Viagem longa
mais de 5 horas de tédio, parados numa cidade chamada Papanduva, SC, por problemas no caminhão
Este texto, é o segundo da série Viagem 2008. Você sempre poderá ler os textos anteriores, clicando no link: texto1
Alguns amigos que lêem o blog, já pediram várias vezes:
- Pô, eai André. quanto que tu vai continuar a história da viagem de vocês ?
E eu digo normalmente que será "logo, em breve".
Mas a verdade, é que perdi a conta de quantas vezes me sentei bêbado, são ou em qualquer outro estado de espírito, e não consegui. Escrevia uma frase e apagava, tentava dizer de outra maneira, mudava e no final acabava enchendo o saco. É muito difícil colocar aquela realidade, aquela paisagem, aqueles sentimentos que passavam pela minha cabeça, em um texto qualquer.
Mas uma coisa que percebi, ao longo do caminho, é que era um início fácil demais. Foi uma carona arranjada com antecedência, e a coisa complicaria mesmo quando chegasse a hora de descer o caminhão.
Combinamos logo no início com o Rodrigo, que o destino final seria um lugar chamado Trevão, em MG, perto da divisa com Goiás. A princípio, esse seria o lugar ideal, pois o local está sempre cheio de caminhoneiros, que podem estar indo ou vindo de Belo Horizonte, São Paulo, Goiás, e Mato Grosso do Sul. Eu digo "a princípio", porque esse foi o primeiro erro que cometemos, mas ainda não cheguei nessa parte da história.
Como sempre, acontecem os imprevistos. O primeiro foi bater num Urubu em Vacaria, que demorou demais para levantar o vôo da estrada. Por 10 centímetros ele não bateu no pára-brisa, o que seria desastroso.
Numa cidade chamada Papanduva, em SC, paramos para esticar as pernas, fumar um cigarro, esse tipo de coisa. O Rodrigo notou que tinha um vazeamento de óleo, e enconstou o caminhão numa mecânica que tinha naquele posto.
Para conseguirmos atenção, demorou quase uma hora, e aí passaram a se dedicar no nosso problema. E aquilo demorou. Só podia ser praga dessa tal cidade de nome estranho, ou daquele urubu, porque ficamos mais de 5 horas parados. Primeiro sabiam qual era o problema, depois não era, o caminhão já não ligava mais, e nesse meio tempo eu e o Matias já estávamos exaustos. Precisávamos dum banho. Precisávamos comer.
Um cara teve que ir à cidade, pra chamar um outro cara, que tinha uma ferramenta necessária para terminar o serviço. O cara chegou, com seu instrumento mágico, e finalmente, aquilo tudo acabou. Foi um saco ficar esperando aquilo tudo. Até nos metemos pra ajudar, e eu tinha óleo nas sobrancelhas.
Tomei um bom banho. Rápido mas bom. Era daqueles que você paga e só pode ficar 4 minutos, depois a água desliga. Tudo bem, foi o suficiente.
Eram 11:30 da noite, quando os 3 haviam tomado banho, estavam alimentados, e prontos para embarcar no caminhão. Foi aí que o Rodrigo encontrou um cara. Ele era caminhoneiro e o Rodrigo conhecia ele há um tempo. Foi bastante sorte. Porque o cara ofereceu carona pra um dos dois, e assim nos dividimos. Bom para o Rodrigo, pois além de ter outro caminhão acompanhando, uma carona só não tem como dar multa ou problemas.
O figura era gente boa. Não lembro o nome dele, porque acho que nem fomos apresentados pelo nome. Lembro o Rodrigo dizendo:
- Ó. conheçam esse cara. ele é meio louco. só para terem noção, o apelido dele é Gardenal.
E o cara:
-É isso aí. Prazer, pessoal.
O Matias entrou no caminhão do cara, e descobriu o porquê do apelido. O cara era meio pirado, escutava AC/DC, Metallica e músicas do gênero. Mas era uma figura. Fazíamos as paradas juntos, e eu também fui conhecendo-o, e percebendo isso.
A partir daí, as coisas simplesmente andaram. O azar havia acabado. Por enquanto.
Naquela altura, o Rodrigo já tinha liberado pra fumar no caminhão dele, e eu estava feliz com isso. Um passatempo, pelo menos!!! Fizemos um chimarrão entrando no Paraná, e seguimos.
A viagem tornou-se extremamente cansativa e tediosa depois disso. O Rodrigo e o Gardenal dormiram apenas uma hora e seguiram viagem. Dormi um pouco mais que isso, mas quando o Rodrigo começava a ficar com sono, me acordava pra fazer companhia.
Esse sono, aliado a paisagem monótona de São Paulo, começava a cansar. Os cigarros iam e iam. A bunda tava ficando quadrada.
Lembro dos tempos de estudar história, e aquela coisa da política do café com leite. Foram horas e mais horas de plantações. Café, mandioca, cana, milho, e o caralho a quatro. Esses fazendeiros de SP e MG ainda devem mandar no Brasil. Em Minas Gerais foi assim também, incluindo as plantações de abacaxi, e um delicioso suco natural que tomamos na beira da estrada.
Fizemos a última parada antes de descer no Trevão, e estava anoitecendo de novo. Tomamos aquele banho de 4 minutos de novo. Conhecemos mais alguns caras. Eles ficaram apavorados com nossa idéia. Eu comecei a ficar meio preocupado também. Duas horas dali, nós desembarcaríamos num posto de gasolina, e ADEUS. E eles diziam: "onde vocês vão dormir?", "não sei se vão conseguir carona ali..."
As duas horas se arrastaram e passaram voando ao mesmo tempo. Aquela preocupação de descer do caminhão, me trouxe milhares de sentimentos. As coisas não ficavam bem claras na minha cabeça.
Finalmente chegou a hora. Já eram 10 horas da noite. Nos despedimos do Rodrigo e do Gardenal, e agradecemos imensamente a ajuda que eles nos deram. Agora sim, tínhamos que nos virar.
O gerente do posto, deixou acamparmos num lugar bem sossegado ali no posto mesmo. Tinha um rio que passava atrás, e um telhado onde dava pra deixar a barraca. Ficamos felizes com aquilo. Aquele nervosismo passou e eu estava bem. Armamos a barraca, e fomos averiguar o local. Seria bom começar comemorando, e fomos atrás de cerveja.
A mulher do restaurante do posto, nos lembrou da tal lei que não se pode vender bebidas alcóolicas na beira de rodovias federais.
- hey. eu já trabalhei nesse ramo de restaurante, padaria. e sei que sempre sobra algo. será que não sobrou nada? - o matias disse
A mulher sentiu pena quando descobriu que estávamos acampados ali no posto mesmo, e nos mandou pegar um lanche e um suco no buffet. Ganhamos um pastel de graça. Foi divertido, até ela se dar conta de que antes disso estávamos ali para comprar cerveja, e indagou sobre isso. Senti uma pequena vergonha, mas nos defendi:
- bem. somos de origem alemã. sempre dá pra gastar dinheiro com cerveja.
Baixamos a cabeça e saímos dali. Ainda dava pra esquentar uma sopa. Chamávamos atenção do pessoal do posto. Devia ser engraçado os dois com uma barraca, fazendo sopa, num posto de gasolina.
A gente dava risada. Parecia que tudo estava dando certo, nada nos deteria. Podíamos dormir e amanha começar a pedir carona no dia seguinte. Depois de 2 dias de viagem, quase sem dormir, dentro de um caminhão, um colchonete seria perfeito. O dia seguinte seria perfeito também. Era o que a gente esperava. Era...
Continua