quinta-feira, março 26, 2009

trem

Entrou no trem, ali na estação unisinos, para ir até o Mercado em POA. Sentou-se, e abriu um livro. Leu por alguns minutos. Guardou o livro de volta na mochila, pegou um pedaço de papel amassado, e começou a escrever.

Depois de um tempo, levantou-se, e começou a andar pelo vagão, lendo em voz alta, o que tinha acabado de escrever:

eu estou louco.
vocês são fruto da minha imaginação.
todos!
apenas personagens de uma mente inconformada e confusa,
incapaz de ser curada por qualquer ciência da mente.
incontente com essa falta de realidade.
esses prédios,
essas casas,
vocês.
é tudo uma ilusão.
tudo.
como tudo isso pode ser verdade?
vamos!
digam algo, se vocês são realmente reais!
(pausa dramática)
ora,
foi o que pensei.
transformem-se em algo real e concreto.
confrontem minha imaginação.
ou fodam-se tentando.

Depois disso, sentou, e voltou a ler. Após alguns comentários entre os passageiros, o silêncio voltou. Ao menos ninguém riu. Não era pra ser engraçado mesmo! Um outro cara, que estava ali perto, achou aquilo tudo magnífico.

Esse cara, estava lendo uma poesia do velho bukowski, e achou que talvez seria legal ler em voz alta. Ele precisava mostrar que era real. Levantou, e começou a andar pelo vagão, lendo em voz alta:

Os cavalos cavalgam
Como seus longínquos pensamentos
De quem ri com um
Tolo
Bach e a bomba de hidrogênio
E seus longínquos pensamentos
De quem ri como um
Tolo
O sistema bancário
Quebra
Gôndolas em Veneza
E ela com seu seus longínquos pensamentos
De quem ri como um
Tolo
Para você nada é bastante
Ver uma escada antes
(cada passo vendo-te
separadamente)
E por fora
O moleque que entrega jornais vendo
Imortal
Como os carros vão indo embora
Sob o sol
Como inimigos
E você maravilhada
Por que isso é tão complicado
Por ser louco-
Se você ainda não está
Louca
Até que agora
Você nunca “vê” uma
Escada que se pareça com
Uma escada
Ou uma maçaneta que se pareça com
Uma maçaneta
E sons como esses sons
E quando a aranha vem para cima
E olha para você
Finalmente
Você não mais a odeia
Finalmente
Como seus longínquos pensamentos
De quem ri com um
Tolo.

Dessa vez alguns riram, embora ainda não era pra ser engraçado. O silêncio voltou. Os dois leitores trocaram um olhar, e sentiram uma comprensão mútua naquele momento. Trocaram um sorriso, e voltaram às suas leituras.

Por coincidência, desceram juntos na estação Mercado. As pessoas que acompanharam a cena daquele vagão, pareciam evitá-los.

- hey, cara. muito legal o que você escreveu. e o que você fez.

- obrigado. eu gosto de bukowski. e gostei do que você fez também. mas talvez você ainda seja um personagem da minha cabeça. vamos tomar uma cerveja?

- claro. hey, se eu realmente não for real, como é estar conversando com alguém da tua cabeça?

- legal. mas acho que daí vou ter que eu mesmo pagar a ceva.

- é.

segunda-feira, março 23, 2009

coisas

Era uma vez um guri, que passou dois longos anos como estagiário na faculdade que cursava, sempre disseram que seu futuro seria promissor, terceiro melhor aluno do SENAI a nível nacional em mecatrônica. Com 20 anos, sabia o que queria, sabia que gostava do que fazia, mas não sabia o que seria dali pra frente.

Dia 13 de março seu contrato de estagio acabaria e a empresa já tinha dito que não tinha interesse em aumentar a equipe, o que fez com que toda aquela propaganda feita em volta dele, com relação ao seu conhecimento e conquistas se tornasse apenas ilusão. Todos os comentarios feitos que o SENAI tinha 89% de empregabilidade, virara apenas um número, e ele faria parte dos 11% dos desempregados que assolam o país em plena crise mundial.

Dia 13 de março, seu contrato acabaria, dia 14 ele se formaria, sustentaria o grau te Tecnólogo em Automação Industrial e ai? Malas e planos prontos para voltar ao RS, reencontrar seu amigos, seus amores, voltar a vida que ele havia deixado 3 anos atrás. Mas por ironia do destino, ou não, no mesmo dia que ele tenta a sorte enviando o seu Curriculum para apenas uma das duas empresas que ele trabalharia pra continuar morando em Florianópolis, o telefone toca e marcam uma entrevista. Ele desliga o telefone, e seu chefe lhe apresenta uma proposta de emprego para seguir no SENAI, dar aulas e participar dos projetos de Automação que o SENAI faz. Tudo, em menos de 10 minutos.

A proposta da empresa que ele se propos a trabalhar era tentadora, viagens, cursos e mais viagens, contato direto com clientes e um bom salário. Do outro lado, a mesma proposta tentadora do SENAI. Dias e dias pensando, conselhos com amigos, parentes, até o veredicto final. Para o bem geral da nação, diga a todos, que FICO. Com um enorme pesar no coração, e colocando na gaveta os planos das férias em Alagoas, a volta para o RS, os possíveis namoricos e a vida normal de volta.

Dia 13 de março, seu contrato acabaria, dia 14 ele se formaria, sustentaria o grau de Tencólogo em Automação Industrial e dia 16 de março, começa uma vida nova. Efetivo, professor, trabalhando em projetos. Viagens, visita à empresas, novos projetos, robôs, BR101.

Tudo muito rápido, mais cobrança, mais responsabilidade. Tudo em dobro. Pra quem numa sexta-feira 13 era estagiário e na segunda-feira, já era efetivo.

Tenho certeza que se não fossem os amigos, os conselhos, as cervejas e as varias horas de conversa, eu ja teria desistido.Não desisti, pois sei que se amanhã eu for morar na China, na Russia ou na PQP, quando eu voltar, as amizades verdadeiras ainda estarão lá esperando com uma boa e gelada Polar na mão.

sábado, março 14, 2009

É engraçado.

É a segunda sexta-feira seguida, que eu me vejo fumando meu último cigarro, a meia-noite, sem nem ter saído de casa. Apenas observando o movimento. Isso é realmente raro pra mim. Chega a ser engraçado.

Esses dias eu dei risada, quando percebi estar emocionado com um desses filmes de comédia romântica, sabem? Eu normalmente acho esses filmes idiotas, mas estou numa fase estranha.

Meu namoro, pelos motivos complexos que todos os relacionamentos têm(resumindo, levei um pé na bunda!), acabou em janeiro, e eu sou péssimo pra lidar com esse tipo de coisa.

Normalmente, tento lidar da maneira mais superficial possível. Desde janeiro, tenho ficado o máximo do meu tempo com os amigos, bebendo pra esquecer, evitando a mim mesmo. Evito minha consciência, minha solidão.

Acho que isso só piora tudo. Fugir de si mesmo. Grande idiotice! Você só adia algumas coisas, retarda alguns sofrimentos, reprime alguns pensamentos. Sempre defendi a idéia de que uma pessoa para ser saudável mentalmente precisa de um tempo consigo mesma. Todos os dias. Botar os pensamentos no lugar, refletir. A velha introspecção... Mas ultimamente tenho evitado isso. Hipocrisia da minha parte, mea culpa.

Pensei nisso hoje, observando o movimento de sexta-feira e fumando meu cigarro. Fazia tempo que não me sentia tão sóbrio, e com as idéias tão claras na cabeça. Ainda continuo melancólico e ridicularmente triste, mas ao menos me sinto um pouco mais leve.

Quando um namoro acaba por decisão de apenas um lado, o outro lado fica pensando nos erros, nas lacunas que deveriam ter sido preenchidas. O cara até pensa no absurdo de poder voltar no tempo, e reparar algumas coisas. E acaba tentando reparar erros do passado, no presente, até chegar a conclusão de que isso não pode ser feito.

Acho que essa foi a lição de hoje. Demorei 2 meses pra aprendê-la.

Bem, eu queria aproveitar essa vontade que me deu para escrever, e dizer algumas palavras a meu amigo e sócio no blog, nikieseubone. Sei que é um pouco estranho ficar falando sobre meus problemas, e depois fazer uma dedicatória, mas o niki é um cara que sempre me entendeu, e acho que vai entender isso também.

O niki é um grande amigo. Mora longe pra caralho, mas sempre que a gente se vê, reforça a certeza da nossa amizade. Ele me conhece, e eu conheço ele. Acho que isso já é uma grande virtude para uma amizade. Hoje em dia as amizades muitas vezes se baseiam em coisas inúteis. Muitos pensam que a amizade precisa ser algo extremamente complexo, quando na minha opinião deve ser extremamente simples. E é assim que funciona com o niki. Sem frescura, vai dizer meu?

Então, o niki está se formando hoje, e eu não vou poder estar lá. Me sinto extremamente mal por isso, mesmo que o niki entenda, porque eu queria estar lá. Comemorar esse grande passo na vida dele, estar presente nesse momento. Mas o Luio, o Nado e o Gio estarão por lá, representando a galera dos tempos de escola, e isso já é alguma coisa. Pedi pro Luio te dar um abraço por mim hein cara, cobra dele!!!!!

Mas niki, eu queria te desejar muito sucesso cara. Tu já conseguiu um trampo, e pode ter certeza que não vai parar por aí. Conheco tua competência e tua dedicação. Tu merece muita coisa boa.Ah, e lembra daquele post sobre o brinde, que eu escrevi no teu aniversário? Dá uma lida nele de novo.Quando nos encontrarmos, vamos fazer esse brinde novamente, talvez com algumas mudanças, mas sem esquecer algumas coisas que não podem mudar. Eu pago a rodada. Grande abraço pra ti, meu guri.

E eu, como consumi uma xícara de café para escrever esse post, vou ter que reavaliar minha sexta-feira. Estou indo fumar mais um cigarro, e vou ter que fuçar na TV pra ver se acho um filme maluco até vir o sono. Mas hoje, nada de comédia-romântica. Quem sabe amanhã.