sábado, janeiro 31, 2009

A ponte sobre o Arroio da Curva Triste

Na BR101, alguns kilômetros depois da praia de Garopaba - SC, havia esta ponte. A ponte sobre o arroio da curva triste. O nome chamou-lhe a atenção. Achou um acostamento em seguida e parou o carro. Um velho chevette 83. Desceu o barranco que dava acesso ao rio, e acendeu um cigarro.

A água seguia lentamente seu curso. Um caminho que àquelas águas trilhavam desde sempre. Observou a paisagem à sua volta, e por alguns instantes, o som incessante dos carros que passavam ali perto desapareceu por completo. Lá estava toda a tristeza que ele conhecia. Carregada pelas águas. Todos os dias. Todos os meses.

O silêncio pode ser perturbador às vezes. Principalmente quando se está acostumado ao ritmo frenético da vida urbana. Quando não haviam carros, pessoas ou música, o silêncio o assustava. Parecia levar embora uma sensação de segurança, e trazer à tona esses sentimentos de tristeza que ele experimentava agora.

Mas ele sempre acreditou que um homem sem tristezas, é um homem vazio. Mesmo que as vezes pareça o contrário. Homens sem tristezas não viveram. Não sabem o que é perder, para poder valorizar a vitória.

Fumou mais alguns cigarros, subiu com esforço o barranco, e entrou no carro. Voltou ao mundo normal. O mundo cheio de sons que não nos deixam pensar.


Dirigiu até Porto Alegre e não se lembrava muito bem da viagem depois de ter parado na ponte. Jogou a mochila no sofá. Pegou uma roupa limpa no armário. Ligou para alguns amigos e saiu para dar uma volta.

As coisas estavam em seus lugares. As pessoas continuavam as mesmas. Nada de velho nem nada de novo. Tudo bem. Hoje em dia temos que nos acostumar com o fato de que o mundo anda bastante previsível. Entrou no bar que normalmente se encontrava com os amigos. João estava lá. Sentou-se com ele e pediu um copo.

- Que saudade de uma Polar! Difícil encontrar pelas bandas de Santa Catarina.

- Tô sabendo! Eai meu guri, como andas? Como estava a praia?

- Boa cara, muito boa. Revi alguns amigos. Andei bastante. Muito bom. E por aqui?

- Na mesma.

- É. Percebi.

Conversaram e beberam. No mês de janeiro, o fim dos dias quentes é bastante propício para tomar uma cerveja, ainda no ritmo das férias. Beberam bastante.

- Pensei sobre minha vida num lugar chamado "Ponte sobre o arroio da curva triste".

- Belo nome.

- Por isso que parei ali.

- E aí? Tirou alguma conclusão.

- Não. Não que eu saiba, pelo menos.

- Bem, você parece mais tranquilo.

- Pode ser que as águas do arroio levaram um pouco da minha tristeza.

- Pode ser. Quem sabe?


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terça-feira, janeiro 06, 2009

Um post para descontrair, e para mostrar que ainda estou vivo...

Estava ouvindo uma rádio. Um homem com uma voz forte, falava de uma maneira intensa. Era impossível não sentir prazer em ouvir aquele discurso. Não porque talvez fosse verdade tudo aquilo que o homem dizia. Mas parecia sincero:

"O que eu sou? O quê? Sou um mentiroso. Um tremendo filho da puta, enchendo vocês de palavrões, porque é o que vocês querem ouvir. Dizem que eu sou bom por isso. Que é uma espécie de dom, esse de SER polêmico. Atrair confusão, mexer na ferida.

Cambada de ratos!!! Você é um rato!

Escutando essa rádio, essa propaganda, esse mentiroso que sou. Ratos! Porcos imundos!"


Troquei a rádio e dessa vez tocava uma boa música do The Doors: LA Woman. Quando escuto essa música, imagino uma dessas mulheres que caras como Bukowski encontravam nos bares. Apenas anjos perdidos na cidade da noite. Ou moças de sorte. Que seja!:

L.A. Woman. Sunday afternoon.
Drive thru your suburbs
Into your blues.
Into your blues.
Yeah, yeah.
Into your blues.
Into your blues.Oh!
O rádio é sempre uma boa companhia. As vezes ele te prende por alguns minutos, mas depois passa a ser apenas um som à mais. A música passa a fazer parte do ambiente, entrando em sintonia com as paredes, com as cores, com os pensamentos. Um equilíbrio dinâmico.
Aquela noite estava agradável para fumar e tomar uma cerveja. Lembrei de uma Heinecken na geladeira, e aí a coisa ficou boa. Fora de casa, não estava nem quente nem frio. Uma neblina parecia surgir, e aquele clima deixou a fumaça do cigarro densa. Gosto disso. Parece que tem mais graça fumar assim. Já tentaram fumar de olhos fechados? É um saco. "ver a fumaça!" é que parece legal.
Creio que vida às vezes dá um tempo.Um tempo necessário. Tudo fica num ritmo um pouco mais lento, e acho que o certo é se dar ao luxo de certas coisas. Como tirar uma noite apenas para ouvir uma rádio, tomar cerveja e fumar. Apenas isso. Não ter um emprego pode ser um saco. Mas é bom tirar algum proveito ao menos. Ocupar todo o tempo livre apenas pensando que você não tem um emprego, é quase o mesmo que trabalhar. E você nem ganha pra isso!
Ah!, e se alguém está pensando sobre a reforma ortográfica, creio que da nossa parte ( eu + nikiseubone), não haverá nenhuma sensibilização com essas mudanças. Eu acho isso tudo uma grande roubada. Uma grande perda de tempo. E também não sei quase nada sobre essa reforma. Creio que poucos sabem realmente. Talvez ninguém saiba. Fiquei perplexo quando vi no Jornal Hoje, o nosso querido Professor Pasquale, dizer que ELE estava confuso? Caralho. Nem o Professor Pasquale entendeu essa merda!
Tinha um amigo que dizia que essa coisa de reforma ortográfica, era uma conspiração na qual a ARACRUZ estava envolvida. E que muitos livros teriam que ser reimpressos no novo modelo ortográfico, e a ARACRUZ daria pulos de alegria produzinho suas folhinhas de papel. Cada vez mais e mais. A globo por ser dona da EDITORA GLOBO e de outras editoras, também receberia sua fatia. Interessante. O problema é que simplesmente eu não gostei de escrever IDÉIA sem o acento. Parece sem graça.
Foi uma péssima ideia