Ônibus cheio, sexta-feira, todos ansiosos pra chegar em casa, tomar aquele banho e depois decidir se durmia ou ia pra festa. A cara de cansaço era evidente em todos os passageiros do ônibus que se espremiam feito sardinha em lata, tinha gente saindo pelas janelas. Lá, perto da porta um homem de uns 50 e pouco anos, encostado na porta do ônibus, não deixando ela ser fechada. Logo em seguida aparece uma senhora de uns 60 anos mais ou menos carregando uma mala quase maior que ela:
- ô moço, me ajuda aqui por favor!
e o homem retruca:
- Ah, ah, ah. "Taix" tola é? Tu "axax" que eu tenho obrigação de te ajuda? Ah, maluca.....pede pra esses "estudantIzinho" de merda ai ó, eles sim tem obrigação. - antes mesmo de acabar a frase, 97% dos passageiros olham com cara de poucos amigos para o homem. E ele muito certo de sua masculinidade responde:
- Que que é? Nunca me viram "seuX" playboyzinhos?? (detalhe: o ônibus tinha recém saido da parada em frente a Universidade Federal. )
- Vai a merda seu velho filho duma puta. - responde um dos estudantes, era o Marco.
Com sua bolsa atravessada no peito escrito em letras bem grande " HISTÓRIA - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA".
Não querendo ofender ninguém, mas um cara que faz história por si próprio já não é muito certo, 95% deles tem tendências socialistas, são anti os EUA, mas adoram uma coca-cola. E o Marco não era diferente. Cabelo comprido, barba por fazer, nada de roupas de marca. Um gênio forte. Alguns diziam que era falta de educação, mas ele queria acreditar que tinha um gênio forte. Chegava na aula, se ela nao fosse boa, fo jeito que estava, durmia. Quando acordava, pegava o bonde andando na sala, e ainda conseguia corrigir o que o professor falava. Sim, ele devia ter vivido em uma outra encarnação lá por 1800 e bicos, na Revolução Industrial, pois tirava de letra qualquer coisa que lhe perguntassem a respeito. Chegava na aula, quando não durmia colocava os pés em cima da mesa, ligava seu iPod( sim, um iPod ) escorava o caderno no colo e começava a escrever. Escrevia umas coisas sem nexo algum, mas que depois de serem lidas umas 3 ou 4 vezes, faziam sentido. Gostava de uma encrenca e uma boa discussão que não levasse a nada, igual a com esse homem.
O homem então muito ofendido tenta se passar por coitado da história:
- Vê lá o que tu "falax" seu metido do caralho! Perdesse a noção do perigo né o cabaçinho!
- Não so cabaço desde que comi tua mulher o corno, viado! - retrucou Marco para risada geral do ônibus.
- Cala boca ai o seu filho da puta. Vo te mata hein o seu merdinha....
- Vai nada seu mané maldito. Só fala o seu viado do caralho.
- Muleque muleque, "taix" perdendo a noção do perigo. Tu "deviax" tá bem quietinho ai, de cabeça baixa...papai e mamãe que te sustentam, tu não "tenx" o direito de fala assim comigo.
- Claro que tenho, porra! Se são meus pais que me sustentam, mérito deles terem estudado e hoje poderem dá tudo que eu preciso pra pode estuda e se alguém na vida, e não um "Zé" como tu, seu pedreiro de merda, ganha 300 pila por mês pra sustenta uma penca de filho e fica com inveja de mim que tenho familia, estudo e com menos da metade da tua idade, já sô mais que tu seu babaca. Te ecnherga o seu bosta, se tu tá aqui andando de ônibus é porque não tem condições de te um carro. Eu ano aqui porque so menor de idade. O que pra ti é uma necessidade, pra mim é um quebra galho enquanto não faço 18 anos, filho da puta.
Silêncio total no ônibus, algumas caras de desaprovação em relação a que o Marco tinha acabao de falar, outro se segurando pra não rir e muitos com olhar de satisfação no que ele tinha acabado de falar.
- Aaaaah, mas é agora que eu te pego seu tolo.... - e sacou um 38 dentro do ônibus, para desespero de todos passageiros. Apontou pro Marco e disse:
- Repete o que tu falo se tu é tão bocudinho assim, porra...
E o Marco responde:
- Qual parte queres que eu repita?? Ah que eu falei que tu é um fudido na vida e não tem onde cai morto? Ou a que eu disse que eu com a metade da tua idade já te ponho no bolso em qualquer coisa que eu for fazer.
- Filho da puta... - e o ônibus parou. Os dois desceram, um encarando o outro, frente a frente. Cena de filme entre o bandido que tem uma arma na mão e o mocinho que encara tudo e quase sempre se dá bem. Eu disse quase.
Logo depois os dois já estavam rolando pelo chão. Socos, chutes, cabeçadas, dente voando e muito sangue. A arma tinha voado para baixo do ônibus. Quando o homem conseguiu se libertar de Marco que ainda tentava segurá-lo pelo pé, o véio se mete em baixo do ônibus querendo pegar a arma e uma voz ecoa dentro do ônibus:
- AAAACEEEELEEEEERAAAAA MOOOOTOOOOORAAAAAAAAA...
E não deu outra, um homem com uma cabeça a menos no corpo.