segunda-feira, julho 13, 2009

rabiscos

Eu achei que meu dia havia acabado. Cheguei em casa. Sentei, levantei, pensei, olhei... fiz coisas sem sentido nenhum. Abri a geladeira e encontrei um espumante barato que eu tinha ganhado do meu (ex)chefe no natal passado. Deve existir alguma regra para não tomar espumantes que você ganha de pessoas que pouco se importam contigo, pois elas provavelmente não estão nem aí pra o que você vai achar. Mas o importante é dar o presente, né?

Abri o espumante, acendi um cigarro e confesso, me senti ridículo com aquela garrafa na mão. O gosto era extremamente ruim. Me lembrava algo que não sei dizer. Uma sprite com pouco gás, talvez. Uma virada de ano sem graça, sei lá. Só sei que não consegui terminar de tomar. Ao invés de uma boa sensação de embriaguez, ganhei uma dor de barriga e um gosto de ferrugem na boca. Merda de espumante barato.

A umidade no ar era incrível. Fazia com que tudo parecesse extremamente pesado. Os sons de todas as coisas pareciam abafados. Como se o ar carregado trouxesse as ondas sonoras em câmera lenta. A fumaça do cigarro ficava presente por vários minutos no ar. Todas as pessoas estavam apressadas, provavelmente pensando apenas no conforto de seus lares. E eu me sentia ridículo com aquela garrafa na mão.

Eu conheço um cara legal. Ele mora no meio do nada, não se importa com nada, não sabe de nada. Mas vive bem. Acho que o segredo hoje é não se importar com as coisas. Ele bebe a sua cachaça, dá a sua risada. E eu sinto náuseas com aquela garrafa na mão.

Eu vi um filme legal. O filme não dizia nada. Os caras eram otários. Mas me senti melhor.

Caralho. Tudo ficou extremamente difícil. A visão embaçou e as cores se foram. O dia acabou. A vida acabou. Eu estava ridículo com aquela garrafa de espumante ruim na mão.

quinta-feira, julho 02, 2009

Pai. tem um monstro no meu quarto

Ele estava lendo jornal, o caderno de moda dominical, sentado em sua cama. Adorava ler o caderno de moda antes de dormir. Era bom saber que pessoas perdem tempo lendo coisas idiotas pela manhã, enquanto ele fazia isso em meio a whisky e cigarros até não enxergar mais as letras miúdas daquela porcaria.



- Pai! Tem um monstro no meu quarto!!



Era seu filho, de uns 8 ou 9 anos (ele nunca sabia ao certo), no quarto do lado. Olhou para a sua esquerda e viu sua mulher. Ela estava com aquele cigarro vagabundo na boca, lendo uma revistinha daquelas que contam novelas de amor mexicano. "sua vadia", ele pensava.



Aquela história de "viveram felizes para sempre" acaba quando você deixa de olhar os contos de fada. A vida vai se tornando real, e você descobre que o amor pode ser uma droga. Você promete passar a vida toda ao lado de uma pessoa, baseado num sentimento extremamente complexo e instável. Talvez o amor de verdade não seja tão frágil assim. Mas o que ele sentia por ela era qualquer coisa que não o amor.



Acho que em grande parte o amor acaba porque a gente fica tentando viver no passado. "no início era ótimo...o que mudou?" Essas perguntas que nos remetem ao início de um relacionamento. A verdade é que tudo muda. E não nos contentamos com isso, esquecendo de tentar fazer algo para mudar o presente, paralisados pelas boas memórias de tempos que passaram. Paciência.

E essa história de encontrar alguém pra vida toda? Ele não sabia se isso era realmente possível. Duvidava que com todo esse egoísmo e mesquinharia que cerca o ser humano, alguém possa partilhar desejos e as vezes deixá-los de lado, para viver ao lado de uma pessoa. O amor é uma merda. Sua mulher é uma merda. Moda é uma merda.

Ela apenas se mexeu para bater as cinzas do cigarro. Não deu atenção nenhuma ao chamado do filho. Sentia nela o cheiro do martini que ela o obrigava a comprar a cada 3 dias. Bebia tanto quanto ele, e acho que isso era o que mais o irritava. Jogou o jornal no chão, secou o copo de whisky e foi até o quarto do filho. Domingo é uma merda.

- Olá, filho.

- Pai. Tem um monstro no meu quarto.

- Não existem monstros, meu filho.

- Existe sim. Eu vi um entrar no meu armário.

- Vamos ver.

Ele foi em direção à porta. Queria abrir o armário e encontrar algum monstro. Algo que matasse ele e sua mulher. O filho merecia algo melhor. Submeter uma criança a uma criação num ambiente extremamente falso? Que egoísmo da nossa parte. Apenas para dar continuidade genética ao nosso legado de fracassos.

Não havia monstro nenhum no armário. Seu filho ficou tranquilo. Ele contou uma história qualquer e o garoto adormeceu.

Voltou para a cama e a mulher estava dormindo. Provavelmente fingia. Tomou uma última dose de whisky. Amanhã, acordaria com ânsia de vômito, seguida de um gosto horrível na boca. E viveria mais um dia da sua vida inútil.