A ponte sobre o Arroio da Curva Triste
A água seguia lentamente seu curso. Um caminho que àquelas águas trilhavam desde sempre. Observou a paisagem à sua volta, e por alguns instantes, o som incessante dos carros que passavam ali perto desapareceu por completo. Lá estava toda a tristeza que ele conhecia. Carregada pelas águas. Todos os dias. Todos os meses.
O silêncio pode ser perturbador às vezes. Principalmente quando se está acostumado ao ritmo frenético da vida urbana. Quando não haviam carros, pessoas ou música, o silêncio o assustava. Parecia levar embora uma sensação de segurança, e trazer à tona esses sentimentos de tristeza que ele experimentava agora.
Mas ele sempre acreditou que um homem sem tristezas, é um homem vazio. Mesmo que as vezes pareça o contrário. Homens sem tristezas não viveram. Não sabem o que é perder, para poder valorizar a vitória.
Fumou mais alguns cigarros, subiu com esforço o barranco, e entrou no carro. Voltou ao mundo normal. O mundo cheio de sons que não nos deixam pensar.
Dirigiu até Porto Alegre e não se lembrava muito bem da viagem depois de ter parado na ponte. Jogou a mochila no sofá. Pegou uma roupa limpa no armário. Ligou para alguns amigos e saiu para dar uma volta.
As coisas estavam em seus lugares. As pessoas continuavam as mesmas. Nada de velho nem nada de novo. Tudo bem. Hoje em dia temos que nos acostumar com o fato de que o mundo anda bastante previsível. Entrou no bar que normalmente se encontrava com os amigos. João estava lá. Sentou-se com ele e pediu um copo.
- Que saudade de uma Polar! Difícil encontrar pelas bandas de Santa Catarina.
- Tô sabendo! Eai meu guri, como andas? Como estava a praia?
- Boa cara, muito boa. Revi alguns amigos. Andei bastante. Muito bom. E por aqui?
- Na mesma.
- É. Percebi.
Conversaram e beberam. No mês de janeiro, o fim dos dias quentes é bastante propício para tomar uma cerveja, ainda no ritmo das férias. Beberam bastante.
- Pensei sobre minha vida num lugar chamado "Ponte sobre o arroio da curva triste".
- Belo nome.
- Por isso que parei ali.
- E aí? Tirou alguma conclusão.
- Não. Não que eu saiba, pelo menos.
- Bem, você parece mais tranquilo.
- Pode ser que as águas do arroio levaram um pouco da minha tristeza.
- Pode ser. Quem sabe?
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