quarta-feira, abril 30, 2008

Somos macacos, morrendo ao redor de uma fogueira.
Somos macacos, com armas de fogo e mulheres de plástico
Somos macacos, de terno,gravata e sapato
Somos macacos...




-Hey! O que você está fazendo aqui, falando desses macacos?
-Você é um macaco.





macaco refere-se às espécies de primatas pertencentes ao género Macaca.(wikipedia)

A cauda do macaco-barrigudo é preênsil (google- o quinto link para o resultado de pesquisa de "macaco")

Somos macacos, pulando e implorando por bananas
Somos macacos, votando e mentindo
Somos macacos, livres sem liberdade
Somos macacos







Eu não sou um macaco - Escritor da Zona

quarta-feira, abril 16, 2008

Vodka, bêbados e uma prostituta fedorenta que não aparece na história

Eu estava sentado. Num dia qualquer, e num bar qualquer. Não sei porque, mas tinha impressão que seria uma daquelas noites estranhas. Eu estava no balcão, e em minha frente estavam as seis garrafas de cerveja vazia, um copo de vodka pela metade, e 2 ou 3 livros. Num outro dia, eu não estaria tomando vodka. Na verdade, acho que a vodka pura, é a bebida mais sem propósito que existe. As outras bebidas, tem uma singularidade interessante, é preciso saber apreciar. Mas a vodka, você apenas toma um gole, e sente aquele gosto amargo e sem graça. Conheço 2 tipos que costumam tomar vodka pura. Russos e caras amargurados com a vida. Eu não sou um cara tão amargo, e que eu saiba não tenho nenhuma origem russa. Pedi mais uma dose.



- Ei, só bêbados lêem Bukowski.



Olhei para o cara ao lado. Ele deu um sorriso e apontou para um daqueles livros à minha frente. Ele tomava uma bebida estranha. Tão estranha, que comecei a reformular meu conceito sobre a vodka. Talvez eu estivesse errado.



-Camarada, não estou afim de discutir sobre minhas preferências literárias...



O cara continuou falando e eu não dei bola. Tenho uma habilidade singular. Quando não quero ouvir algo, fico tão desinteressado que as palavras soam apenas como susurros e BLA BLA BLA. Ou o cara parecia estar falando russo ou era o efeito do trago mesmo. Sequei o copo, pedi mais uma dose, peguei os livros e deixei o idiota falando sozinho. Me sentei numa mesinha escura.



Queria apenas pensar na vida, ficar bêbado e ir para casa dormir. Náo é pedir muito.



-Não acho que só os bêbados lêem Bukowski.



Pronto. Outra mala pra encher o saco. Provavelmente é um daqueles inúteis que ficam sentados, ouvindo as conversas dos outros, e depois se intrometem porque não têm nada para fazer ou porque querem arranjar confusão. Senti vontade de quebrar o copo na cabeça dele. Seria desperdício. Tomei a dose de uma só vez. Aí sim, peguei o copo firmemente, e o choquei contra a cabeça do cara. Um barulho estrondoso ecoou no bar. Senti o sangue escorrer em minhas mãos. Era mistura do corte que o vidro fez em minha mão, com o sangue da cabeça daquele idiota. Ele estava esparramado no chão, e as pessoas me olhavam apavoradas. Deixei dinheiro suficiente para a conta, e fui embora. Ninguém falou nada. Eu não estava afim de discutir sobre minhas preferências literárias.



Andei pelas ruas, meio bêbado. Passei por uma prostituta que exalava um cheiro horrível. Não sabia ao certo o que era, e fiquei pensando quanto alguém pagaria por uma foda com ela. Ela tentou me dizer algo mas eu passei reto.



Entrei num bar que parecia muito familiar. Tinha um segurança na entrada. Ele era grande e o rosto lembrava um daqueles cachorros papudos. Não lembro o nome da raça agora...



-Viegas, que prazer ter o senhor por aqui!



Fiquei surpreso. Ele me conhecia. O que explicava a familiaridade do local. E com o entusiasmo que ele me cumprimentou, eu provavelmente gastei muito dinheiro ali, e não fiz nenhuma merda. Isso era bom. Me senti bem estando num lugar amistoso. Saudei o grandalhão e fui para o balcão. Tinha uma moça agradavelmente bela atendendo. Veio em minha direção para que eu fizesse o pedido e ficou espantada.



-Nossa, sua mão está encharcada de sangue!



Olhei para minha mão direita. Tinha um pedaço de vidro cravado nela. Um fio de sangue escorria e pingava no balcão.



-Olhe essa sujeira! Por onde o senhor andou?



-Por aí. Talvez pudéssemos ir até minha casa para você dar uma olhada nisso aqui...



-Diga logo o que vai beber. Eu não o acompanharia até sua casa, nem pagando.



Já tive mais sorte com mulheres. Na verdade, eu nunca deixei de ser um cara bonito. Mas acho que as dificuldades da vida, a bebida e algumas outras coisas, acabaram me tornando um cara estranho. O jeito que eu me vestia, com roupas velhas. E a cara sempre mal-humorada. Que merda de homem eu era. Mas aquilo foi um incentivo. Fazia tempo que eu não arranjava uma mulher sem pagar. Tentei forçar um sorriso, melhorar a expressão.



-Escuta, vamos começar de novo. Tu teria gazes e atadura para fazer um curativo?



-Venha.



Segui a moça. Ela fez sinal para que eu atravessasse o balcão. Passei pela cozinha. O lugar era um lixo, mas eu nunca me importei com isso.Na verdade, eu não confiava era nas pessoas que faziam minha comida. Mas mesmo assim, depois eu pediria algum petisco. "O que será que combina com vodka?", pensei.



-Para sua sorte, nós temos um kit de primeiros socorros, caso alguém resolva se machucar por aqui. Me dê sua mão.



Estendi a mão. Com uma pinça, ela arrancou o vidro. Meu estado de embriaguez já não permitia sentir dor. Deu uma limpada com soro, limpou com algumas gazes e enrolou uma faixa. Ela tinha habilidade para fazer um curativo.



-Você tem habilidade para fazer um curativo.



-Já transei com bêbados como você, que costumam cair e se machucar por aí



Pensei em explicar que não havia sido um tombo de bêbado em alguma janela, mas achei melhor não dizer como fui me machucar. Talvez ela não gostasse de caras que quebram copos na cabeça de pessoas aparentemente inocentes.



Voltamos para o balcão. Eu do lado de fora, ela do lado de dentro. Ficou me olhando de uma maneira provocante. Ela era uma daquelas mulheres difíceis, que algumas vezes dão brechas e espaço para o cara tentar algo, simplesmente pelo prazer de depois dizer um NÃO. Pedi um copo de vodka, e fui sentar numa mesa do fundo. Alguns minutos depois, ela veio.



-Que grosso, pegou a bebida e foi embora. Nem agradeceu pelo curativo.



-Escute moça. Não gosto de rodeios. Quando percebo que não tenho porque perder meu tempo com papo furado, eu não perco. Desculpe-me mas também acho que não sou seu tipo.



Ela me encarou por um tempo e depois sentou.



-Obrigado pelo curativo.



-Sem problemas...



Ficamos bebendo um bom tempo. Parece que o pai dela era o dono do bar, então eu não teria problemas com a conta. Nem com o velho, porque "ele estava viajando no exterior", foi o que ela me disse.Continuei na minha vodka sem propósito. Ela bebia whisky. Gostei daquilo. Parecia ter personalidade.



Lembrei que havia deixado os livros no bar anterior. "Que merda!", pensei. Certamente, por um bom tempo não voltaria lá, e o cara que eu acertei deve ter pego o Bukowski.



As coisas foram se sucedendo de uma maneira estranha. O papo estava legal. Parece que todas as pessoas do bar estavam mais embriagadas do que eu, o que parece difícil. Pedi uma porção de costelas de porco para dois. Se ela comesse junto, provavelmente não cuspiriam na comida, afinal ela era a dona.Sempre fiquei pensando que nesses lugares as pessoas cospem na sua comida.Mas talvez eu esteja errado.



Quando vi, estava tentando enfiar a chave na porta de meu apartamento.Não lembrava como fui parar ali. Tudo estava rodando e parecia uma tarefa difícil. A garota do bar estava atrás de mim, rindo. Os dois riam, e comecei a ouvir os gritos cordiais do vizinho.



-Calem a boca montes de merda! Bêbados inúteis.



Consegui abrir a porta e entramos. Peguei uma garrafa de vinho, mas depois desisti. Não me faria bem aquela mistura toda. Deitamos na cama e as coisas continuavam girando. Falei para ela que eu não estava legal, e cada um acendeu um cigarro para tentar normalizar a situação. Conversamos um pouco. Transamos. Conversamos mais. Transamos de novo.Fumei um cigarro.Ela estava deitada, olhando o apartamento. Olhou para a cabeceira da cama, e viu um livro.



-Ei, você lê Bukowski?



Apaguei o cigarro, deitei e me virei. Nessa noite, só queria ter pensado na vida, tomado um trago e dormir tranquilo em casa. Não era pedir muito. E eu não estava afim de discutir minhas preferências literárias.



By escritor da zona