domingo, outubro 28, 2007

O pior dia

Hoje mesmo, peguei um papel amassado e joguei no fundo da gaveta.Nesse papel, tinha um texto que eu escrevi ontem.Eu deveria estar escrevendo-o agora no blog.Era minha idéia pelo menos.Eu nem cheguei a ler de novo e provavelmente da próxima vez que eu abrir a gaveta esse papel vai pro lixo.Não sei se estava bom ou ruim mas a questão é que eu não estava legal.Por isso, não quero nem saber o que eu escrevi.

Domingo é o pior dia da semana, mas é o dia em que eu escrevo a maioria dos textos.Fico o máximo possível longe de casa, porque sei que quando é hora de voltar, vou me deparar com essa sensação: um vazio estranho e melancólico, que só um domingo te proporciona.Mas é uma sensação que dá vontade de escrever.A tristeza te faz falar, e esse é meu jeito de conseguir isso.Mas a minha tristeza de ontem, era pior do que essa, e é por isso que eu não pretendo postar aqui o que eu escrevi ontem.

De agora em diante, eu vou tentar escrever sobre coisas mais alegres.Li os textos que escrevi e me deparei com muitas tristezas.E o pior é que não tem nada de mentira nos textos.É uma fase ruim pela qual eu estou passando.

Ontem eu conversei com o Êdo sobre fases ruins.Disse que por pior que elas sejam, são essas partes da vida que nos ensinam.Não posso dizer que mudei inteiramente minha maneira de pensar sobre isso, mas ele colocou uma coisa interessante que me fez refletir.Ele me pediu para dizer então,todos os momentos ruins e bons que eu passei.Os momentos ruins tinham um certo impacto nas lembranças, mas os momentos bons prevaleceram.

Talvez, essas lembranças de tristeza, só nos trazem receio de passar por tudo de novo, nos tornando menos impulsivos e mais medrosos.Não queremos viver aquilo mais uma vez e passamos a analisar todas as decisões para fugir disso.E a maioria dos momentos bons que me vieram a cabeça, foram consequências de ações não muito analisadas e bastante impulsivas.

Vou tentar aprender a arriscar tudo de novo, mesmo que tenha pela frente mais fases tristes como essa de agora.Quem sabe algum dia a fase boa dure para sempre?

Agora, a primeira coisa que vou fazer quando sair daqui, é pegar aquele papel da gaveta e jogar no lixo.Extinguir aquelas palavras tristes.Espero que boa parte da minha tristeza vá junto e uma nova fase comece em minha vida.Espero...espero

BY dream is destine

sexta-feira, outubro 26, 2007

Lugar errado, hora errada e falando coisa que não deveria

Ônibus cheio, sexta-feira, todos ansiosos pra chegar em casa, tomar aquele banho e depois decidir se durmia ou ia pra festa. A cara de cansaço era evidente em todos os passageiros do ônibus que se espremiam feito sardinha em lata, tinha gente saindo pelas janelas. Lá, perto da porta um homem de uns 50 e pouco anos, encostado na porta do ônibus, não deixando ela ser fechada. Logo em seguida aparece uma senhora de uns 60 anos mais ou menos carregando uma mala quase maior que ela:

- ô moço, me ajuda aqui por favor!

e o homem retruca:

- Ah, ah, ah. "Taix" tola é? Tu "axax" que eu tenho obrigação de te ajuda? Ah, maluca.....pede pra esses "estudantIzinho" de merda ai ó, eles sim tem obrigação. - antes mesmo de acabar a frase, 97% dos passageiros olham com cara de poucos amigos para o homem. E ele muito certo de sua masculinidade responde:

- Que que é? Nunca me viram "seuX" playboyzinhos?? (detalhe: o ônibus tinha recém saido da parada em frente a Universidade Federal. )

- Vai a merda seu velho filho duma puta. - responde um dos estudantes, era o Marco.

Com sua bolsa atravessada no peito escrito em letras bem grande " HISTÓRIA - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA".

Não querendo ofender ninguém, mas um cara que faz história por si próprio já não é muito certo, 95% deles tem tendências socialistas, são anti os EUA, mas adoram uma coca-cola. E o Marco não era diferente. Cabelo comprido, barba por fazer, nada de roupas de marca. Um gênio forte. Alguns diziam que era falta de educação, mas ele queria acreditar que tinha um gênio forte. Chegava na aula, se ela nao fosse boa, fo jeito que estava, durmia. Quando acordava, pegava o bonde andando na sala, e ainda conseguia corrigir o que o professor falava. Sim, ele devia ter vivido em uma outra encarnação lá por 1800 e bicos, na Revolução Industrial, pois tirava de letra qualquer coisa que lhe perguntassem a respeito. Chegava na aula, quando não durmia colocava os pés em cima da mesa, ligava seu iPod( sim, um iPod ) escorava o caderno no colo e começava a escrever. Escrevia umas coisas sem nexo algum, mas que depois de serem lidas umas 3 ou 4 vezes, faziam sentido. Gostava de uma encrenca e uma boa discussão que não levasse a nada, igual a com esse homem.

O homem então muito ofendido tenta se passar por coitado da história:

- Vê lá o que tu "falax" seu metido do caralho! Perdesse a noção do perigo né o cabaçinho!

- Não so cabaço desde que comi tua mulher o corno, viado! - retrucou Marco para risada geral do ônibus.

- Cala boca ai o seu filho da puta. Vo te mata hein o seu merdinha....

- Vai nada seu mané maldito. Só fala o seu viado do caralho.

- Muleque muleque, "taix" perdendo a noção do perigo. Tu "deviax" tá bem quietinho ai, de cabeça baixa...papai e mamãe que te sustentam, tu não "tenx" o direito de fala assim comigo.

- Claro que tenho, porra! Se são meus pais que me sustentam, mérito deles terem estudado e hoje poderem dá tudo que eu preciso pra pode estuda e se alguém na vida, e não um "Zé" como tu, seu pedreiro de merda, ganha 300 pila por mês pra sustenta uma penca de filho e fica com inveja de mim que tenho familia, estudo e com menos da metade da tua idade, já sô mais que tu seu babaca. Te ecnherga o seu bosta, se tu tá aqui andando de ônibus é porque não tem condições de te um carro. Eu ano aqui porque so menor de idade. O que pra ti é uma necessidade, pra mim é um quebra galho enquanto não faço 18 anos, filho da puta.

Silêncio total no ônibus, algumas caras de desaprovação em relação a que o Marco tinha acabao de falar, outro se segurando pra não rir e muitos com olhar de satisfação no que ele tinha acabado de falar.

- Aaaaah, mas é agora que eu te pego seu tolo.... - e sacou um 38 dentro do ônibus, para desespero de todos passageiros. Apontou pro Marco e disse:

- Repete o que tu falo se tu é tão bocudinho assim, porra...

E o Marco responde:

- Qual parte queres que eu repita?? Ah que eu falei que tu é um fudido na vida e não tem onde cai morto? Ou a que eu disse que eu com a metade da tua idade já te ponho no bolso em qualquer coisa que eu for fazer.

- Filho da puta... - e o ônibus parou. Os dois desceram, um encarando o outro, frente a frente. Cena de filme entre o bandido que tem uma arma na mão e o mocinho que encara tudo e quase sempre se dá bem. Eu disse quase.

Logo depois os dois já estavam rolando pelo chão. Socos, chutes, cabeçadas, dente voando e muito sangue. A arma tinha voado para baixo do ônibus. Quando o homem conseguiu se libertar de Marco que ainda tentava segurá-lo pelo pé, o véio se mete em baixo do ônibus querendo pegar a arma e uma voz ecoa dentro do ônibus:

- AAAACEEEELEEEEERAAAAA MOOOOTOOOOORAAAAAAAAA...

E não deu outra, um homem com uma cabeça a menos no corpo.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Adeus, Albergue

- É estranho!





Eu disse pro Matias ontem, enquanto estávamos sentados na mesa da cozinha.Eu olhava tudo, tentando gravar mentalmente cada detalhe, para poder lembrar um dia, daquele ambiente que foi palco de algumas histórias da galera.Eram 2 horas da manhã e o resto do pessoal tinha ido embora.





Uma lágrima corre pelo rosto do Matias.Os homens já tem essa mania de não chorar.Chorar na frente de um amigo então, pior.Mas eu e o Matias já choramos juntos, e acho que ele não ficou constrangido com aquela lágrima:





-Eu não sei Dé...As festas,loucuras e pessoas que passaram por aqui...Não é tudo sabe...Existe mais por trás.





Eu sabia em parte, sim.Sabia por que sentia algo parecido.Toda a baderna que nós fizemos no albergue,era apenas uma parte.Penso assim porque, quando olho pra trás, são os pequenos momentos que me marcaram.As conversas, as risadas, os almoços de sequela num domingo de sol.Filmes,música, violão entre amigos.





O albergue, pra quem não sabe, é a casa do Matias onde sempre nos encontramos no final de semana.Muita gente já passou por lá, só pra tomar uma cerveja.Outros foram muitas vezes.Outros, estavam sempre lá.Eu sou um deles.





Ontem, sentado com ele, tomando a última cerveja, foi um desses momentos que marcam.Legal que ele tenha acontecido.Legal porque era, provavelmente uma despedida.Algumas horas antes, o velho do Matias, ligou dizendo que conseguiu vender a casa.Venderam o albergue pessoal.Que pena.





Eu e o Matias ficamos por ali mesmo.Perdi a noção do tempo.Ficamos apenas lembrando e comentando sobre tudo que conseguíamos recordar.Era bastante coisa e eu não tinha me dado conta.O albergue viu muitas coisas.





Eu sei que não foi a última noite.Teremos alguns finais de semana a acabaremos indo lá.Mas não será tão real.Acendi um cigarro:



-Matias...tu te ligou que agente ja conversou pra caralho aqui.Nós dois.trocando idéia sobre a vida...e tamo aqui de novo.Provavelmente pela última vez.





Silêncio.Tempo suficiente pra mim terminar o cigarro.Nenhuma palavra.Acho que nós dois estávamos pensando sobre isso.Lembrando, imaginando, não sei.Olhei mais uma vez e decidi ir embora.Levantei da mesa e o Matias me acompanhou até o portão.



-Falow Mati.É isso aí cabeça.fica firme!

-Falow meu bruxo....nos falamos...



Botei as mãos no bolso e fui.O Matias puxou a gaita e começou a tocar.Que viagem.Parecia o final de um filme,com trilha sonora e um fim melancólico.Uns 50 metros depois,eu ainda podia ouvir a gaita.Me virei.Vi o Mati escorado na parede, tocando.Olhei pro albergue.Espero que as pessoas que compraram façam daquele lugar também um palco de boas histórias.Que eles consolidem amizades, se divirtam e aproveitem a vida como a galera fez.





Ergui o braço em direção ao Matias.Dei um sorriso, ele sorriu e continuou tocando.Que sensação.É difícil descrever.Uma paz interior.Eu estava triste com tudo mas parecia não importar.Temos amizades muito fodas que nasceram ou fortaleceram lá.Usaremos outro lugar de palco para fazer nossa história.Dei meia volta.Uma lágrima caiu dessa vez pelo meu rosto também.Enxuguei ela e sussurrei:

















-Adeus, Albergue

sexta-feira, outubro 19, 2007

...

Depois de 55 minutos tentando bolar algo legal e engraçado para escrever e sair um pouco da rotina dos textos deprimentes que eu vinha escrevendo, POR ESTA NOITE EU DESISTO. Tinha começado 4 textos já, mas teve um FEELING necessário pra fica uma coisa legal. Tava ficando um texto forçado, muito manjado. E isso definitivamente eu não quero para o blog, ainda mais com o nível dos posts que dream is destine vinha postando. Agora preciso manter o nível, no mínimo. Enfim, " pessoas inspiradas podem fazer a diferença" e hoje, com certeza, não é o meu dia....

nikieseuboné.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Copo vazio, vida vazia

Na mão direita, ele girava um copo de scotch vazio.Na direita, segurava um cigarro queimando sozinho.Seu olhar distante, era comparável com o vazio daquele copo.Acho que assim era sua vida.Vazia.

Eu trabalhava há tempo demais neste lugar quando aquele cara começou a sentar na mesa do fundo.Faziam uns 4 anos que ele parava por ali.Tempo suficiente pra mim ficar curioso e descobrir quem diabos era ele.Danton Viegas.Era assim que ele assinava seus quadros, como um que eu tinha lá em casa.Não sabia o nome verdadeiro dele, mas sabia que ele era o pintor daquele quadro.

HÁ quatro anos, ele passou a sentar ali porque esperava por uma mulher que o deixou.Sentava e olhava nesse horizonte distante, esperando que um dia ela fosse aparecer, e dizer que a espera havia terminado.Os primeiros meses foram cafés e cigarros.Depois ele passou para as doses de whisky.Parece que antes ele fazia arquitetura.Acabou largando e começou a pintar.De alguma maneira as pessoas gostaram dos quadros.Ele vendia um a cada mês e aquilo sustentava seu aluguel,comida, cigarros e a conta do bar.Era o suficiente.

Eu ficava intrigado com aquelas cenas diárias.Eram algumas horas que pareciam ser as horas mais agoniantes e incertas que alguém podia passar.Num lugar bem distante, ele ainda tinha esperanças, mas ficava sentado lá,olhando e girando seu copo vazio.Vazio como o seu olhar.

Achei que talvez seria legal tentar falar com ele.As pessoas já estavam acostumadas com aquela mesa e aquele cara.Mas ele simplesmente pareceu virar um objeto inanimado ali.As pessoas passavam,olhavam e seguiam em frente:

- Fala cara...Olha só, eu tenho um quadro teu!Queria dizer que admiro muito a tua arte.
- Porra, legal.Paga uma dose de whisky então.Mas acho que tu não devia ter gastado tua grana com alguma coisa que eu tenha pintado.

Tirei meu avental.Olhei pro chefe e disse que estava fora."Chega de trabalhar nesse bar".Peguei uma garrafa de Jack Daniels e disse pra ele descontar dos meus direitos.Peguei um copo e me sentei com ele.

-Olha só o cara.Parece não ter muito gosto pra arte, mas aprecia um bom whisky.

Ele disse isso.Serviu uma dose,tomou, serviu meu copo e voltou a se servir.Fiquei olhando pra ele.Por trás das olheiras, da barba e do cabelo despenteado ele parecia ter uma aparência legal.Mas tinha esse olhar.Um olhar que me lembrava alguma coisa.Acho que era o quadro.O quadro tinha aquela solidão também.Uma vez eu li algo sobre Danton Viegas.Um jornalista pediu quem ou quais eram as inspirações de sua obra.Ele disse que a única coisa que lhe inspirava era sua solidão.Foi a partir dela que ele começou a pintar.Foi a partir dela que ele começou a viver de forma boêmia.

-Porque tu fica sentado aqui cara?
-Eu fico sentado aqui, pela mesma razão que tu acredita em deus ou qualquer outra merda dessas.Eu acredito em algo.E fico sentado aqui da mesma forma que tu fica sentado no banco da igreja, rezando por algo que talvez nem exista.
-É...mas pelo que eu sei, tu acredita em algo concreto, em algo que você pode fazer algo pra mudar...Uma vez eu vi essa frase em algum lugar..."a melhor maneira de realizar um sonho, é acordando".

Danton Viegas esvaziou o copo.Tornou a se servir e ficou me olhando, reflexivo.Acendeu um cigarro:

-Sabe cara...É estranho tu me falar algo assim.Eu também vi esses dias, em algum lugar, um cara que falava que as pessoas são sonambulas quando estão acordadas, e estão despertas quando estão dormindo.Talvez eu apenas esteja sonhando, só não sei se estou dormindo ou acordado.
-Pode ser...pode ser.

Ficamos ali.Olhando um para a cara do outro.Eu tentava entender mais uma vez alguma coisa nele que me era familiar.Não só o olhar,mas as idéias e as expressões.Vi uma sombra se aproximando e logo me virei.Era o dono do bar.Meu "antigo não tão antigo" chefe.Ele era um cara legal e talvez eu tenha sido impulsivo demais.Mas ele tinha uma personalidade bondosa e me olhava naquele momento com um certo carisma.Ou pena...não sei.Tirou o charuto da boca e disse:

-Ei...Acho que tu precisa ir pra casa...E pode voltar amanha.Não precisa pedir demissão só pra ficar uma tarde bebendo whisky e falando sozinho.

Olhei para a frente e fiquei um bom tempo mirando meu reflexo na parede espelhada.Danton Viegas não estava mais ali.Acendi um cigarro e na mão direita girava o copo vazio de whisky.Um vazio que me lembrou este que eu sentia naquele momento.

Não sabia mais quem eu era.Um pintor boêmio ou um garçom de bar.Talvez fosse os dois, ou nenhum deles.Uma voz sussurrou em meu ouvido:

-Ei rapaz...acorde...tá na hora de realizar seus sonhos...

Me levantei da mesa e fui em direção à porta.Olhei para trás.Danton Viegas e o garçom estavam lá, terminando a garrafa de whisky.Pensei em me juntar a eles, pois parecia o mais fácil.Mudei de idéia.Deixei os dois falando sobre sonhos não realizados, acordei e fui realizar o meu.

BY dream is destine

sábado, outubro 13, 2007

Palavras alegres, de uma Porto Alegre muito alegre

As palavras perdem o sentido e se transformam em contextos diferentes e com pessoas diferentes.Cumprindo a promessa, para Matias e Artur, os únicos que entenderão (em parte) essas palavras tiradas de um caderno rabiscado.

A mesa.Do lado esquerdo, um copo suado de cerveja.Do lado direito, um cigarro e uma lata de skol vazia servindo de cinzeiro.

Porto Alegre muito alegre.Chuva fina caindo, mas num pedaço que eu via do Rio Guaíba, uma esperança de sol no horizonte.Carne assando no forno.Dois malucos na cozinha e um outro rabiscando um caderno.Porto Alegre,rio de loucura, chuva fina.
A gaita hering.Um violão Di giorgio desafinado.Notas que combinam e um prato quente com arroz,carne,cebola e batata assada.Porto Alegre, rio de loucura, 3 caras com milhares de idéias e momentos.

O menino do esqueceram de mim explodia a bunda gorda do bandido pela terceira vez.

Palavras alegres.Veio o sol e se foi a chuva.Uma brisa leve, e 4 caras num apartamento.O vizinho tinha chegado.Um apartamento entre centenas.4 pessoas entre outras milhares.A gaita toca mais uma vez como a trilha sonora de um momento louco de um filme.

A comida estava boa e a loucura de escrever num caderno também.Porto Alegre muito alegre.Cerveja,tabaco e um rato gordo atravessando a madrugada

BY dream is destine

segunda-feira, outubro 08, 2007

Sábado,dia de casamento

Já faziam uns 4 meses que nós fomos convidados.Toda a família.A Carol ia se casar.Eu lembrava da Carol e ela provavelmente se lembrava de mim como o filho do pastor,irmão da Cláudia ou uma mala que as vezes alguém trazia na casa dela.Os pais de Carol e meus pais eram amigos, o irmão da Carol era apaixonado pela minha irmã e depois que nos mudamos de Novo Hamburgo nunca mais vi essas pessoas na vida.Acho que fazem uns sete anos.Um bom tempo.


Nesse último final de semana chegou o dia do casório.Saí mais cedo do trabalho.Coloquei meu terno que por sorte não tinha mofado ainda.Me olhei no espelho."hum.Até que tu não tá tão mal",pensei.Hora de ir.No caminho,Grêmio tomando um sufoco do Palmeiras e a gravata me sufocando o pescoço.Não estava mais acostumado a usar gravata e muito menos escutar jogo no rádio.Agoniante.



Pegamos minha irmã e fomos na igreja antiga onde meu pai era pastor.Era uma comunidade onde tinha a casa do pastor.alguns prédios para eventos e a casa do zelador da paróquia que foi nosso vizinho todos aqueles anos.As filhas dele,principalmente a Fê, era grande amiga da minha irmã e vivia dizendo que quando eu crescesse ela ia se casar comigo.Saudades dela.



Meu pai estacionou.Descemos do carro e eu disse:

-Cara...vou ficar por aqui um tempo....

-Tudo bem,mas não demora que temos que ir as 7:30 pro casamento.

-Beleza...

Fiquei olhando tudo por um tempo.Tateei os bolsos e não encontrei meu cigarro.Não tinha problema.Uma noite sem cigarro não me mataria.Me indignei.São uns filhos da puta.O mato onde eu me escondia e fazia uma casa, o gramado onde eu jogava bola quase todo santo dia, e a árvore de bergamota que eu passava a tarde toda sentado comendo,tudo sumiu.O estacionamento "tinha" que ser aumentado e agora só se via asfalto e carros.



Percebi um sorriso no rosto.Aquele lugar mudou e eu também.Senti uma saudade gostosa daquele tempo.Quando somos crianças,queremos crescer logo.Quando crescemos, queremos voltar a ser criança.Que ingratos somos não? Dei uma última olhada.Abracei a única árvore que tinha sobrado.Brinquei com o vira-lata do vizinho que devia ter uns 15 anos.Dei um adeus pro lugar que ele era e me contentei com o que ele é agora.É estranha a sensação que dá quando você tem ótimas recordações(principalmente de infância) de um lugar e quando volta um dia ele está mudado.Parece que as recordações se tornam mais distantes e vagas.Fiz a volta e entrei na casa do antigo vizinho.



Tio João e a Tia Gessi.Sempre chamei assim e ia continuar chamando.Já estava preparado para o "nossa..esse é o dézinho? eu não acredito".Eu provavelmente escutaria isso a noite toda no casamento.Foi bom ver eles.Tomei um chima e contei como andava minha vida.A Fê não estava mas ela tem namorado.Meu casamento foi pro brejo.



Hora de ir.Despedida rápida "Foi ótimo ver vocês, temos que nos encontrar de novo, boa noite e boa sorte".O pastor estava quase atrasado.Mas isso nunca é problema.Quando chegamos lá, a noiva também estava.Minha irmã chegou a comentar que quando fosse casar também se atrasaria.Me perguntei porque as mulheres acham algo bom em se atrasar no casamento.Não encontrei nenhuma resposta coerente.



Muitos rostos conhecidos.Para mim, pelo menos.Eu saí de lá quando tinha 12 anos, e minha mudança física deve ter sido mais radical para a galera que era principalmente da idade da minha irmã ou pessoas muito mais velhas.Conhecia todos mas ninguém me reconhecia.Acho muito estranho chegar em alguém e dizer: "oi.é o andré,irmão da clau,filho do pastor".Não teve problema.Depois de fazer o casamento, meu pai saiu me exibindo pra todos e ouvi por mais uma hora as mesmas coisas e falei as mesmas coisas."É, faço faculdade de psicologia e trabalho.""Sim to gostando muito do curso".Essas coisas.



Hora de se sentar e aguardar os noivos.Pedi um whisky.Essa era uma boa vantagem de casamentos.Jack Daniels a vontade.Sentei do lado da minha irmã e duma amiga da minha irmã.Eu já fui meio apaixonado por ela quando tinha uns 9,10 anos.Ela continuava linda.Mas não fazia meu tipo e eu também provavelmente não fazia o dela.Conversamos o básico.Minha irmã começou a falar que logo também se casaria.E que eu seria o padrinho e minha namorada atual seria a madrinha.Namorada? Pensei numa pessoa e virei o copo de whisky pra afastar o pensamento.Nada de mulheres.Chamei o garçom que já tinha um copo de whisky na bandeja e acabou deixando por ali mesmo.Beleza.Quando chamei a terceira dose meu velho olhava meio feio.Fiz uma cara de "relaxa" e pedi uma água junto.Pra ficar mais suave.

Hora do rango.Levantei e dei aquela tonteada básica.Gosto da loucura do whisky.Uma sensação boa,tirando que teu ego triplica e você se sente o dono do mundo.O buffet era uma maravilha.Paulinho Pilatti.Que beleza.Pensei até como seria valiosa a minha cagada depois de comer tanto salmão,camarão e essas comidas finas.Me servi dois pratos.Depois pedi uma cerveja.Meu velho já estava entretido no papo com os velhos amigos e não deu mais bola.Papeei com minha irmã um bom tempo.Percebi como nós nos afastamos ultimamente e decidi que iria tentar dar mais valor a essas coisas.

Meu pai começou a falar em ir embora e eu fui dar uma banda.Encontrei uma mina gostosa que eu tinha ficado.Meu segundo beijo.Ela me deu oi e um beijinho bem do lado da boca.Ignorei porque ela não fazia meu estilo.Conversei com ela por um tempo e vi que tinha que sair dali.Dei a idéia pro velho e ele concordou.Tchau para os noivos,desejos de felicidade e tudo de bom pra vida do casal.Entramos no carro e seguimos para Nova Petrópolis.

Eu sonhava com um elefante verde dançando ao som da flauta de um chinês de 1 metro e 50 quando acordei com meu próprio ronco.Minha mãe riu da minha cara.Olhei o relógio.Alguns minutos passados da meia noite.Nós já estávamos na Picada.Dane-se! Hoje é sábado.Liguei pro Êdo e o Bicudo atendeu:
- Eai seu Artur.Onde vocês tão?
-Baaaaaah meu! dando uma banda! e tu?
-Chegando daquele casório que te falei.Se encontramo no posto?
-Certo!
-Então tá!
Desliguei o celular e meu velho me olhou feio de novo.
-Tu não vai pra casa ainda?
-Não.Vo da uma banda com os guri.
-Tu que sabe.Só não bebe mais muito.
-Tranquilo pai....
Cochilei mais um pouco.A semana foi violenta e eu merecia mais alguns dez minutos de sono.Acordei quando meu pai parou no posto.A galera não tinha chegado ainda.Desci do carro de terno mesmo.Comprei uma ceva e um cigarro.A noite que a princípio tinha terminado estava só começando.Tomei um gole da gelada e acendi um lucky strike.Percebi que ainda estava muito bêbado.Me sentei e fiquei esperando o Bicudo e o Êdo chegar.Continua....

BY dream is destine