI FODA PRA CARALHO!!!!!

Daqueles momentos que ficam na memória por muito tempo, geram mutias histórias engraçadas para serem contadas aos outros, e histórias nem tão engraçadas, ainda mais quando as provas passa pela sexta-feira 13!!! Um clima diferente, não de competição, mas de amizade...um querendo que o outro vá bem, pra ter uma boa competitividade e ai sim, ganhar o melhor. E quando eu digo foda, não é foda de difícil, apesar do nível das provas estarem muito altos, mas é um foda de......sei lá....foda pra caralho. Acho que só quem tava lá pra conseguir entender esse foda pra caralho.

Gente, muita gente passando, olhando, tirando footo. Mas nada que tirasse a nossa concentração e a vontade de fazer uma prova perfeita. Chegavamos ao fim das provas e os outros pediam:

- E ai, me viu lá?

- Pff...não vi nada nem ninguém!!

Sábado, último dia de provas, o mais cansativo. Todos com os nervos à flor da pele, querendo que tudo acabe e esperando o domingo para o passeio no Beto Carrero e a premiação. E assim foi, Domingo chegou, o Beto Carrero passou e estavam lá, todos apostos para uma entrada triunfante na área de premiação, cada estado cantando seu grito de guerra, ansiosos pelo resultado. Santa Catarina entra, a anfitriã do evento, por último, cada um agarrado em sua bandeira, sentados, esperando os resultados. Onze modalidades participadas, das quinze que haviam, e 5 medalhas conquistadas. Um primeiro lugar, dois segundos e dois terceiros.

Hora de relaxar, música e um clima de amizade total. Agora não só entre os competidores de suas modalidades, mas sim de todos. Absolutamente todos tomados pela emoção de pariticipar de uma Etapa Nacional deste mega evento. Risos, dança, comida, abraços, beijos e 183 atletas gritando:

- UH É OLIMPÍADA!!! UH É OLIMPÍADA!!!

Para delírio de diretores, políticos e todas outras pessoas que compareciam na festa de encerramento.

Habilidades, tomada de decisão, zelo, atitudes, tudo sendo avaliado quase que 24 horas por dia durante a competição, para poder chegar no domingo, com as medalhas no peito e falar:

- EU PARTICIPEI DO NACIONAL MAIS FODA DE TODOS OS TEMPOS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

nikieseuboné.

quinta-feira, junho 12, 2008

Teorias conspiratórias, sobre um croquete de rodoviária

Ele estava sentado, olhando para um ponto fixo. Fazia isso para conseguir inspiração. Os momentos criativos dele surgiam assim. Batia o pincel com um ritmo linear nos joelhos, e cantava uma velha canção dos Beatles. Fazia horas que estava assim. E era sempre a mesma música.



Blackbird singing in the dead of night


Take these broken wings and learn to fly


All your life,


You were only waiting for this moment to arise


Blackbird, fly


Blackbird, fly



De repente, escuta aquele barulho tão temido, de alguém chegando perto da porta. O piso de madeira do corredor, era extremamente velho e barulhento, e ele pôde ver uma sombra surgir por debaixo da porta. Detestava ser interrompido.

Toc Toc


Abriu a porta com cautela. Deu uma olhada, e enxergou Mago. Mago era um cara extremamente rejeitado pelas pessoas. Tinha conversas que não agradavam, idéias que não agradavam, e uma careca extremamente avantajada, para um rapaz de 25 anos. Na verdade, o nome dele era Magnos, mas parece que o irmão meio débil mental dele, não sabia pronunciar um nome tão fácil, e acabou ficando esse apelido. Muitos apelidos idiotas vêm da infância, e normalmente têm uma história idiota. Danton Viegas, no fundo, achava Mago um dos caras mais interessantes que o visitavam, embora não demonstrasse muito bem:



-Puta que o pariu.



-Viegas. Que prazer orgásmico!



Mago entrou, e ficou andando pelo apartamento. Pegou um livro e começou a ler, como se estivesse em casa. Danton não se importou, e voltou à sua busca de inspiração. Magnos ficou olhando para o pincel.



-Hey Viegas. Como vão os quadros?



-Na verdade, não tenho pintado. Estava justamente buscando inspiração, até ver essa sua cara feia entrar em meu apartamento. E você. Tem usado sua criatividade para algo mais útil do que bater uma bronha?



-Ultimamente, não.



-Caralho, preciso de uma verveja.



-Eu pago, por estragar seu momento de inspiração.



-Okay!

Foram até o bar da rodoviária. Era o mais perto, e eles estavam cansados. Sentaram, e pediram uma cerveja. Danton Viegas, tomou um gole gelado, e levantou. Voltou com um guardanado engordurado, envolto num croquete de rodoviária.

- Caralho Viegas, tu tá louco?

-Como assim, Mago?

-Tu tá ligado naquela piada? De que a semelhança entre um croquete de rodoviária e a mulher do delegado, é que se voce comer, morre?

-Sinceramente, nunca ouvi.

- Mas é sério. Hoje é uma piada. Mas começou aqui. O primeiro cara que comeu um croquete daqui, morreu Viegas!

- E tu vai começar com esses papos? É por isso que as pessoas se afastam de ti! Tu sempre pega uma idéia vagabunda e transforma em verdade.

- Tô te falando, caralho.

Os dois ficaram olhando para o croquete. Para ser bem sincero, Danton Viegas ficou desconfiado. Mago, parecia ter certeza do que estava falando. Arregaçava os olhos, toda vez que Viegas ameaçava pegar o croquete.

- Olha. Pára pra pensar um pouco. Tu já viu alguém comer um croquete aqui? É o tipo de coisa que todos sabem, mas não falam. Essas merdas ficam nessa porcaria de estufa uns 3 meses, até não poderem ser comercializados. E aí eles jogam fora, e fazem outros desses croquetes assassinos.

- Porra meu, tu precisa é fazer análise.

Permaneceram ali, e o croquete estava intocável. Parecia respirar gordura, aquela coisa nojenta. Tomaram 7 cervejas e estavam bêbados. Bateu a fome. Viegas deu um suspiro, e falou:

- Vamos apostar que eu como essa porra?

- Nunca. Não tenho nada como garantia.

- AH. Eu não preciso disso também.

Danton Viegas disse isso, e deu uma bela mordida naquele bolo de carne. Mastigou com uma vontade imensa. Mordeu outra vez, e outra vez, e acabou com o croquete. Deu um belo sorriso, e arrotou.

- Tu tá fudido - falou Magnos.

Ficaram ali mesmo, conversando e dizendo bobagem. Acabaram esquecendo a história do croquete que mata. Tomaram mais 7 cervejas. Ficaram amigos do dono do bar. Danton Viegas disse que teve uma inspiração para um quadro. Mago falou que teve uma inspiração para bater uma punheta. Os dois riram, e cada um foi para seu lado.

Viegas, pisou nas tábuas daquele corredor barulhento de seu apartamento, e passo a passo, chegou em frente à sua porta. Enfiou a chave na fechadura. Empurrou a porta, e entrou. Olhou para tudo. Estava tudo em ordem. Tudo no seu devido lugar.

Serviu-se de um trago de conhaque. Tomou em um gole. Estava alcoolizado. As coisas giravam e não faziam sentido. Serviu-se mais uma vez. Tomou em um gole. Caiu.

Estava caído, e pensava. Teve uma retrospectiva de sua vida, passando como se fosse um filme. Foi criança. Jovem, rebelde e louco. Começou a ler Bukowski, Nietsche e Aldous Huxley. Perdeu a virgindade, escutou Beatles pela primeira vez. Ficou louco de novo, depois lúcido, se perdeu nas drogas. Começou a pintar, foi compreendido, e ganhou dinheiro. Que vida louca.

Conseguiu levantar-se da posição que estava. Andou em direção à cozinha e conseguiu erguer a garrafa de conhaque mais uma vez. Serviu um copo cheio dessa vez. Bebeu em um gole, de novo. Botou um pijama. Fumou um charuto. Deitou na cama. Cruzou os braços. Fechou os olhos, e morreu.

sexta-feira, junho 06, 2008

Conto Romântico Urbano

Ele era diferente dos outros. Vestia trapos, em vez de roupas. Fumava palheiro, em vez de cigarros. Escutava música, não barulho. Curtia a vida como qualquer um gostaria de curtir.
À noite, trabalhava no SuperMercado 24h. Durante o dia, escrevia poemas eróticos depois de tomar um copo de leite.

Assim, ele não tinha amigos. Apenas uma tartaruga e um hamster. E aquilo estava de bom tamanho. Comia, quando precisava comer. Cagava umas 3 vezes por dia. Até que um dia, sua mãe ligou e mudou sua vida.

-lauro, tá na hora de te arranjar uma mulher.

-mãe, são 3 da manhã.e eu estou de folga

-eu sei. não consigo dormir pensando na possibilidade de não ter netos.

- aí sou eu que não posso dormir com suas preocupações?

PAUSA DE UNS 37 SEGUNDOS

-lauro. amanhã, a filha da nossa vizinha daqui, vai procurar emprego em porto alegre, e eu disse que ela poderia ficar no seu apartamento. ela continua bonita! lembra dela?

-Caralho mãe, tu tá louca? Nem conheço mais essa mulher. E se ela virou uma louca varrida?

-Aí formarão um belo par.

Desligou na cara de Lauro. Ela não estava brincando. Provavelmente, a filha da vizinha estava no ônibus, dormindo ao lado de um passageiro fedorento, vindo para Porto Alegre. Lauro vestiu-se, e saiu de casa. Gostava de caminhar pela madrugada. Precisava pensar. A filha da vizinha era a sua antiga musa; a Cleópatra de Júlio César; a Yoko Ono de John Lennon. Seu nome era Glória.

Parou numa daquelas tendas de frutas que ficam abertas a noite inteira, comprou 3 maçãs por R$1,00, e saiu. O cara da tenda era conhecido de Lauro, e lhe atirou uma bergamota de brinde. Foi embora rindo e mastigando um generoso e suculento pedaço de maçã.

Há muito tempo, pegou o primeiro poema erótico que escreveu, e deu para Glória. A doce menina, tinha 11 anos na época, e ficou horrorisada. Lauro passou um tempo numa clínica psiquiátrica, e voltou 5 anos mais tarde. Agora, ele tinha seus 18 anos. Ela, na flor de sua adolescência, veio até ele no dia em que ele voltou. Ele estava na janela, curtindo sua liberdade. Ela debruçou-se ali, com um vestido curto, e falou bem baixinho no ouvido de Lauro:

-oi. desculpa por tudo. eu era jovem demais. hoje, fico toda molhada só de lembrar daquele teu poema.

E Lauro não fez nada. Apenas a observou, rebolando no jardim. No mesmo dia, foi pego por sua mãe enquanto fumava crack. Foi internado numa clínica de dependentes químicos, e perdeu Glória depois daquele dia.

Escreveu poemas memoráveis na clínica. Estava mais uma vez aprisionado, por um bando de loucos que não sabiam de nada. Aquilo tudo lhe deu força. Melhorou o comportamento. Fingiu ser uma pessoa normal. Parou de escrever, cortou os cabelos e fez o bigode. Perdeu a vontade de usar drogas. Foi liberado.

Passaram-se 3 anos. E ele modou-se para Porto alegre, depois de passar todo esse tempo na Jamaica, fumando maconha. Um daqueles programas, de reintegração de loucos e viciados na sociedade, arranjou-lhe o emprego no SuperMercado. E esse, era basicamente o resumo da pacata e tranquila vida de Lauro.Pelo menos era o que eu precisava escrever para contar minha história.

Agora, no silêncio da madrugada, ele lembrava desses velhos tempos. A cidade estava deserta, e nem os mendigos estavam dormindo nas ruas esta noite.

Estava parado na frente dum trailer, onde tinham caras que vendiam cachorro quente. Tinha alguma festa por ali, e aquilo estava atrolhado de gente. Chegou sua vez:

-hey. me vê um cachorro quente. sem salsichas.

-sem salsichas?

-é. com os molhos, o milho e a ervilha. toda a parafernália, menos as salsichas.

-será o mesmo preço!

-sem problemas...

Deu uma mordida na segunda maçã, depois de devorar o cachorro quente sem salsichas. Ficou ali sentado, fumando seu palheiro e bebendo um suco de pêra.

Foi passear no Guaíba, e o sol estava nascendo. Uma mancha vermelha no céu, surgia do horizonte. Alguns jovens tomavam chimarrão . Os atletas começavam a correr ou caminhar por ali. Enxergou também, um casal de meia idade, dividindo um cigarro e lendo versos de Neruda:

"tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
o vento da vida pôs-te ali.
a princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo."

Nada como uma bela caminhada pela cidade. Limpava sua mente, ocultava os problemas. Voltou tranquilamente para seu apartamento. Andava com uma calma invejável. As pessoas, indo para o trabalho, esbarravam-se umas nas outras como formigas atarefadas. E ele ria de tudo. As pessoas nem sabem mais, porque elas fazem tudo isso. Porque trabalham.Porque têm Tv gigante. Porque se limpam com papel higiênico macio e perfumado.

Ia passando pelo seu prédio, quando o porteiro lhe chamou:

-senhor lauro? tem uma moça que subiu para seu apartamento. deixei ela entrar porque a mãe do senhor havia ligado. mas ela não tem a chave do apartamento. e sei lá onde foi parar.

Lauro subiu pelas escadas. Encontrou Glória. Tão linda, meiga e perfeita como sempre foi. Ela estava dormindo na frente do apartamento de Lauro, bem no corredor. Uma das malas era utilizada como travesseiro. Estava tapada com um casaco de lã. Roncava baixinho. Era o primeiro ronco agradável que ele tinha escutado na vida. Tinha um toque feminino. Uma sutileza.

-glória? levanta daí. vamos entrar.

Ela mal respondeu. Ele carregou-a até a cama. Puxou um cobertor, e ela sorriu quando sentiu-se aquecida. Continou ouvindo o ronco suave de Glória, enquanto escrevia um poema erótico. Dormiu.

Os dois acordaram mais ou menos ao mesmo tempo. Tiveram o mesmo pensamento. Perceberam que podiam acordar para o resto da vida, um do lado do outro. Glória deu um beijo longo em Lauro. Finalmente.

Fizeram amor o resto do dia. Hoje, ele não iria trabalhar nem escrever poemas eróticos.Mas estava feliz com sua vida. E lá fora, na louca Porto Alegre, uma chuva fina caía.