HiSTóRiAs De Um BêBaDo QuE fOi PaRaR nUm LuGaR lOuCo
- hey cara. não se esqueça. enquanto o lambari morde a isca, o cavalo assume sua homosexualidade...
Fiquei tentando entender aquilo que o cara me disse. Na verdade, eu estava ainda tentando entender como eu tinha ido parar naquele lugar louco.
Estava em minha casa. Naquele dia, havia comprado uma boa garrafa de vinho, 2 charutos e uma carteira de cigarros Camel. O dia seguinte, seria mais um daqueles em que eu poderia ficar sentado, não fazendo nada.
Alguém bateu em minha porta. Eu estava pelado. Levantei da poltrona, botei o charuto no cinzero, vesti uma calça, e abri a porta.
- ôpa. Pedro né?
- na verdade não, o Pedro se mudou daqui ontem.
- bem, que seja. viemos convidar ele para uma festa, mas se você quiser ir...
-tudo bem, espere um minuto...
A garrafa de vinho já tinha acabado. O charuto eu podia fumar depois, e ainda não havia fumado nenhum Camel. O que tinha a perder? Vesti uma camiseta engraçada que tinha ganhado de um amigo, e saí.
- bonita camisa, Pedro...
- valeu cara, mas meu nome é Tadeu.
- a é mesmo. o Pedro se mudou ontem...
Aquele cara, era realmente peculiar. Não sei se qualquer um aceitaria ir a uma festa com um cara como esse. Ele usava uma calça de couro, um all star, e uma camisa florida. Mesmo parecendo ser jovem, já tinha uma bela duma careca, e os dentes encardidos.
Além disso, falava coisas muito estranhas. "nós viemos te buscar" "nós estávamos indo para outra festa". Usava o pronome "nós", como se tivesse sempre com uma outra pessoa. Ainda, ficava me chamando as vezes de Pedro, e as vezes de Tadeu.
- Tadeu. vamos entrar nesse bar e tomar uma cerveja. Nós estamos com sede.
Apesar de tudo, gostei dele. O cara estava sempre tomando alguma coisa, fumando um cigarro e falando coisas engraçadas. E fez a gentileza de pagar a cerveja, ainda.
Tomamos aquela cerveja em completo silêncio. E eu não me importei. Acho que existem momentos na vida de uma pessoa, que mesmo ela tendo companhia, precisa ficar em silêncio. E a maioria das pessoas, fica constrangida com esse vazio, mais livre e puro do que qualquer outro momento.
Dei o último gole da cerveja, acendi um Camel, e perguntei:
- mas eaí cara. qual o seu nome?
- é Lucas. mas as vezes me chamam de Ângelo.
- posso te chamar de Lucas?
- claro.
Lucas levantou, e pegou mais uma cerveja com o velho do bar. Era um boteco, dos clássicos, com ovos de codorna em conserva, e cachaça pra todo o lado.
- e essa festa, velho. é onde?
- na casa do nosso irmão. ele tá chegando da Rússia. estamos fazendo uma recepção pra ele.
Deve ser legal viajar pra Rússia. O irmão de Lucas deveria ter boas histórias. Achei que poderia ser um bom lugar para ir. Tomamos a cerveja e falamos apenas no necessário. Já nem dava bola, pra saber quem era o outro cara, que parecia estar com ele. Levantamos, e fomos pra casa do irmão dele.
Gosto de caminhar pelas ruas de Porto Alegre, no meio da noite. A maioria tem medo, mas logo entramos na rua dos Andradas, e ali para mim, é absolutamente seguro. Passamos a Casa de Cultura, e uns metros depois, entramos num prédio verde, do outro lado da rua.
- putz, é um apartamento. não dá problema fazer uma festa aí?
- que nada! nosso irmão é o síndico.
- Que beleza!
Subimos rindo, o longo trajeto do elevador. Era uma boa idéia se tornar síndico, e ficar aloprando no apartamento. Eles moravam no 11º, o último andar do prédio. Saltei para o corredor, e havia muito barulho por ali. As pessoas conversavam muito alto, e ouviam Jethro Tull a todo volume.
Lucas entrou primeiro, e eu o segui. O apartamento era minúsculo, mas devia ter umas 20 pessoas ali. Todas aglomeradas, deitadas, de perna pra cima, de perna pro lado, fumando cigarros e bebendo vodka.
- Lucas!!!! Cara, que saudade. Trouxe umas vodkas e uns cigarros russos pra comemorarmos.
- que beleza, mano. eu trouxe um amigo do Pedro, o Tadeu, porquê o Pedro se mudou ontem, do apartamento deles.
- tranquilo. E aí Tadeu, te serve de vodka. Pega uns cigarros, e curte aí. Se quiser trocar o disco, o aparelho ta na pia da cozinha.
- valeu cara. boas vindas ao brasil...
- obrigado, rapaz!
Duas pessoas estavam na cozinha, mas ainda havia espaço para mim. Fiquei num canto, olhando os discos, e fumando um cigarro. Apesar de não gostar de vodka, servi um copo cheio. Mas porra, era vodka da Rússia, e só de saber isso o gosto já parecia melhor. Sobre os cigarros, ouvi dizer que são fortes pra caralho, então fiquei com os meus.
O irmão do Lucas, tinha bons discos. Led Zeppelin, Cascavelletes, TNT, Bob Dylan, ABBA... Mas o dia estava bom para escutar Jethro Tull, então só aumentei mais um pouco o volume. Até lembrei do dia, em que fiquei sabendo, que fazia pouco tempo que eles fizeram um show em Porto Alegre, e fiquei puto da cara por não ter sido informado.
Na outra parte do apartamento ( só havia uma sala/quarto, a cozinha e o banheiro), Lucas dormia num canto, e o irmão dele tentava nos ensinar os palavrões que aprendeu em russo. Dávamos risada cada vez que ele dizia um novo, e ficava repetindo, nos xingando naquela língua divertida. É incrível como a primeira coisa que aprendemos em outra língua, são os palavrões. Parece até que vai ser útil na hora de pedir um café ou uma cerveja, em algum bar, ficar chamando o garçom de tudo que é coisa.
Acabei tomando uns cinco copos de vodka, fiquei completamente bêbado, e estava na hora de voltar pra casa, fumar aquele charuto, e dormir. Ainda troquei uma boa idéia com o irmão do Lucas/Ângelo.
- Tadeu, sabe, ele é meio esquizofrênico.
- o Lucas? como assim, meio esquizofrênico?
- é, é o que os médicos dizem. mas sei lá, pra minha família não muda nada. ele tem uma loja de discos, vende bem, tem a vida dele numa boa. só digo isso pras pessoas saberem, que as vezes ele pode ser meio, imprevisível, digamos.
- tranqüilo. eu achei ele um cara bem legal.
Fumei o último cigarro, me despedi do pessoal. Até acordei o Lucas, que disse o seguinte:
- um abraço, Pedro. hey cara. não se esqueça. enquanto o lambari morde a isca, o cavalo assume sua homosexualidade...
- ok. até mais.
Fui embora sorrindo. Aquele apartamento era um lugar louco, e agradável. Fiquei feliz com o que o irmão do Lucas me disse. Nunca entendi, porque as pessoas que tem alguma "doença mental", ou um parafuso solto, são vistas com outros olhos. Para mim, são pessoas interessantes, inteligentes, e que têm sentimentos de verdade. Já nem sei mais o que é realmente a loucura. E o pior, é que todos tem medo, pavor, e até ódio, dessa "imprevisibilidade" que uma pessoa pode causar. Mas afinal, que graça teria a vida sem esse tipo de coisa?
Fiquei tentando entender aquilo que o cara me disse. Na verdade, eu estava ainda tentando entender como eu tinha ido parar naquele lugar louco.
Estava em minha casa. Naquele dia, havia comprado uma boa garrafa de vinho, 2 charutos e uma carteira de cigarros Camel. O dia seguinte, seria mais um daqueles em que eu poderia ficar sentado, não fazendo nada.
Alguém bateu em minha porta. Eu estava pelado. Levantei da poltrona, botei o charuto no cinzero, vesti uma calça, e abri a porta.
- ôpa. Pedro né?
- na verdade não, o Pedro se mudou daqui ontem.
- bem, que seja. viemos convidar ele para uma festa, mas se você quiser ir...
-tudo bem, espere um minuto...
A garrafa de vinho já tinha acabado. O charuto eu podia fumar depois, e ainda não havia fumado nenhum Camel. O que tinha a perder? Vesti uma camiseta engraçada que tinha ganhado de um amigo, e saí.
- bonita camisa, Pedro...
- valeu cara, mas meu nome é Tadeu.
- a é mesmo. o Pedro se mudou ontem...
Aquele cara, era realmente peculiar. Não sei se qualquer um aceitaria ir a uma festa com um cara como esse. Ele usava uma calça de couro, um all star, e uma camisa florida. Mesmo parecendo ser jovem, já tinha uma bela duma careca, e os dentes encardidos.
Além disso, falava coisas muito estranhas. "nós viemos te buscar" "nós estávamos indo para outra festa". Usava o pronome "nós", como se tivesse sempre com uma outra pessoa. Ainda, ficava me chamando as vezes de Pedro, e as vezes de Tadeu.
- Tadeu. vamos entrar nesse bar e tomar uma cerveja. Nós estamos com sede.
Apesar de tudo, gostei dele. O cara estava sempre tomando alguma coisa, fumando um cigarro e falando coisas engraçadas. E fez a gentileza de pagar a cerveja, ainda.
Tomamos aquela cerveja em completo silêncio. E eu não me importei. Acho que existem momentos na vida de uma pessoa, que mesmo ela tendo companhia, precisa ficar em silêncio. E a maioria das pessoas, fica constrangida com esse vazio, mais livre e puro do que qualquer outro momento.
Dei o último gole da cerveja, acendi um Camel, e perguntei:
- mas eaí cara. qual o seu nome?
- é Lucas. mas as vezes me chamam de Ângelo.
- posso te chamar de Lucas?
- claro.
Lucas levantou, e pegou mais uma cerveja com o velho do bar. Era um boteco, dos clássicos, com ovos de codorna em conserva, e cachaça pra todo o lado.
- e essa festa, velho. é onde?
- na casa do nosso irmão. ele tá chegando da Rússia. estamos fazendo uma recepção pra ele.
Deve ser legal viajar pra Rússia. O irmão de Lucas deveria ter boas histórias. Achei que poderia ser um bom lugar para ir. Tomamos a cerveja e falamos apenas no necessário. Já nem dava bola, pra saber quem era o outro cara, que parecia estar com ele. Levantamos, e fomos pra casa do irmão dele.
Gosto de caminhar pelas ruas de Porto Alegre, no meio da noite. A maioria tem medo, mas logo entramos na rua dos Andradas, e ali para mim, é absolutamente seguro. Passamos a Casa de Cultura, e uns metros depois, entramos num prédio verde, do outro lado da rua.
- putz, é um apartamento. não dá problema fazer uma festa aí?
- que nada! nosso irmão é o síndico.
- Que beleza!
Subimos rindo, o longo trajeto do elevador. Era uma boa idéia se tornar síndico, e ficar aloprando no apartamento. Eles moravam no 11º, o último andar do prédio. Saltei para o corredor, e havia muito barulho por ali. As pessoas conversavam muito alto, e ouviam Jethro Tull a todo volume.
Lucas entrou primeiro, e eu o segui. O apartamento era minúsculo, mas devia ter umas 20 pessoas ali. Todas aglomeradas, deitadas, de perna pra cima, de perna pro lado, fumando cigarros e bebendo vodka.
- Lucas!!!! Cara, que saudade. Trouxe umas vodkas e uns cigarros russos pra comemorarmos.
- que beleza, mano. eu trouxe um amigo do Pedro, o Tadeu, porquê o Pedro se mudou ontem, do apartamento deles.
- tranquilo. E aí Tadeu, te serve de vodka. Pega uns cigarros, e curte aí. Se quiser trocar o disco, o aparelho ta na pia da cozinha.
- valeu cara. boas vindas ao brasil...
- obrigado, rapaz!
Duas pessoas estavam na cozinha, mas ainda havia espaço para mim. Fiquei num canto, olhando os discos, e fumando um cigarro. Apesar de não gostar de vodka, servi um copo cheio. Mas porra, era vodka da Rússia, e só de saber isso o gosto já parecia melhor. Sobre os cigarros, ouvi dizer que são fortes pra caralho, então fiquei com os meus.
O irmão do Lucas, tinha bons discos. Led Zeppelin, Cascavelletes, TNT, Bob Dylan, ABBA... Mas o dia estava bom para escutar Jethro Tull, então só aumentei mais um pouco o volume. Até lembrei do dia, em que fiquei sabendo, que fazia pouco tempo que eles fizeram um show em Porto Alegre, e fiquei puto da cara por não ter sido informado.
Na outra parte do apartamento ( só havia uma sala/quarto, a cozinha e o banheiro), Lucas dormia num canto, e o irmão dele tentava nos ensinar os palavrões que aprendeu em russo. Dávamos risada cada vez que ele dizia um novo, e ficava repetindo, nos xingando naquela língua divertida. É incrível como a primeira coisa que aprendemos em outra língua, são os palavrões. Parece até que vai ser útil na hora de pedir um café ou uma cerveja, em algum bar, ficar chamando o garçom de tudo que é coisa.
Acabei tomando uns cinco copos de vodka, fiquei completamente bêbado, e estava na hora de voltar pra casa, fumar aquele charuto, e dormir. Ainda troquei uma boa idéia com o irmão do Lucas/Ângelo.
- Tadeu, sabe, ele é meio esquizofrênico.
- o Lucas? como assim, meio esquizofrênico?
- é, é o que os médicos dizem. mas sei lá, pra minha família não muda nada. ele tem uma loja de discos, vende bem, tem a vida dele numa boa. só digo isso pras pessoas saberem, que as vezes ele pode ser meio, imprevisível, digamos.
- tranqüilo. eu achei ele um cara bem legal.
Fumei o último cigarro, me despedi do pessoal. Até acordei o Lucas, que disse o seguinte:
- um abraço, Pedro. hey cara. não se esqueça. enquanto o lambari morde a isca, o cavalo assume sua homosexualidade...
- ok. até mais.
Fui embora sorrindo. Aquele apartamento era um lugar louco, e agradável. Fiquei feliz com o que o irmão do Lucas me disse. Nunca entendi, porque as pessoas que tem alguma "doença mental", ou um parafuso solto, são vistas com outros olhos. Para mim, são pessoas interessantes, inteligentes, e que têm sentimentos de verdade. Já nem sei mais o que é realmente a loucura. E o pior, é que todos tem medo, pavor, e até ódio, dessa "imprevisibilidade" que uma pessoa pode causar. Mas afinal, que graça teria a vida sem esse tipo de coisa?